Economia

“Eike não veio pedir ajuda”, diz Mantega sobre encontro com o empresário

Ministro da Fazenda afirmou que está difícil adivinhar o PIB de 2012 e destacou a extensão da desoneração da folha de pagamento a mais setores – incluindo serviços

Guido Mantega: "o governo reduz juros, melhora o câmbio, reduz o custo tributário, alguma coisa o setor privado tem que fazer", afirmou (Ueslei Marcelino/Reuters)

Guido Mantega: "o governo reduz juros, melhora o câmbio, reduz o custo tributário, alguma coisa o setor privado tem que fazer", afirmou (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 4 de julho de 2012 às 20h23.

São Paulo – Eike Batista não foi pedir ajuda para o governo, segundo o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, que reuniu-se com o empresário na tarde de ontem. Eike foi mostrar o projeto do Porto de Açu, segundo o Ministro. “É uma coisa moderna, importante para o país e foi isso que ele veio mostrar”, disse Mantega à EXAME.com.

O encontro foi realizado depois que as as ações da OGX cairam mais de 40% em dois dias. A queda ocorreu depois que a empresa revisou sua projeção de exploração – que caiu progressivamente de 40 mil barris/dia para 5 mil barris/dia.

O ministro também desconversa quando o assunto é o crescimento do PIB em 2012. “Está difícil adivinhar o PIB desse ano”, afirmou. A volatilidade e a incerteza do momento atual impedem a previsão na opinião do Ministro. 

O último boletim Focus, que mede as expectativas do mercado, rebaixou novamente sua expectativa de crescimento do PIB em 2012, dessa vez para 2,05%. Mantega não dá a previsão do ano, mas diz que, sem olhar pra trás – ou seja, para os números do primeiro semestre – será possível crescer entre 3,5% e 4% nesse ano.

Mantega destacou que a desoneração da folha de pagamento que entrará em vigor em agosto, beneficiando 15 setores, será estendida a outras áreas. Entre os setores que já manifestaram interesse no benefício está o alimentício, segundo o Ministro, que prometeu levar a desoneração ao setor de serviços. Leia a entrevista:

EXAME.com - Como foi a reunião realizada ontem com Eike Batista?

Guido Mantega - Boa. Ele não veio pedir ajuda, veio mostrar o projeto do Porto de Açu, ele já havia me mostrado quando ainda estava na planta. É um polo muito interessante, é um conceito avançado de polo produtivo que combina uma série de atividades, tem sinergias entre elas e agora ele veio me mostrar o estado da arte. Ele está tentando me levar lá, mas eu não fui, não tive tempo de ir, mas gostaria, porque é um dos projetos mais modernos, portanto veio me convidar mais uma vez para ir lá ver o que está acontecendo. Muita coisa está acontecendo ali porque tem mineração, siderúrgica, insumos, atividade portuária, de suporte para o setor de gás e energia... É uma coisa moderna, importante para o país e foi isso que ele veio mostrar. 

EXAME.com- Quais setores estão precisando da desoneração da folha de pagamento ou já entraram em contato com o Ministério para pleitear o benefício?

Mantega - Do setor industrial, vários estão precisando, como papel e celulose e a indústria de cabotagem. A indústria alimentícia fez hoje uma demanda de que gostaria de entrar e ela é tão forte quanto a indústria automobilística em termos de peso no PIB. 


Vai começar uma nova rodada de desoneração que vai reduzir o custo Brasil nesse quesito, de modo a continuar aumentando a competitividade. Não vou precisar quantos setores, mas será um número grande e pretendemos estender para o setor de serviços. O setor de serviços, que é o que mais emprega, vai ter benefício de redução de custo da folha do INSS patronal.

EXAME.com - Até agora foi feita a renovação de medidas de incentivo, como a redução do IPI da linha branca. Há alguma medida nova no radar?

Mantega - Estamos procurando estimular a inovação e o aumento da produtividade porque também tem uma parte que é de responsabilidade das empresas. Elas não podem só depender de medidas do governo. O governo reduz juros, melhora o câmbio, reduz o custo tributário, alguma coisa o setor privado tem que fazer.  Eles têm que aumentar inovação tecnológica, aumentar emprego, aumentar produtividade. Cabe a eles também fazer a sua parte. Ainda temos muito para avançar na questão do spread. O custo financeiro ainda pode cair bastante. Isto permitiria a redução do endividamento, da inadimplência e a inclusão de novos segmentos no mercado de consumo.

