Economia

Economistas sugerem mudança na política macroeconômica

Silvio Campos Neto defendeu que o cenário de vulnerabilidade apontado pela Moody's mostra a necessidade de mudanças


	Terminal de exportação no Porto de Santos: economistas também consideram que é preciso ter mais investimentos em infraestrutura 
 (Jean-Pierre Pingoud/Bloomberg News)

Terminal de exportação no Porto de Santos: economistas também consideram que é preciso ter mais investimentos em infraestrutura  (Jean-Pierre Pingoud/Bloomberg News)

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Da Redação

Publicado em 3 de outubro de 2013 às 23h37.

São Paulo - O economista Silvio Campos Neto, da empresa de consultoria Tendências, defendeu hoje (3) que o cenário de vulnerabilidade da economia brasileira apontado pela agência de classificação de risco Moody's mostra a necessidade de mudanças na política macroeconômica.

Na noite de ontem (3), a Moody's reduziu a perspectiva da nota da dívida soberana do Brasil de positiva para estável. A decisão repercutiu no mercado durante todo esta quinta-feira. Segundo a agência, a redução deve-se à deterioração da dívida em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), soma de todos os bens e serviços produzidos no país, e a menores taxas de investimentos.

Na avaliação de Campos Neto, é preciso, principalmente, reduzir as concessões de crédito para os bancos públicos já que isso implica aumento da dívida pública. O economista observou que, ao reduzir a perspectiva da nota da dívida soberana do Brasil de positiva para estável, a agência ratificou um sentimento já presente no mercado de “uma piora nas condições econômicas do país de modo que o risco hoje é muito mais no sentido de um rebaixamento de um rating [nota de classificação] do que de uma elevação”.

Ele lembrou que os resultados ruins dos últimos três anos já têm provocado queda na entrada de capitais e até uma certa fuga desses capitais, cujo efeito é a desvalorização de ativos. Mesmo com pequena melhora do cenário no segundo trimestre, Campos Neto avalia que “há um consenso de que temos uma política excessivamente intervencionista com aspectos de deterioração das contas públicas, das decisões fiscais e da própria política monetária, que, hoje, já não busca mais a meta de inflação”.

Para o analista, é até possível uma melhora da economia no curto prazo, mas, olhando para o futuro, avalia que as empresas não se sentem tão seguras para tomar decisões relativas a investimentos. Na projeção dele, neste ano, pode-se chegar a um crescimento de 2,4% no PIB e de 2,1%, em 2014.

Já o presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon) e da Ordem dos Economistas, Manuel Enriquez Garcia, considera que o Brasil tem chances de reverter a posição colocada pela Moody's. Mais do que um alerta aos investidores, os pontos desfavoráveis, na opinião do economista, servem como um alerta para que as autoridades brasileiras possam tomar medidas de retomada do crescimento econômico. Ele acentuou que, em seu comunicado, a agência mostrou que “hoje ainda é excelente a capacidade de o Brasil honrar os seus compromissos”.

Para Garcia, a Moody's levou em consideração o baixo crescimento da economia. Ele acredita que os investimentos em infraestrutura são a saída para mudar essa posição porque a estratégia de estimular o consumo das famílias já se esgotou. “O governo parece que acordou pois está tentando fazer uma série de leilões, de concessões de obras públicas”, ressaltou.

O economista Samy Dana, da Fundação Getulio Vargas (FGV), considerou a avaliação da Moody's como preocupante e algo que pode significar a fuga de investidores. “Os fundos de pensão americanos, que têm trilhões de dólares, têm por regra investir apenas em países com determinado grau de risco. Com esse rebaixamento, a gente perde o interesse desses fundos e, consequentemente, perde a entrada de dólares”, avalia.

Além disso, Dana destacou a possibilidade de influência negativa na decisão de empresários em investir em atividades produtivas no Brasil. A curto prazo, ele não vê medidas que possam reverter esse cenário. O economista também considera que é preciso ter mais investimentos em infraestrutura e defende ainda uma antiga reivindicação do setor privado, de uma profunda reforma tributária.

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