Economia

Em 2 meses, menos de 3% do crédito de R$ 83 bi saiu do papel

Medida anunciada em janeiro teve implantação tímida até agora - apenas R$ 2,3 bilhões dos R$ 83 bilhões totais foram desembolsados


	Crédito: pacote do governo está travado devido ao pouco apetite por empréstimos, endividamento alto e falta de confiança na economia do país.
 (Bloomberg)

Crédito: pacote do governo está travado devido ao pouco apetite por empréstimos, endividamento alto e falta de confiança na economia do país. (Bloomberg)

DR

Da Redação

Publicado em 29 de março de 2016 às 08h50.

Brasília - O governo vem falando em novas medidas para impulsionar o crédito, mas o pacote anunciado há exatos dois meses para irrigar setores como habitação, agricultura, infraestrutura e pequenas e médias empresas continua praticamente no papel.

Levantamento feito pela reportagem com números dos bancos oficiais e do FGTS mostra que, até o momento, apenas 2,7% - ou R$ 2,24 bilhões - dos R$ 83 bilhões prometidos para reanimar a economia foram efetivamente desembolsados.

O pacote anunciado em janeiro conta com recursos do FGTS e de bancos públicos. Após dois meses, está travado por uma série de fatores, entre eles, segundo analistas, o pouco apetite de famílias e empresas em tomar empréstimos neste momento, com endividamento alto e falta de confiança no rumo da economia do país.

Responsável pelo anúncio, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, disse que havia restrições de oferta na maioria das linhas que receberam incremento.

Antes do anúncio, o ministro havia rebatido as críticas de quem afirmava que não havia demanda por mais crédito dizendo que era necessário "levar o cavalo à água para ver se ele quer bebê-la".

Para o mercado, pelo jeito, não quer. "As pessoas estão mesmo é com medo de ficar desempregadas e as empresas, inseguras com o rumo da economia. Esse cenário é totalmente desfavorável para pegar mais crédito", disse o economista Alberto Furuguem, ex-diretor do Banco Central.

De acordo com os números mais atuais do BC, o endividamento das famílias - calculado pelo estoque das dívidas com os bancos sobre o total de salários e benefícios sociais - estava em 46% no fim de 2015. Pelos cálculos da instituição, 22% da renda das famílias todo mês é gasta para o pagamento de dívidas.

Além da falta de demanda, algumas medidas precisam do aval do Congresso para sair do discurso para a prática. É o caso do uso da multa e de parte do saldo do FGTS como garantia de crédito consignado para trabalhadores do setor privado demitidos sem justa causa.

A expectativa do governo era liberar R$ 17 bilhões nessa modalidade, mas a equipe econômica sequer enviou a medida provisória (MP) para a medida entrar em vigor.

Safra

O melhor desempenho foi do Banco do Brasil no crédito rural. Mesmo assim, o banco conseguiu desembolsar R$ 1,4 bilhão em financiamento para a safra 2016/2017 dos R$ 10 bilhões anunciados.

Os recursos, para pré-custeio da safra, devem ser liberados aos produtores rurais até 30 de junho. O banco começou a operar a linha em 1º de fevereiro. Em análise, no momento, estão mais R$ 1,7 bilhão em propostas.

O fundo de investimento que usa recursos do FGTS para aplicar em infraestrutura (FI-FGTS) aprovou, após o anúncio do pacote, em duas reuniões, R$ 836,5 milhões para três projetos, apenas 3,8% do total de R$ 22 bilhões prometidos para o setor.

A empresa de logística Cone recebeu R$ 550 milhões em participação societária, a de energia Ventos de São Clemente foi financiada com R$ 180 milhões e o fundo aplicou R$ 106,5 milhões em um projeto de energia na Amazônia.

Para o crédito imobiliário, o conselho curador do FGTS aprovou, no fim de fevereiro, usar R$ 10 bilhões para adquirir Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI), mas a programação é que os recursos sejam liberados em três fases.

Os desembolsos da primeira parcela, de R$ 4 bilhões, vão até o fim de maio. Outros R$ 3 bilhões serão liberados até o fim de agosto e mais R$ 3 bilhões, até o fim de novembro.

Segundo o conselho, pelo menos R$ 1,8 bilhão de cada parcela deve ser destinado à habitação popular, na maior parte para financiar, com juros mais baixos, imóveis novos.

Os recursos do BNDES eram divididos em três produtos: para capital de giro de pequenas empresas (R$ 5 bilhões), para investimento em máquinas e equipamentos (R$ 15 bilhões) e para empresas exportadoras (R$ 4 bilhões).

Segundo o banco, as linhas começaram a entrar em vigor na primeira semana de março, depois dos ajustes nas plataformas de tecnologia das instituições que repassam o dinheiro do BNDES, o que fez com que houvesse um intervalo entre o anúncio, a adaptação dos sistemas e a entrada efetiva em operação.

"Ainda é cedo para avaliação específica sobre o desempenho das mudanças anunciadas", disse, em nota, o BNDES.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:BancosCréditoFGTSFinançasGoverno

Mais de Economia

MP do crédito consignado para trabalhadores do setor privado será editada após o carnaval

Com sinais de avanço no impasse sobre as emendas, Congresso prevê votar orçamento até 17 de março

Ministro do Trabalho diz que Brasil abriu mais de 100 mil vagas de emprego em janeiro

É 'irrefutável' que vamos precisar de várias reformas da previdência ao longo do tempo, diz Ceron