Economia

Em Davos, Brasil aparece mal na foto

A passagem do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, parece ter produzido resultados escassos


	Ministro da Fazenda do Brasil, Nelson Barbosa: a passagem do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, parece ter produzido resultados escassos
 (REUTERS/Ueslei Marcelino)

Ministro da Fazenda do Brasil, Nelson Barbosa: a passagem do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, parece ter produzido resultados escassos (REUTERS/Ueslei Marcelino)

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Da Redação

Publicado em 24 de janeiro de 2016 às 09h46.

Davos - O Brasil em crise continuará com o passo errado num cenário global de recuperação, com os Estados Unidos liderando o crescimento no mundo rico e a China ainda avançando, embora mais lentamente que nos últimos 25 anos.

Os mercados têm reagido com exagero a alguns sinais considerados negativos, como a queda dos preços do petróleo, mas deverão acomodar-se.

Isto resume as conclusões moderadamente otimistas de um grupo de líderes - incluídos o ministro do Tesouro do Reino Unido, George Osborne, e a diretora gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde - reunidos ontem no painel sobre perspectivas econômicas globais do Fórum Econômico Mundial.

A economia brasileira deve encolher 3,5% neste ano e ficar estagnada no próximo, enquanto o produto bruto mundial deve crescer 3,4% e 3,6%, de acordo com as novas projeções do FMI, aceitas de modo geral pelos participantes do painel.

A maior parte dos emergentes continuará afetada pela baixa de preços dos produtos básicos e pelas condições menos favoráveis do mercado financeiro, mas quase todos terão desempenho melhor que o do Brasil.

A China, segunda maior economia do mundo, deve completar seu ajuste com um pouso suave, concordaram todos os participantes da discussão.

O ajuste já iniciado inclui uma alteração nos motores do crescimento chinês - da exportação para o mercado interno, do investimento para o consumo e da indústria para os serviços.

Outro emergente, a Índia, deverá liderar o crescimento mundial, com avanço previsto de 7,5% neste ano. Para a economia indiana as cotações menores do petróleo são um fator positivo e uma justificativa a mais para o bom humor exibido pelo ministro das Finanças, Arun Jaitley, participante do painel.

Também o Japão, há algum tempo em convalescença de duas décadas de recessão, deve continuar em crescimento, com expansão de1% prevista para este ano e uma das taxas de desemprego mais baixas do mundo, cerca de 3%.

Mas o presidente do Banco do Japão (banco central), Haruhiko Kuroda, teve de reconhecer mais uma vez um insucesso parcial. A inflação anual continua abaixo de 2%, apesar do afrouxamento monetário iniciado em 2013.

A explicação, desta vez, é a baixa das cotações do petróleo, mas nem tudo é má notícia. Descontados os preços da energia e dos alimentos, a inflação chegou a 1,2%.

Se for necessário, a política monetária poderá ser afrouxada mais um pouco, prometeu Kuroda. No ano passado ele já teve de explicar, numa discussão em Davos, por que o BC japonês falhou na tentativa de criar uma inflação de 2%.

Pelo menos desse constrangimento as autoridades brasileiras estão livres em Davos. No máximo, podem ter alguma dificuldade para explicar como se pode combinar uma inflação desse tamanho com uma retração econômica igual ou superior a 3,5%.

Quem primeiro chamou a atenção para a reação excessiva dos mercados foi o executivo principal do banco Crédit Suisse, Tidjane Thiam. Ele classificou este começo de ano como o pior já registrado e classificou como um exagero o temor de um pouso acidentado (hard landing) da China. Quanto aos preços baixos do petróleo, são um bônus, segundo ele, para a economia mundial.

A diretora gerente Christine Lagarde reafirmou a expectativa de uma modesta aceleração do crescimento global, de 3,1% em 2015 para 3,4% neste ano e 3,6% no próximo. Concordou com a crença em um ajustamento chinês sem maiores problemas. "Há dez anos", comentou, "ouço falar de um hard landing da China e isso jamais aconteceu".

Chamou a atenção, no entanto, para alguns fatores de risco, especialmente importantes para os emergentes, como a baixa de preços das commodities, incluído o petróleo, e a assincronia das políticas monetárias das grandes economias, com aperto nos Estados Unidos e afrouxamento na zona do euro e no Japão.

O desvio de capitais para os Estados Unidos, com dólar forte, juros altos e economia em expansão, é um dos riscos associados à divergência das políticas dos bancos centrais.

Apesar do problema das commodities, o desempenho recente e as perspectivas dos emergentes diferem muito. Brasil e Rússia, lembrou, apresentam os piores números, mas por diferentes fatores. Christine Lagarde se dispensou de detalhar o assunto, mas explicações têm aparecido nos cenários globais divulgados pelo FMI.

As dificuldades da Rússia estão vinculadas a questões geopolíticas, como conflito com a Ucrânia, às sanções comerciais impostas por grandes potências do Ocidente e, enfim, à desvalorização do petróleo.

Ao tratar do Brasil, os documentos do Fundo têm realçado os grandes desajustes nas contas públicas, a inflação elevada e o baixo potencial de crescimento decorrente de limitações como as deficiências da infraestrutura e a baixa produtividade da mão de obra.

O ministro George Osborne mostrou confiança em relação às perspectivas de crescimento do Reino Unido e quase se limitou a falar sobre os problemas da relação com a União Europeia.

Mal na foto

O painel sobre a economia global é um dos mais tradicionais e concorridos do Fórum Econômico Mundial.

O Brasil apareceu mal nesse painel, mas a imagem do País já estava em deterioração nos últimos anos, com crescimento bem inferior ao de outros emergentes, incluídos vários latino-americanos, fundamentos em mau estado e nenhuma perspectiva crível de mudança.

A passagem do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, parece ter produzido resultados escassos, segundo avaliação de veteranos frequentadores de Davos.

As exposições ouvidas num almoço com autoridades sul-americanas mostraram mais claramente as diferenças entre Brasil e outros países da região, comentou o economista Ricardo Hausmann, professor de Harvard.

As tentativas do ministro brasileiro de mostrar um esforço de ajuste foram consideradas pouco convincentes, até porque a execução da política orçamentária dependerá de um apoio parlamentar ainda muito duvidoso - para a aprovação de uma nova CPMF, por exemplo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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