Economia

Emergentes podem ter fuga abrupta de capital, alerta FMI

O fundo divulgou relatório no qual avalia os impactos da mudança da política monetária dos EUA e do agravamento da questão fiscal no país


	Fachada da sede do FMI em Washington: fuga de capital, depreciação das moedas e elevação dos prêmios de risco dos emergentes estão entre os principais efeitos de uma mudança
 (Saul Loeb/AFP)

Fachada da sede do FMI em Washington: fuga de capital, depreciação das moedas e elevação dos prêmios de risco dos emergentes estão entre os principais efeitos de uma mudança (Saul Loeb/AFP)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2013 às 10h35.

Washington - Os países emergentes podem ter fuga abrupta e expressiva de capital, alerta o Fundo Monetário Internacional (FMI), que divulgou nesta quarta-feira, 9, o Relatório de Estabilidade Financeira, no qual avalia os impactos da mudança da política monetária dos Estados Unidos e do agravamento da questão fiscal no país.

"Os países emergentes têm de lidar com condições financeiras mais duras ao mesmo tempo em que enfrentam perspectivas mais fracas de crescimento e aumento da vulnerabilidade doméstica", destaca o relatório. "A estabilidade financeira passa por uma transição. Apesar de as perspectivas para o crescimento dos EUA estarem se solidificando, os riscos de mercado e de liquidez aumentaram."

O FMI volta a afirmar no documento o que já havia ressaltado em estudos divulgados no início desta semana, avaliando a política monetária e fiscal norte-americana. O fracasso dos EUA em elevar o teto da dívida pode trazer consequências graves para o sistema financeiro do país e do mundo, provocando turbulências mundo afora. Na terça-feira, 8, o economista-chefe do Fundo, Olivier Blanchard, falou até na possibilidade de uma recessão.

Política monetária

Fuga de capital, depreciação das moedas e elevação dos prêmios de risco dos emergentes estão entre os principais efeitos de uma mudança na política monetária nos EUA, desde que um acordo seja alcançado em Washington entre democratas e republicanos sobre a questão fiscal. Caso o acordo para elevar o teto da dívida fracasse, o cenário previsto é mais caótico, nos níveis do que ocorreu na crise de 2008.

Desde a crise financeira mundial, os fluxos de capital para os mercados emergentes aumentaram em US$ 1,1 trilhão, dinheiro que pode em parte voltar para os países desenvolvidos, sobretudo para os EUA, em busca de investimento de menor risco.


Nas 12 semanas seguintes a 22 de maio, data em que o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Ben Bernanke, falou pela primeira vez em retirar os estímulos monetários, o que provocou aumento da aversão ao risco mundo afora, os ativos sob gestão em fundos de renda fixa voltados para países emergentes se reduziram em 7,6%, ou US$ 19 bilhões, de acordo com o estudo do FMI. O volume foi muito menor do que na crise financeira de 2008, quando os ativos tiveram queda de 36% apenas nas semanas de setembro e outubro daquele ano.

Apesar da fuga de capital ter sido menor, o impacto nas taxas de retornos ("yields") dos bônus em moeda local foi similar nos dois períodos, o que, de acordo com o FMI, mostra que os mercados emergentes são altamente vulneráveis a reversões repentinas dos fluxos de capital, que acabam refletindo em piora da liquidez local. Lidar com o aumento da volatilidade desde 22 de maio, conclui o Fundo, já foi um mini teste de estresse para os emergentes.

No relatório divulgado nesta quarta-feira, 9, o FMI faz um novo teste de estresse com os mercados emergentes prevendo o que poderia acontecer no pior cenário. No teste, se houver uma queda de 30% nos ativos detidos por estrangeiros nos emergentes e um aumento de 100 pontos-base nas taxas de retornos dos títulos do governo norte-americano, os prêmios de risco dos títulos soberanos dos emergentes poderiam subir mais de 150 pontos-base. O Brasil subiria perto deste patamar e teria a quarta maior elevação entre os países avaliados, em uma lista encabeçada por Indonésia, Turquia e África do Sul.

Para as taxas de câmbio, a recomendação do FMI no documento é de que os países deixem as moedas se ajustarem. Na terça-feira, 8, o Brasil recebeu elogios do Fundo por, apesar de intervenções do Banco Central para evitar oscilações excessivas do real, o governo deixar o câmbio se ajustar a um novo patamar. Mas a elevação da volatilidade vista desde maio mostra que muitos países ainda precisam resolver desequilíbrios macroeconômicos, aumentar a credibilidade da política econômica como forma de reduzir as vulnerabilidades locais, destaca o estudo, se especificar quais países.

Swap

No caso de uma reversão muito intensa dos fluxos, a recomendação do FMI é de que os governos ajam para garantir a ordem no mercado financeiro. Uma das recomendações é para que os bancos centrais criem linhas de swap com outros BCs para gerenciar o encolhimento da liquidez no mercado cambial. O documento cita a China e diz que é importante conter os riscos que surgirem no mercado financeiro daquele país, onde existem instituições fora do controle e da supervisão dos reguladores.

O Brasil, considerando as pressões inflacionárias, praticamente não tem espaço para relaxar sua política monetária. Ao contrário, a recomendação do Fundo é de que o aperto monetário prossiga, ou seja, o País continue elevando os juros, recomendação semelhante à dada para Índia e Indonésia.

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