EXAME.com - Podemos esperar mais pressão dos bancos públicos sobre o spread?

Mantega - Os bancos públicos estarão permanentemente em pressão. Eles estão aumentando seus créditos para o setor privado e hoje respondem por 45% do crédito, os privados, por 55%. Eu gostaria que os bancos privados aumentassem mais. 

EXAME.com - O senhor está bastante relutante em dar a previsão de crescimento do PIB em 2012. Por que?

Mantega - Porque nós vivemos um momento de volatilidade e incerteza. Fica difícil adivinhar o PIB esse ano. O Banco Central tem o PIB deles e nós, em vez de fazermos previsão, temos que buscar o resultado. O nosso objetivo é criar as condições para buscar um resultado melhor. O que eu disse hoje é que podemos, no segundo semestre, sem olhar pra trás, mas olhando pra frente, buscar um PIB de 3,5%, 4% no semestre. O primeiro semestre foi fraco, de certa forma já passou. Mas, olhando pra frente, nós temos as condições de buscar um PIB entre 3,5% e 4% desde que cada um faça sua parte. 


EXAME.com - Os últimos dados do IBGE indicaram uma queda na produção industrial brasileira em maio, apesar de todas as medidas anunciadas pelo governo, o que ainda falta fazer para obter crescimento?

Mantega - Muita coisa já foi feita, mas ainda não deu tempo de surtir efeito na economia. São medidas de mais longo prazo como, por exemplo, a queda da taxa de juros. Sabemos que o resultado dessa política monetária leva vários meses para acontecer. A desvalorização do real, que é outra medida que tem impacto grande na economia, também não teve tempo de exercer todo seu efeito, pois alguns setores já haviam vendido produtos no mercado futuro. Existe um período de adaptação da economia a essa nova realidade, esse novo quadro de juros e câmbio que muda completamente a competitividade da empresa brasileira. Mas isso é algo que leva tempo, porque as pessoas estão posicionadas em um segmento e tem que se reposicionar. 

EXAME.com -  Quando o efeito dessas medidas será sentido?

Mantega - É difícil sentir o estímulo à exportação mesmo com essa desvalorização do real porque o mercado internacional está muito ruim. O fato é que nesses últimos seis meses houve um agravamento da crise internacional que obscureceu essas mudanças que estavam em curso. 

Outra medida importante que ainda não teve tempo de repercutir foi a desoneração da folha de pagamento, que foi feita para 15 setores industriais, e por causa da lei só começa em agosto. Ao lado das grandes medidas estruturais há medidas pontuais, para socorrer setor, como a redução do IPI da linha branca que tem surtido grande efeito. Automóveis, nós só reduzimos o IPI em maio, só na última semana de maio entrou em vigor a desoneração do setor automobilístico e em junho ele deu uma grande elevada, as vendas cresceram mais de 30%. 

EXAME.com - Então esses números apresentados pelo IBGE refletem mais a crise internacional?

Mantega - Os números da indústria são de maio e refletem principalmente dois setores que tiveram um mau desempenho, o setor automobilístico e de caminhões e ônibus. O de caminhões e ônibus sentiu a entrada do Euro 5, que antecipou vendas para o ano passado e deixou um buraco sem vendas. Na semana passada anunciamos um programa de compras de caminhões pelo governo (PAC Equipamentos).

Há medidas estruturais, que estimulam o investimento e algumas poucas medidas pra estimular o consumo, tem mais medidas para investimento que pra consumo e tem mais medidas que dão uma competitividade sistêmica para a economia brasileira, como o câmbio menor, o juro mais baixo, a atração pela produção que só vai maturar no segundo semestre desse ano.

É claro que a crise internacional tem um impacto na economia brasileira, como tem no mundo inteiro. E essa crise é mais grave do que se achava. Em termos de gravidade essa crise tem se aproximado muito das consequências e repercussões da crise de 2008. 

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