México e Trump: especialistas garantem, porém, que não será simples conseguir essa diversificação urgente (Yael Martinez/Bloomberg)
AFP
Publicado em 2 de fevereiro de 2017 às 21h26.
Diante do choque protecionista de Donald Trump, o México acelera suas negociações de livre-comércio com a Europa e volta seus olhares para a Ásia, mas diminuir sua dependência do vizinho e maior mercado do mundo será um enorme desafio.
O governo mexicano entrou em ação nesta semana e garante estar pronto para tirar proveito de suas dezenas de tratados comerciais assinados no mundo todo.
Especialistas garantem, porém, que não será simples conseguir essa diversificação urgente.
Na quarta-feira (1º), o México anunciou um acordo para acelerar negociações com a União Europeia (UE) e modernizar seu acordo comercial vigente desde 2000 - e que teve intercâmbios por 53 bilhões de euros em 2015 -, assim como sua intenção de negociar um tratado de livre-comércio com o Reino Unido.
Além disso, confirmou o início de um período de 90 dias de consultas com o setor privado, legisladores e autoridades locais para definir os termos da renegociação do Tratado de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta).
Cumprido esse processo, que se realizará simultaneamente nos Estados Unidos e no Canadá, os sócios devem se sentar à mesa no início de maio, estimou o ministro mexicano da Economia, Ildefonso Guajardo. Assim como Trump, ele disse que seu país poderá sair do Nafta, se não obtiver um bom acordo.
"É bom que o México se volte para outros lugares, mas eu não daria o Nafta como morto", disse Gabriela Siller, diretora de análise do banco local BASE em Monterrey.
A saída, segundo a especialista, está em aproveitar esse impasse para ampliar a participação do México no mercado global, buscando opções que incluam não apenas o intercâmbio comercial, mas serviços como o turismo, assim como a atração de investimento estrangeiro direto de países como China, Japão e Coreia do Sul.
"Seria pouco inteligente não começar a explorá-las, mas isso dependerá do quão hábeis serão as negociações do governo mexicano e do quão rápido elas poderão acontecer", afirmou.
Com a urgência, os apelos para que se olhe para a China como novo grande parceiro pode ser uma jogada de mestre, ao equiparar o tamanho do mercado americano.
Na quarta-feira, após anunciar uma aliança de investimento de mais de US$ 200 milhões entre a fabricante de automóveis chinesa JAC Motors e a mexicana Giant, o governador de Hidalgo, Omar Fayad, traçou a estratégia: "Quando você não pode ver somente o Norte, pode ver o Oriente".
A China já é o segundo maior parceiro comercial do México, com negócios de US$ 75 bilhões em 2015, apesar de não contar com um TLC. Esse intercâmbio comercial ainda é bastante desigual, porém, já que o México importa 14 vezes mais do que exporta.
"Se fosse uma partida de futebol, eles estariam nos goleando feio", comparou Enrique Dussel, coordenador do Centro de Estudos China-México da Universidade Nacional Autônoma do México.
O acadêmico diz ser "cético e cauteloso" sobre a ideia de transformar a China no grande fator de diversificação comercial e investimento, sobretudo, porque a relação bilateral tem sido "tensa", com investimentos fracassados e disputas na Organização Mundial do Comércio (OMC) nos setores têxtil, de aço e brinquedos, entre outros.
Em menos de duas semanas como presidente dos Estados Unidos, Trump ameaçou o papel do México como provedor privilegiado do principal mercado mundial, uma situação à qual o país latino-americano se habituou muito naturalmente.
"Levamos muitos anos falando de diversificar o comércio exterior do México e não é simples", afirma o diretor-adjunto do Instituto Mexicano para a Compet (IMCO), Manuel Molano.
Para o economista, o enorme peso econômico da potência mundial e sua estratégica vizinhança determinaram que a economia mexicana orbite a superpotência.
O México envia cerca de 80% de suas exportações para os EUA - na maioria, manufaturas compostas por até 40% de insumos fabricados nos Estados Unidos, o que revela a forte complementaridade de suas indústrias nacionais.
Segundo Molano, que o México consiga encontrar novos provedores que supram sua indústria no lugar dos Estados Unidos não seria o maior dos problemas, já que chineses, alemães, ou japoneses, seriam rápidos para atender a esse tipo de demanda.