Nessa semana, a Grécia viu a corrida aos bancos – em uma tentativa da população de ter euros caso o país retorne ao dracma, a antiga moeda grega (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 16 de junho de 2012 às 13h23.
São Paulo – Amanhã a Grécia decide seu futuro - e o cenário econômico de boa parte do mundo. Com a eleição parlamentar, será possível saber se o povo grego vai apoiar as medidas de austeridade ou se opor a esse caminho, saindo da zona do euro, e iniciando uma guinada radical do país. Nesse contexto de princípio do fim, vale lembrar a trajetória da Grécia até a tragédia atual.
Entrada no Euro
Mesmo antes de entrar na Zona do Euro, a Grécia já gastava mais do que arrecadava e enfrentava problemas de inflação, além da dívida elevada. A população grega também tem fama de se aposentar cedo e não pagar impostos. Recentemente, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, pediu aos gregos que parem de tentar evitar os impostos. O endividamento remonta inclusive aos gastos com a Olimpíada de 2004.
Quando o país entrou na Zona do Euro, os problemas se ampliaram. No final do ano passado, o então presidente francês Nicolas Sarkozy afirmou que a Grécia não estava preparada para entrar no euro – e que a entrada do país foi um erro. “Mais tarde ficou provado que a Grécia maquiou dados de sua dívida pública para garantir sua entrada no Euro”, disse Reginaldo Nogueira, coordenador do curso de Relações Internacionais do Ibmec.
A entrada da Grécia na Zona do Euro gerou um boom de otimismo e queda nos juros, dificultando para o investidor a diferenciação das dívidas grega e alemã, por exemplo. “O governo grego aproveitou para se financiar e não fez ajuste fiscal”, disse Nogueira. Em 2011, o endividamento chegou a 165,3% do PIB.
Crise de 2008
A crise do subprime, em 2008, levou muitos investidores a ficarem relutantes em emprestar dinheiro ao país, que já tinha uma dívida alta. A economia passou a crescer menos, houve queda na arrecadação de impostos e o governo grego precisou aumentar os gastos sociais. “Uma dívida que já era muito alta tornou-se impagável”, disse Nogueira.
A crise deixou claro para o mercado que a Grécia não tinha condições de pagar sua própria dívida. “Virou um esquema Ponzi”, disse Nogueira, citando o golpe em que o dinheiro dos novos investidores é usado para pagar o rendimento dos antigos. Começou, então, a rodada de empréstimos.
Tempos de austeridade
A Troika (formada pelo FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia) impôs medidas de austeridade ao país em troca dos empréstimos. A Troika já liberou dois pacotes de resgate ao país, nos valores de 110 bilhões de euros e de 130 bilhões de euros, em maio de 2011 e março de 2012, respectivamente.
No final de 2011, a Zona do Euro negociou com os bancos para eles perderem parte do rendimento de seus títulos gregos. Havia a ideia de que se parte do valor de remuneração dos títulos fosse cortada, a dívida poderia ser paga. “Hoje se sabe que ela é impagável”, disse Nogueira.
Com os pacotes de austeridade, as autoridades também pretendem diminuir permanentemente o modelo de consumo grego, segundo Nogueira. A população não se mostra muita satisfeita, como ficou evidente na eleição em maio. “São cinco anos de recessão e a população não vê os resgates como algo que melhorou a vida deles”, disse Nogueira.
Eleições
No primeiro domingo de maio, os gregos tiveram eleições parlamentares. Aquela eleição mostrou uma queda no apoio popular aos partidos tradicionais e crescente apoio a partidos de extrema esquerda e extrema direita, muitos deles contrários ao programa da Troika. Os vencedores tentaram montar um governo de coalisão. Como não conseguiram um acordo, novas eleições foram marcadas para esse domingo.
“É praticamente um referendo”, disse Nogueira sobre as eleições. Os gregos vão escolher se preferem pagar um preço muito alto para se manter no euro ou se preferem abandonar o euro e encarar todos os problemas de curto prazo da volta ao dracma.
Especialistas acreditam que, caso o país vote contra as medidas de austeridade novamente, ficará difícil permanecer na Zona do Euro. Esse cenário preocupa mais do que a outra possibilidade, a manutenção da austeridade. Nessa semana, a Grécia está vendo uma corrida aos bancos – em uma tentativa da população de garantir suas economias em euro caso o país retorne ao dracma, a antiga moeda grega.
O ex-primeiro-ministro da Grécia Lucas Papademos já afirmou que o país pode ficar sem dinheiro até o fim de junho se os fundos de resgate internacionais forem cancelados depois das eleições.