Economia

Encontrar emprego é mais difícil para chinesas com mais estudo

A taxa de participação feminina na força de trabalho da China tem diminuído constantemente desde a década de 1990

Trabalho: taxa de natalidade na China caiu nos últimos anos. (Shutterstock/Reprodução)

Trabalho: taxa de natalidade na China caiu nos últimos anos. (Shutterstock/Reprodução)

Bloomberg
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Agência de notícias

Publicado em 12 de julho de 2023 às 13h41.

Quando Charlotte Yang foi entrevistada para um cargo administrativo em uma importante corretora da China no ano passado, lhe perguntaram se planejava se casar e ter filhos — a mesma pergunta dirigida a todas as candidatas solteiras durante a entrevista em grupo. Havia apenas um homem disputando a vaga, que acabou por conseguir o emprego.

Para Yang, que agora tem 30 anos e decidiu ficar em sua empresa atual, não foi uma experiência atípica. Ela foi questionada sobre seus planos familiares em quase todas as entrevistas de emprego desde que terminou a universidade.

E não está sozinha. Empresas financeiras na China preferem predominantemente homens para cargos júnior, como pesquisadores, porque são vistos com mais tempo para se dedicar ao trabalho, disse um recrutador de Guangzhou para uma gestora de fundos na cidade, que pediu para não ser identificado. A empresa, por exemplo, exige mestrado para as vagas, o que significa que as candidatas qualificadas geralmente teriam 20 e poucos anos, quase a idade média em que as mulheres na China têm seu primeiro filho.

Uma pesquisa com candidatos a emprego pós-graduados na China, divulgada em maio, revela que essa prática de contratação é generalizada em campos profissionais, não apenas em finanças. O levantamento revelou que, quanto maior o nível de instrução das mulheres, menor era a probabilidade de receberem ofertas em comparação com os homens. Para os pós-graduados, a diferença de gênero chegou a 21 pontos percentuais: menos da metade das mulheres recebeu ofertas de emprego, em comparação com quase 70% dos homens, de acordo com a pesquisa realizada entre março e abril pela Zhaopin, uma das maiores plataformas de recrutamento online da China.

Mulheres que enfrentam tal discriminação têm menos opções para buscar reparação legal do que em outros países desenvolvidos. Embora a China encoraje os casais a terem filhos para aumentar a taxa de natalidade, existem poucas leis para proteger as mulheres contra a discriminação e o tratamento injusto dos empregadores se tiverem filhos. O resultado geral é uma menor participação na força de trabalho e uma economia mais fraca, de acordo com a professora Susanne Choi, codiretora do Centro de Pesquisa de Gênero da Universidade Chinesa de Hong Kong.

“A China é um dos poucos países que observou uma crescente diferença de gênero na taxa de participação na força de trabalho e nos salários”, disse Choi, citando uma pesquisa publicada pelo Fundo Monetário Internacional, que analisa dados entre 2000 e 2019. “Essa tendência é muito preocupante.”

Crise demográfica

A taxa de participação feminina na força de trabalho da China tem diminuído constantemente desde a década de 1990. Aumentar a taxa em 3 pontos percentuais proporcionaria um impulso de US$ 497 bilhões à economia, equivalente a 2% do PIB, de acordo com um estudo de 2019 da PwC. Tal aumento teria um impacto ainda maior agora, já que a recuperação econômica do país está estagnada após três anos de lockdowns da Covid.

Além de uma desaceleração na manufatura, no setor imobiliário e nos gastos dos consumidores, a China enfrenta uma crise demográfica cada vez mais grave, que pesa sobre suas perspectivas econômicas de longo prazo. A população começou a encolher em 2022 pela primeira vez em seis décadas. Menos pessoas permanecem na força de trabalho por causa de uma idade oficial de aposentadoria antecipada – 55 para mulheres e 60 para homens em cargos administrativos – e uma taxa de natalidade cada vez mais baixa, que caiu em 2021 para o nível mais baixo desde 1950.

Para reverter a tendência, em 2021 a China começou a permitir que os casais tenham três filhos, depois de abandonar sua política de filho único de décadas em 2016. Mas isso pouco ajudou a encorajar trabalhadoras a terem mais filhos, já que o governo parou de fornecer uma forte garantia de que empresas não discriminariam ou puniriam funcionárias que decidissem tirar os 98 dias de licença-maternidade remunerada do país.

O cuidado infantil também recai em grande parte sobre as mulheres na China, o que aumenta o receio de empregadores privados de que a produtividade delas possa ser afetada pelas responsabilidades domésticas, disse Choi.

“O que a China precisa é de trabalhadoras, mas a discriminação de gênero vai desencorajar mulheres casadas de permanecer no mercado de trabalho e inibir as que ficam de concretizar todo o seu potencial”, destacou Choi.

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