Economia

Empresas de capitais espanhóis veem com cautela caso YPF

Empresários e diplomatas coincidem em afirmar que não haverá pronunciamento público conjunto das companhias de capital espanhol

A Câmara Espanhola de Comércio da República Argentina, que reúne cerca de 850 sócios, também não se pronunciou oficialmente (Divulgação)

A Câmara Espanhola de Comércio da República Argentina, que reúne cerca de 850 sócios, também não se pronunciou oficialmente (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 17 de abril de 2012 às 21h31.

Buenos Aires - As empresas de capitais espanhóis na Argentina optaram pelo silêncio ''prudente'' diante do anúncio do governo de Cristina Kirchner de expropriar 51% das ações da companhia petrolífera YPF à espanhola Repsol, uma decisão que surpreendeu o mundo dos negócios.

Empresários e diplomatas consultados nesta terça-feira pela Agência Efe coincidem em afirmar que não haverá pronunciamento público conjunto das companhias de capital espanhol e de outras grandes subsidiárias de origem europeia.

A Câmara Espanhola de Comércio da República Argentina, que reúne cerca de 850 sócios, também não se pronunciou oficialmente.

''As empresas se queixam, mas ao mesmo tempo querem cuidar de seus negócios. Evidentemente há contatos e preocupação. O âmbito empresarial está em polvorosa porque este não é o melhor final para as pessoas que querem fazer negócios na Argentina'', disse à Agência Efe um diplomata.

O anúncio desta segunda-feira do governo argentino de intervir na YPF e enviar ao Parlamento projeto para expropriar as ações da Repsol na maior produtora de hidrocarbonetos do país ''surpreendeu'' os diretores das empresas de capitais espanhóis.

''Apesar de que se vinha falando do assunto há semanas, nos últimos dias achávamos que uma saída negociada pudesse ser alcançada. Por isso o anúncio de ontem nos surpreendeu'', disse um diretor de uma das grandes empresas espanholas com presença na Argentina, sob reserva de identidade.

''Não acho que nenhuma empresa possa se arriscar e falar por enquanto porque as companhias são prudentes. Por enquanto, nem sequer houve reuniões entre os empresários. Estes são dias para digerir a notícia e analisar a situação'', apontou outro executivo, que opinou que muitas companhias percebem que o da YPF ''é um conflito pontual que não se estenderá para as demais empresas''.


Para Marcelo Elizondo, da empresa de consultoria Desenvolvimento de Negócios Internacionais, ''o clima de negócios e a reputação argentina ficaram totalmente afetadas'' com a decisão adotada sobre a YPF.

''O primeiro que vai ocorrer é uma grande dilatação das decisões de investimentos futuros na Argentina e uma incerteza sobre as condições de operação para as empresas estrangeiras que já estão no país, em particular as espanholas, que vão retrair suas decisões de investimento'', declarou Elizondo.

A Espanha é o primeiro investidor estrangeiro na Argentina, com ativos que superam os US$ 23,2 bilhões e jogadores de peso - como Telefônica, Gás Natural Fenosa, Endesa, BBVA, Santander, Indra e ACS, além da Repsol - em setores-chaves como bancos, telecomunicações, infraestruturas e energia.

Espanha é o quinto destino das exportações argentinas, com vendas que em 2011 ascenderam US$ 3 bilhões.

Por enquanto, as queixas públicas por falta de segurança jurídica na Argentina vieram de boca de altas autoridades do governo da Espanha e da União Europeia.

''Que segurança jurídica e clima de negócios maior pode haver que um governo comprometido com sustentar o crescimento e a demanda interna, com sustentar suas extraordinárias exportações em direção ao mundo?'', questionou nesta terça-feira ao comparecer no Senado o vice-ministro da Economia argentina, Axel Kicillof, considerado o idealizador do plano para expropriar 51% da YPF e designado subinterventor da companhia petrolífera.

As relações entre Argentina e Espanha já sofreram altos e baixos por assuntos empresariais, em particular em 2008 pela nacionalização da Aerolíneas Argentinas, que estava nas mãos da espanhola Marsans, e dos fundos de pensão, que afetou negócios do BBVA e do Santander.

Cerca de 30 multinacionais - a maior parte de capital europeu e americano - processaram à Argentina perante o Centro Internacional de Regra de Diferenças Relativas a Investimentos, um tribunal do Banco Mundial, pelas consequências para as empresas da traumática crise econômica que explodiu no fim de 2001. 

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