Economia

Entenda o raro choque que ameaça economia global com avanço do coronavírus

De um lado, consumidores relutam em comprar, viajar ou comer fora. De outro, a inflação acelera induzida pela escassez da oferta

Coreia do Sul: aceleração da inflação induzida pela escassez da oferta, ao estilo do que ocorreu na década de 1970, não pode ser descartada, diz professor da Harvard (SeongJoon Cho/Bloomberg)

Coreia do Sul: aceleração da inflação induzida pela escassez da oferta, ao estilo do que ocorreu na década de 1970, não pode ser descartada, diz professor da Harvard (SeongJoon Cho/Bloomberg)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 7 de março de 2020 às 08h00.

Última atualização em 7 de março de 2020 às 08h00.

O coronavírus atinge em cheio a economia global, com a perspectiva de desaceleração por vários meses, e obriga investidores a reprecificar ações e títulos para refletir lucros corporativos mais baixos.

Por um lado, a epidemia afeta a capacidade de produzir mercadorias, já que várias fábricas chinesas permanecem fechadas e trabalhadores ficam em casa. Com a paralisação da produção na China, empresas de outros países ficam sem suprimento para tocar seus próprios negócios.

Esse choque de oferta foi inicialmente visto como um problema de curto prazo, facilmente revertido quando o vírus fosse controlado. Por isso as previsões iniciais de que o crescimento global seguiria uma trajetória em V, com retração no primeiro trimestre e recuperação nas semanas seguintes.

Como o coronavírus pode atingir as cadeias produtivas

Como o coronavírus pode atingir as cadeias de abastecimento pelo mundo: parcela de todas as importações de produtos intermediários da China (Divulgação/Bloomberg)

Essas apostas preliminares para 2020 caíram por água abaixo porque a demanda também está em queda. Como o vírus se espalhou para outros países, consumidores cada vez mais preocupados relutam em comprar, viajar ou comer fora. Como resultado, é provável que as empresas não apenas mandem trabalhadores para casa, mas que deixem de contratar ou investir, o que impactaria ainda mais o consumo.

Como os dois choques vão reverberar provocou debate entre economistas. O professor da Universidade Harvard, Kenneth Rogoff, escreveu esta semana que uma aceleração da inflação induzida pela escassez da oferta, ao estilo do que ocorreu na década de 1970, não pode ser descartada. Outros afirmam que outra onda de desaceleração da inflação está a caminho.

O resultado final para bancos centrais e governos é que provavelmente haverá ainda mais pressão para fazer ajustes na economia.

“Uma recessão clássica envolve um déficit de demanda em relação à oferta”, disse David Wilcox, ex-Federal Reserve que agora trabalha no Instituto Peterson de Economia Internacional, em relatório esta semana. “Naquela situação mais comum, formuladores de políticas econômicas sabem como ajudar a recuperar a demanda perdida. Mas este caso é mais complicado, porque envolve impactos negativos tanto na oferta quanto na demanda.”

--Com a colaboração de Zoe Schneeweiss.

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