Planta de Energia Solar da Atlas Renewable Energy em Pirapora (MG) (Vinicius Dal Colletto/Divulgação)
Agência de notícias
Publicado em 2 de janeiro de 2025 às 08h26.
Após apresentarem crescimento recorde em 2023, os setores de energia solar e eólica vão registrar queda nos investimentos no fechamento dos números de 2024.
Somados, os dois setores angariaram R$ 94,6 bilhões em investimentos em 2023 e projetam um um total de R$ 60,4 bilhões em 2024, uma baixa de 36,6%. Os dados são da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) e da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica).
Se for considerado setor por setor, as eólicas devem ter uma queda maior. Os investimentos em projetos no ano retrasado somaram R$ 35 bilhões, enquanto a projeção para o fechamento de 2024 é de R$ 21 bilhões, 40% a menos.
No caso da energia solar, o setor registrou R$ 59,6 bilhões em 2023, frente a uma expectativa de R$ 39,4 bilhões em 2024, uma queda menor, de 33%. Os números levam em conta as usinas de grande porte e os pequenos e médios sistemas em telhados, fachadas e terrenos de casas e empresas.
Carlos Dornellas, diretor técnico e regulatório da Absolar, destaca que os investimentos foram focados principalmente no mercado livre. Nesse modelo, o cliente compra eletricidade diretamente das geradoras por meio de uma empresa intermediária chamada comercializadora varejista.
— Destaque para a demanda no mercado livre, que tem atraído cada vez mais investimentos privados. De janeiro ao começo de dezembro de 2024, a fonte solar adicionou cerca de 13 gigwatts (GW), sendo 8 GW na geração distribuída e 5 GW na geração centralizada — afirmou.
A economista Elbia Gannoum, presidente da Abeeólica, afirma que um conjunto de fatores fez com que a contratação de eólicas de grande porte no mercado regulado caísse drasticamente. Entre os motivos está a falta de leilões regulados desde 2022 e o grande crescimento do mercado de geração distribuída, dominado pela energia solar.
— Outro fator é o crescimento econômico. Melhorou em 2023 e vai apresentar melhoras no PIB de 2024. Só que esse crescimento não tem efeito imediato nas contratações de energia. A gente vai precisar de mais um ano de crescimento para indicar uma melhora nas contratações em 2025 — explicou a especialista.
Na visão do engenheiro eletricista e professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Euler Macedo, a escalada do dólar durante o ano também é um fator que dificulta a atração de investimentos estrangeiros para o Brasil.
— O Brasil tem enfrentado, neste momento, um cenário que não é tão atrativo para investimentos estrangeiros. Com a disparada do dólar, isso faz com que as importações desses equipamentos, que, na sua maioria, são importados, se tornem mais caras — analisa Macedo .
A descarbonização da matriz energética brasileira, com foco nas fontes solar e eólica, é prioridade para o Ministério de Minas e Energia.
Segundo dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), atualmente as duas fontes respondem por 16% (eólica) e 8% (solar) da capacidade instalada do Sistema Interligado Nacional (SIN).
No ano passado, o governo outorgou 121 empreendimentos de energia. Destes, 86 foram referentes a usinas solares, totalizando 4.260 megawatts (MW) de potência instalada, e 35 a usinas eólicas, totalizando 1.126 MW de potência instalada.
Políticas públicas propostas pelo governo, como o investimento na implantação de data centers no Brasil e os incentivos para a produção de hidrogênio verde, devem reaquecer os investimentos dos dois setores nos próximos anos, aponta o professor de engenharia elétrica da Universidade de Brasília (UnB), Ivan Camargo.
O especialista ressalta que atualmente existe um desequilíbrio entre a oferta e a demanda de energia no Brasil. Segundo Camargo, fontes de energia intermitentes, como a solar e a eólica, precisam de alternativas reservas, como as termelétricas, pois têm um desempenho variável durante o dia, registrando pausas e retomadas de acordo com a disponibilidade da fonte utilizada, nesse caso, a luz solar e os ventos.
— Acho que os investidores estão começando a ver que estamos chegando próximo do limite técnico da geração. Ainda tem muito espaço no Brasil, e ainda vai haver muita geração. Mas eu não sei como vamos conseguir operar esse sistema com a continuação da entrada de energias que você não consegue armazenar — prevê Camargo.