Presidente da China, Xi Jinping, e o presidente Bolsonaro se encontram na cúpula dos Brics (Pavel Golovkin/Reuters)
Agência O Globo
Publicado em 8 de julho de 2020 às 12h07.
As empresas chinesas estão “otimistas” com as perspectivas de investimento em longo prazo no Brasil. A afirmação é do embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, que também acenou que o Brasil pode fazer parte da iniciativa Cinturão e Rota, que já promoveu mais de US$ 110 bilhões em investimentos ao redor do mundo.
"As empresas chinesas acompanham de perto projetos específicos desse setor e estão otimistas com as perspectivas de investimento de longo prazo no Brasil, estão dispostas a intensificar e agilizar as comunicações de forma a encontrar modelos de cooperação consistentes com as expectativas de ambas as partes".
A fala do embaixador abriu o encontro promovido pela Embaixada da China no Brasil e pelo Ministério da Infraestrutura entre o governo brasileiros e empresas chinesas. Segundo nota divulgada pela Embaixada, o objetivo é de fortalecer a cooperação de investimentos entre empresas chinesas e brasileiras na área de infraestrutura.
O Ministério da Infraestrutura apresentou os projetos de investimentos em portos, aeroportos, ferrovias e estradas que somam US$ 44,6 bilhões disponíveis para leilões. Mais de 60 empresas chinesas participaram da reunião.
A maior parte dos projetos apresentados são concessões de estradas, como a Dutra e a BR 101, em Santa Catarina. O Ministério espera investimentos de até US$ 29 bilhões nesse setor nos próximos anos.
Outros US$ 10 bilhões viriam em investimentos nas ferrovias, como a Ferrogrão que deve ligar o Mato Grosso, estado produtor de grãos ao porto de Mirituba no Pará.
"A Ferrogrão é um importante projeto para nós, porque a ferrovia liga o meio do país, Mato Grosso, onde nós temos uma grande produção de soja e milho, aos portos do Norte. Nós esperamos que o preço do frete reduza 40% no setor. Ferrogrão é uma prioridade para o governo, disse a secretária de Fomento, Planejamento e Parcerias do ministério, Natália Marcassa, ao apresentar os projetos".
Os aeroportos têm um investimento planejado de US$ 2,4 bilhões, entre oportunidades em Guarulhos, Brasília, Confins e no Galeão, por exemplo. Já em portos, o investimento pode ser de US$ 1,3 bilhão, em 21 terminais, incluindo o porto de Santos. Questionada sobre o porto por representantes das empresas chinesas, Marcassa disse que a previsão é que a privatização aconteça em 2022.
O embaixador da China também afirmou que o país está “atento” para incluir o Brasil na iniciativa Cinturão e Rota. A iniciativa é um projeto chinês de investimentos em infraestrutura ao redor do mundo.
"Ao longo dos sete anos desde o lançamento da iniciativa Cinturão e Rota, a China já fez um aporte de mais de US$ 110 bilhões em mais de 2000 projetos e grande parte é de infraestrutura. Estamos atentos para incluir o Brasil nessa iniciativa, o que certamente vai intensificar o alinhamento das políticas de crescimento e ampliar o horizonte das cooperações bilaterais de infraestrutura".
Wanming também ressaltou que os governos dos dois países devem melhorar o ambiente de negócios.
"Esperamos também que os governos dos dois países possam dar apoio a eliminação de barreiras tangíveis e intangíveis criando assim um ambiente de negócios mais amigável e previsível para as empresas".
Em sua apresentação, a secretária ressaltou que o Brasil já conta com investidores internacionais, inclusive chineses, mas destacou que mais investimentos são bem-vindos.
"Nós queremos muito mais investimentos chineses no Brasil do que temos hoje. Nós gostaríamos de aumentar o investimento chinês, assim como temos a presença no setor de energia, vocês poderiam melhorar a participação na parte da logística também".
Das mais de 60 empresas presentes, 33 participam da China International Contractors Association (Chinca). O presidente da associação, Fang Qiuchen, disse que o investimento em construção e na melhora da infraestrutura é muito importante para estimular o crescimento econômico e afirmou que a China está comprometida em encorajar os seus membros a participar de investimentos na infraestrutura brasileira.
"Nos últimos anos, nós temos visto que o governo brasileiro está ativamente fazendo grandes investimentos na melhora de sua infraestrutura e projetos de construção. Por meio de uma série de medidas facilitadoras, como aumento do investimento, melhora dos sistema institucionais e do ambiente de negócios, essa estratégia de desenvolvimento, incluindo o Programa de Parceria de Investimentos (PPI), com certeza vai atrair mais e mais empresas chinesas para vir ao Brasil investir e cooperar, especialmente na infraestrutura e na construção".
No início da apresentação, os representantes do Ministério exibiram um vídeo em que mostravam os projetos e ressaltavam a preservação ambiental brasileira.
Recentemente, investidores e empresários mandaram cartas ao governo brasileiro mostrando preocupação com o meio ambiente e o desmatamento.
Ao abrir para questões dos empresários chineses, um representante perguntou se o Brasil vai simplificar ou introduzir políticas “mais convenientes” da aprovação do licenciamento ambiental em um projeto de infraestrutura.
Marcassa disse que há projetos no Congresso nesse sentido, mas que os parlamentares estão focados em propostas voltadas ao combate à Covid-19. A previsão do ministério é que o debate retorne no segundo semestre.
"Nós temos um projeto de lei sendo discutido no Congresso sobre projetos de meio ambiente e acredito que a lei vai flexibilizar algumas coisas, mas melhorar as compensações mitigatórias e a fiscalização".