Economia

Economistas são mais gananciosos e egoístas, diz professor

Adam Grant, da Wharton School, afirma que só de pensar em economia, pessoa já pode ter a capacidade para compaixão diminuída

EXAME.com (EXAME.com)

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João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 2 de novembro de 2013 às 07h00.

São Paulo - Economistas são mais egoístas e gananciosos e menos justos e cooperativos do que a média da população. Essa é a polêmica tese do professor Adam Grant, apresentada em um post no site Psychology Today na semana passada. PhD em psicologia organizacional, Grant é professor em Wharton, uma das mais prestigiadas escolas de negócios do mundo.

Em abril deste ano, ele lançou o livro "Give and Take: a Revolutionary Approach to Success" (numa tradução livre, "Dar e Receber: Uma Abordagem Revolucionária para o Sucesso"), que se tornou um best-seller. A obra trata do potencial de sucesso de pessoas com estilos de atuação generosos e cooperativos.

Agora, Grant escolheu os economistas como alvo. O conceito do auto-interesse como motivação dos agentes econômicos é uma dos pilares da teoria delineada por Adam Smith em seu clássico "A Riqueza das Nações", de 1776. Grant acredita que a ideia foi levada longe demais pelos economistas, e oferece algumas evidências.

Estudos

Uma delas é um estudo liderado pelo professor Robert Frank, da Universidade de Cornell, que indicou que professores de economia nos Estados Unidos doam menos para a caridade do que os de áreas como física, filosofia e psicologia, entre outras.

Pior: comparados com os de outros campos de atuação, os professores de economia tinham o dobro da probabilidade de não doarem sequer um centavo.

Em um outro trabalho, professores da Northwestern, Harvard e da Universidade de Hong Kong notaram que estudantes que haviam realizado três ou mais aulas de economia tinham mais chances de classificar a ganância como algo "correto" e "moral" do que os alunos de outras disciplinas.

O próprio Grant, em parceria com colegas, fez um experimento: reuniu diretores, presidentes e gerentes de empresas que supervisionavam uma média de 140 empregados cada e deu a cada um deles frases aleatórias para montar.

Em seguida, estes chefes tiveram que escrever uma carta comunicando a um funcionário uma má notícia, como uma transferência indesejada ou uma bronca por atrasos. Aqueles que haviam montado frases com temas econômicos escreveram cartas com menos compaixão.


Investigações sobre a questão dos "free riders" - aqueles que usufruem de um benefício público sem contribuir para ele - chegaram a conclusões semelhantes.

Em uma deles, estudantes recebiam uma quantia de dinheiro que podiam embolsar ou contribuir para um fundo comum, que seria então dividido igualmente entre todos os participantes. Na média, a contribuição era de 49% - entre os estudantes de economia, era de 20%.

Mesmo que se aceite a tese de Grant como verdadeira, isso não explica o porquê disso acontecer. Talvez pessoas com características comuns tenham a tendência de se concentrar em alguns campos de atuação, ou talvez estes valores e visões de mundo estejam sendo transmitidos através das escolas de economia e negócios. Há estudos para sustentar as duas hipóteses - que não são excludentes.

Respostas

Em um texto no site da Fundação para a Educação Econômica, instituição americana que defende o livre-comércio desde 1946, David J. Hebert rebate alguns dos argumentos de Grant. Ele escreve que "estudantes de economia reconhecem não que a ganância é boa, como diria o ditado, e sim que dado um arcabouço institucional adequado, a ganância pode ser transformada ao serviço de outros."

Ele cita nuances não levadas em conta nas perguntas de um dos estudos para afirmar que "nós estudantes de economia não advogamos pelos direitos de propriedade porque somos gananciosos; nós advogamos por eles porque entendemos e levamos a sério os problemas de incentivo na política".

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