Economia

Engenharia financeira é maior gargalo para PPPs

Especialistas afirmam que é alto o volume de recursos disponíveis, mas é preciso estruturar garantias, tarefa complexa em um país em que o risco de descontinuidade administrativa continua assombrando o mercado

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h26.

Não faltam recursos para tornar as Parcerias Público-Privadas (PPPs) realidade, e existem projetos maduros. O que ainda falta é uma estruturação adequada de riscos e de aporte de capital, através de instrumentos complexos de engenharia financeira. "Os fundos de pensão estão cheios de dinheiro", afirma Rubens Teixeira Alves, ex-diretor de structured finance da KPMG e consultor do escritório Albino Advogados. Mas faltam mecanismos de compensação de riscos como, por exemplo, seguros que garantam um resultado mínimo para o investidor.

Segundo Paulo Vasconcellos, da área de project finance do BES Investimentos, a estruturação de um projeto de longo prazo -- como a construção e operação de um porto ou de uma rodovia -- pode levar de um a três anos, dependendo da quantidade de fontes financiadoras. O mapeamento completo de potenciais problemas, porém, é tão compensador, segundo Vasconcellos, que em países europeus os contratos de concessão só são assinados depois de perfeitamente desenhada a engenharia financeira da obra. Um project finance bem elaborado envolve ponderações em 16 variáveis-chave, como custos, meio ambiente, legislação, política e câmbio.

De todos os riscos, porém, o maior deles no Brasil é a falta de continuidade política e administrativa. "Aqui, ainda há governante que anuncia com orgulho que rompeu contratos", diz Arlindo Moura, vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção. "Na parte que diz respeito a financiamento, o grande ponto de interrogação é como absorver o risco do governo", diz Luis Barretto, diretor da UBF Garantias e Seguros.

Dinheiro parado

A persistente falta de credibilidade do Brasil reflete, em parte, no risco-país, que permanece alto, apesar da redução substancial no último ano. É justamente o risco soberano que afasta uma das formas de contornar o problema das garantias, que é atrair as resseguradoras estrangeiras com porte para dividir o resseguro feito pelo Instituto de Resseguros do Brasil. "Há sete escritórios de representação de grandes resseguradoras no país", diz Teixeira Alves. "Mas como o Brasil ainda não é investment grade [categoria atribuída por agências de rating para os países em que é seguro investir], as operações brasileiras contaminam o balanço das companhias internacionais."

Em outras palavras, por uma regra de contabilização, toda vez que uma resseguradora fecha uma operação no Brasil, tem de provisionar 100% do risco, o que compromete seu balanço. "Para uma resseguradora entrar numa grande operação no Brasil, ela precisa da garantia de uma agência multilateral", afirma Alves, referindo-se a instituições como a International Finance Corporation, ligada ao Banco Mundial. A agência multilateral assumiria o risco-país que engloba desde mudança de governantes, até entraves burocráticos e quebra de contrato pelo governo, enquanto a resseguradora ficaria com o risco comercial.

Diante desse quadro, e enquanto o Brasil não chega a investmet grade, uma das sugestões que estão sendo apresentadas ao governo é que o fundo garantidor de PPPs, ainda em formulação, estabeleça um convênio com agências multilaterais. Através do convênio, seria implantado um programa de resseguros para projetos brasileiros, permitindo mitigar o risco-país.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Economia

Lira acolhe só três de 99 emendas e mantém núcleo do projeto de isenção de IR até R$ 5 mil

Sem acordo, Congresso adia votação de MP alternativa ao IOF para véspera do prazo de validade

Antes de votação do IR, Lira diz que deve 'ajustar' pontos do projeto

Empresas de bets terão de bloquear cadastros de beneficiários do Bolsa Família e BPC/Loas