Economia

Engarrafamentos têm um lado bom, diz especialista de Bogotá

É a partir do trânsito caótico nas grandes cidades que nasce o ímpeto de buscar novas e melhores formas de transporte, segundo Oscar Edmundo Diaz

Oscar Edmundo Diaz, sócio da consultoria GSD Plus, no EXAME Fórum Sustentabilidade (Vanessa Barbosa)

Oscar Edmundo Diaz, sócio da consultoria GSD Plus, no EXAME Fórum Sustentabilidade (Vanessa Barbosa)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 9 de janeiro de 2014 às 19h16.

São Paulo - De saída, pode ser difícil digerir uma afirmação como a que aparece no título dessa matéria. Mas ao ser feita por um especialista em mobilidade urbana, conhecedor profundo do sistema de transporte de massa que revolucionou a cidade de Bogotá e virou modelo mundial, ela faz um baita sentido.

Oscar Edmundo Diaz, sócio da consultoria GSD Plus, foi categórico em sua palestra no EXAME Fórum Sustentabilidade, que acontece nesta terça, em São Paulo. "Os engarrafamentos são bons, eles incentivam outros meios alternativos de locomoção, eles incentivam as pessoas a viverem mais próximo do trabalho. Quando os prefeitos fazem rodovias, é um erro, porque eles estimulam as pessoas a viverem longe", afirmou.

Na prática, o anda e para nas cidades ajuda a resolver a equação do espaço público, segundo o especialista de Bogotá. "O problema é que as cidades estão sendo feitas só para solucionar o problema dos carros. Você tem que estudar o pedestre. Primeiro, você tem que saber para onde a pessoa está indo e por quê."

Superando obstáculos

Durante sua apresentação, o especialista exibiu uma série de imagens que denunciam irregularidades comuns nas grandes cidades: uma calçada sem espaço para as pessoas caminharem, uma faixa de pedestre que termina em uma calçada cercada por grades (o que impede a travessia), uma ciclovia que é, abruptamente, interrompida por uma parede ou um poste.

A lista de problemas, naturalmente, não para aí. Com recursos sempre limitados, é preciso tomar decisões: pavimentar ruas para os carros ou criar uma área para pedestre? Ou uma ciclovia? Ou quem sabe criar uma faixa para BRT? Melhor ainda, por que não garantir infraestrutura para pedestre e ciclistas num mesmo espaço?

"Isso é repensar o espaço público de forma mais igualitária", sublinhou o especialista. Segundo Diaz, cabe aos governantes decidirem dar mais espaço para o transporte publico, esquecer de vez os carros e pensar nas pessoas.


Bogotá enfrenta hoje um problema crescente de congestionamentos, contou Diaz. O TransMilenio, seu sistema de transporte de massa baseado em ônibus, e que foi inspirado nos BRT de Curitiba, está lotado. Então que fazer? "Você tem que dar mais espaço para o transporte publico e mais espaço para as pessoas", disse.

O BRT, segundo o especialista, não é uma solução só para os países pobres, é a melhor solução para o transporte em geral, é mais barato que metrô. E por ser mais barato, você pode ter mais corredor, e mais disponibilidade de transporte.

Expandir ciclovias é outra solução barata e eficiente. "Eu vou de bicicleta ao meu escritório, são aproximadamente 6 km, gasto 22 minutos. Se eu for de carro, gasto pelo menos 45 minutos, sem falar do estresse. De bicicleta eu chego antes, mais tranquilo e dá até para ter ideias criativas. Ouvi dizer que Einstein pensou na teoria da relatividade andando de bicicleta", contou.

Os benefícios de investir no transporte público e em ciclovias vão muito além das questões ambientais. "Onde o TransMilenio, ciclovias e espaços publicos foram construidos em Bogotá, as vendas aumentaram 23%. Afinal, os pedestres tomam as ruas, não mais os carros", concluiu.

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