Ajay Banga começou seu primeiro dia como presidente do Banco Mundial, nesta sexta-feira, 2 de junho de 2023 (AFP/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 4 de janeiro de 2024 às 07h46.
Última atualização em 4 de janeiro de 2024 às 07h47.
A luta contra as mudanças climáticas e a transição energética, que requerem trilhões de dólares, não serão possíveis sem o apoio financeiro do setor privado, destacou o presidente do Banco Mundial (BM), Ajay Banga, em uma entrevista à AFP.
No entanto, para convencer as empresas a se engajarem nessas iniciativas, a instituição sediada em Washington deve continuar suas reformas e acelerar a execução de seus projetos, acrescentou o líder, reconhecendo a necessidade de que o BM seja "mais rápido e focado em resultados".
"Os governos e os bancos multilaterais não têm dinheiro suficiente" para financiar sozinhos a luta contra o aquecimento global, disse Banga. "Precisamos que o setor privado se envolva".
Um relatório do G20 publicado em junho destacava a necessidade de triplicar o capital do Banco Mundial, "uma ideia excelente", segundo seu presidente, mas "insuficiente para alcançar os trilhões" necessários "só para a transição energética".
Banga, que assumiu a chefia do BM em junho, tem pressionado desde que assumiu o cargo para obter um banco "mais eficiente e melhor financiado" capaz de responder à sua missão renovada: "Erradicar a pobreza em um planeta habitável".
Para alcançar isso, "o banco deve mudar e evoluir, um ponto que foi enfatizado claramente mesmo antes de minha chegada", lembrou. Uma evolução que é essencial para "criar a credibilidade necessária e fazer com que os financiadores queiram contribuir com dinheiro" para as iniciativas apoiadas pelo BM.
Em particular, a instituição deve reduzir os prazos de execução de seus projetos, um dos principais objetivos estabelecidos por Banga, que espera reduzir em 30% os 27 meses que atualmente são necessários entre as discussões preliminares e os primeiros desembolsos.
Em termos mais gerais, as reformas em andamento deveriam tornar mais eficiente o funcionamento cotidiano da instituição, permitindo-lhe ao mesmo tempo continuar "fazendo seu bom trabalho". "Lembre-se de que no ano passado fornecemos US$ 120 bilhões [R$ 590 bilhões] em financiamento, não podemos cortar isso".
Baga se descreve como "um encanador", que quer garantir que o banco "funcione como uma máquina bem lubrificada" para que seu "sucessor, que enfrentará outros problemas, possa se concentrar neles, não na encanação".
Mas também é preciso mostrar aos países mais pobres que a luta contra as mudanças climáticas não tem prioridade sobre a redução da pobreza, missão primordial da instituição, admitiu Banga.
"Os países do Sul reconhecem que não podemos combater a pobreza sem combater as mudanças climáticas, mas a diferença é o que entendemos por 'mudanças climáticas'", destacou.
"Para os países desenvolvidos, significa limitar as mudanças climáticas, e isso envolve emissões de gases de efeito estufa, enquanto o mundo em desenvolvimento pensa em termos de adaptação, porque veem o impacto do aquecimento global em termos de irrigação, precipitação, degradação do solo e perda de biodiversidade", explicou.
Em resposta, o BM anunciou que 45% de seu financiamento será destinado a projetos para "limitar ou se adaptar" às mudanças climáticas, "metade para limitação e a outra metade para adaptação".
"Isso é importante para os países beneficiários, porque podem ver que metade dos 45% é destinada a questões que os afetam, e que os 55% restantes ainda estão disponíveis. Para os países doadores, saber que metade dos 45% é destinada a projetos de mitigação é algo importante", acrescentou Banga.
"Devemos alcançar esses compromissos para mostrar aos doadores e beneficiários que o banco está tentando avançar na direção certa", continuou.
Mas também é necessário tranquilizar "os países do Sul, que ainda estão esperando o dinheiro prometido na COP de Paris", ou seja, US$ 100 bilhões (R$ 490 bilhões) para financiar sua transição climática, mas que nunca chegou, reconheceu.
Mais recentemente, a ajuda massiva à Ucrânia, especialmente através do BM, gerou críticas na África, onde foi vista como um sinal de que a instituição dava prioridade a questões consideradas importantes pelos países desenvolvidos em detrimento das demais.
Foi um "mal-entendido", afirmou Banga, lembrando que "o Banco Mundial destina muito mais dinheiro à África subsaariana do que à Ucrânia", já que a grande maioria dos fundos destinados ao país europeu provém dos países doadores.
Mas agora há "vontade" por parte dos países do Norte "de disponibilizar o financiamento necessário aos países mais pobres, e a mensagem chegou aos países desenvolvidos", insistiu.