Economia

Em meio a crise política, Brasil recebe presidência do Mercosul

O país assumirá a presidência rotativa do bloco nesta sexta-feira tendo a expectativa em relação à UE e a complexa situação da Venezuela como pano de fundo

Mercosul: Temer comparecerá à cúpula do Mercosul em Mendoza, Argentina, nesta quinta (Mercosul/Divulgação)

Mercosul: Temer comparecerá à cúpula do Mercosul em Mendoza, Argentina, nesta quinta (Mercosul/Divulgação)

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AFP

Publicado em 19 de julho de 2017 às 14h57.

Diante de um cenário político incerto, o Brasil recebe nesta sexta-feira a presidência rotativa do Mercosul, numa cúpula em Mendoza, Argentina, de olho nas negociações com a União Europeia (UE) e tendo a complexa situação da Venezuela como pano de fundo.

A reunião de cúpula, a primeira com os presidentes em quase dois anos, vai contar com a presença de Michel Temer e dos chefes de Estado de Argentina, Mauricio Macri, Paraguai, Horacio Cartes, e Uruguai, Tabaré Vázquez.

Os líderes dos sócios Chile, Michelle Bachelet, e Bolívia, Evo Morales, também participarão.

A UE e o bloco aduaneiro tentam, desde 1999, criar um espaço de livre-comércio entre os dois lados do Atlântico.

As negociações ficaram paralisadas entre 2004 e 2010, mas, recentemente, voltaram a parecer promissoras, sobretudo pela postura de Temer e Macri, abertos ao livre mercado.

"Estamos na porta (do acordo) e agora temos que mostrar um grande compromisso político para persuadir nossos sócios europeus", disse o chanceler argentino Jorge Faurie, após se reunir em Brasília com seu equivalente Aloysio Nunes, na última sexta-feira.

O chanceler paraguaio, Eladio Loizaga, declarou, nesta segunda, estar "confiante" de que vão conseguir fechar as negociações até dezembro.

Interesses alinhados

Para o economista e internacionalista argentino Dante Sica, "pela primeira vez depois de muitos anos há uma possibilidade maior de alcançar um acordo".

"A Europa está muito mais inclinada à negociação e, de alguma maneira, os interesses de ambas partes estão alinhados", disse à AFP o especialista, diretor da consultoria Abeceb.

Contudo, mesmo com a conjuntura política favorável e a disposição dos dois blocos de fazer um contrapeso ao protecionismo crescente, o funcionamento efetivo do acordo pode demorar anos.

A UE "pode fechar um compromisso com o Mercosul como o que assinou recentemente com o Japão. Mas uma negociação complexa, que envolve os 28 países europeus, não tem data para acabar", disse à AFP Rosendo Fraga, diretor do Centro de Estudios Unión para la Nueva Mayoría, sediado em Buenos Aires.

A comissária europeia de Comércio, a sueca Cecilia Malmström, reconheceu recentemente que há "capítulos difíceis nos quais as posições ainda estão afastadas", concretamente o setor fitossanitário, as denominações de origem e a agricultura.

Em 2016, o comércio de bens entre os 28 países da UE, de um lado, e Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, do outro, superou os 80 bilhões de euros, segundo dados da Comissão Europeia

A cúpula também vai dedicar espaço às discussões sobre uma eventual negociação com a Aliança do Pacífico, integrada por Chile, Colômbia, México e Peru.

Macri, o anfitrião, vai passar a presidência "pro tempore" a Temer, que enfrenta um conturbado contexto político em casa, onde a Câmara dos Deputados vai decidir se envia a denúncia de corrupção contra o presidente ao Supremo Tribunal Federal.

A votação acontece em menos de duas semanas. A incerteza sobre a situação política no país lança uma sobra sobre a viabilidade de fechar o acordo até o fim do ano.

"O Brasil representa dois terços do grupo em população, território e PIB. Enquanto não resolver sua crise política, não há grandes chances de avanços" em matéria de acordos, opinou Fraga.

Crise na Venezuela

Ainda que não esteja na agenda oficial do encontro, a Venezuela, que vive uma crise política e econômica, vai ser uma pauta em Mendoza.

Fraga antecipa uma resolução sobre o país, "mas não está claro seu alcance".

A Venezuela ingressou no bloco em 2012, foi suspensa como membro de pleno direito em dezembro de 2016, em meio ao agravamento da crise.

Após quase quatro meses de protestos que deixaram 97 mortos, a oposição venezuelana realizou, no domingo, uma consulta simbólica contra a Assembleia Constituinte convocada por Nicolás Maduro.

"O governo do presidente Maduro e sua gestão política vão ter que dar uma resposta", disse o chanceler paraguaio.

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