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Empresários americanos serão muito bem tratados pelo governo brasileiro, diz Durigan

Secretário executivo do Ministério da Fazenda descartou penalizar empresas que apostam no Brasil

Agência o Globo
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Publicado em 26 de agosto de 2025 às 19h04.

Última atualização em 26 de agosto de 2025 às 19h21.

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O secretário executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, disse que o governo brasileiro vai tratar muito bem os empresários americanos que investem no Brasil, mesmo com a imposição de um tarifaço de 50% aos produtos brasileiros. Durigan afirmou que não faz sentido penalizar empresas que apostam no país, sinalizando que, por enquanto, o governo brasileiro não pretende responder na mesma moeda ao governo de Donald Trump, priorizando as negociações.

Ele falou por videoconferência durante o evento O Novo Cenário Global e o Papel do Setor Privado nas Relações Brasil/EUA realizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e o Council of the Americas, em São Paulo. Ele substituiu o ministro Fernando Haddad, que participaria do evento.

— O governo tem trabalhado para estabelecer uma agenda e uma mesa de negociações, mas está sendo atrapalhado por forças aqui no Brasil. Houve uma quebra do respeito da diplomacia de parte a parte tão prezada. Temos conversado com empresários brasileiros e vale para os americanos também, a quem vamos tratar muito bem. Não faz sentido que haja penalização aos empresários que apostam no Brasil — afirmou.

Durigan afirmou que esse 'ataque unilateral' dos EUA prejudica o horizonte de desenvolvimento do país, mas ponderou que nos últimos anos o Brasil reduziu a dependência de suas exportações do mercado americano.

O seminário reuniu representantes do governo e de empresas brasileiras, como JBS e Embraer, e de companhias americanas como Boeing, Salesforce e AWS. Eles destacaram as oportunidades e a importância dos negócios entre os dois países.

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), Geraldo Alckmin, que está viajando para o México, enviou um vídeo onde destacou que 10 mil empresas brasileiras exportam para os EUA, enquanto há no país 4 mil companhias americanas instaladas.

— Uma relação assim não se desfaz pelo fator conjuntural. Nossa sociedade quer mais parcerias e o setor privado é central nesse processo — disse.

Tatiana Prazeres, secretária de Comércio Exterior do MDIC, participou por videoconferência, e afirmou que o governo brasileiro continua negociando com os EUA, está empenhado em ajudar empresas nacionais mais afetadas pelo tarifaço, mas também está buscando novos mercados.

Já houve conversas com o Canadá, Alckmin está indo para o México e haverá uma reunião com representantes da Índia para promover produtos exportados pelo Brasil, disse ela.

O presidente da Fiesp, Josué Gomes, listou algumas áreas em que há oportunidade de negócios entre Brasil e EUA como minerais críticos (terras-raras), produtos farmacêuticos e combustível de aviação sustentável (SAF na sigla em inglês), por exemplo. Ele também defendeu que as questões políticas sejam separadas das econômicas.

— O Brasil pode ser um dos maiores destinatários de recursos do mundo se trabalhar a legislação e der segurança aos investidores. Precisamos separar as questões políticas das questões econômicas para chegarmos a um entendimento — disse.

Gilberto Tomazoni, CEO Global da JBS, disse que mais de 50% da receita da empresa vêm dos Estados Unidos. São 75 mil colaboradores naquele país e, no primeiro semestre, foram anunciados investimentos de US$ 800 milhões nos EUA.

Ele lembrou que a JBS fez dupla listagem, e suas ações começaram a ser negociadas na bolsa de Nova York neste ano. Mesmo com sua forte operação no mercado americano, Tomazoni disse que o tarifaço afeta o negócio da empresa no Brasil.

— O tarifaço afeta o negócio no Brasil, e especificamente algumas fábricas muito mais. Foram 200 mil toneladas de carne exportadas para os EUA, no primeiro semestre, e na segunda metade do ano esse volume vai se reduzir muito — disse.

Momento sem precedentes nas relações internacionais

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse que este é um momento sem precedentes nas relações internacionais entre países. A ordem mundial como a conhecíamos, afirmou, está sendo desmontada justamente por aqueles que mais contribuíram para a sua formação.

— Parece buscar meios de atuação que passam ao largo de mecanismos internacionais e a consequência é a desconsideração das tarifas máximas consolidadas na Organização Mundial do Comércio (OMC) — afirmou, lembrando que a aplicação de elevadas tarifas a diversos países está sendo usada como meio de intimidação e sanções sobre várias nações, com violação de sua soberania.

Para Tom Shannon Jr., ex-embaixador dos EUA no Brasil e ex-subsecretário de Estado para Assuntos Políticos, o que é bastante chocante em relação ao caso do Brasil é que a tarifa de 50%, pela primeira vez, foi usada para finalidade política — e isso é algo complicado, já que não pode ser negociado com facilidade.

— Simplesmente o Brasil apareceu no radar da Casa Branca por motivos políticos, especialmente relacionados ao ex-presidente Jair Bolsonaro. O presidente americano enxerga isso como reflexo de sua própria experiência nos EUA após as últimas eleições (Trump perdeu reeleição para Joe Biden e não aceitou a derrota) e interpreta os eventos no Brasil como aquilo que ele havia passado — explicou.

Shannon afirmou ainda acreditar que Trump tem empatia pelo ex-presidente brasileiro, e que salvando-o do Supremo Tribunal Federal e abrindo espaço político a ele, teria impacto importante no Brasil.

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