Economia

Economistas lançam manifesto em apoio às críticas de Lula à política do BC

Economistas representantes do pensamento econômico desenvolvimentista encabeçaram e assinaram o manifesto "Taxa de Juros para a Estabilidade Duradoura: manifesto de economistas em favor do desenvolvimento do Brasil"

Edifício-Sede do Banco Central em Brasília (Agência Brasil/Reprodução)

Edifício-Sede do Banco Central em Brasília (Agência Brasil/Reprodução)

AM

André Martins

Publicado em 13 de fevereiro de 2023 às 13h52.

Endossando as críticas feitas pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, à política monetária contracionista do Banco Central (BC), economistas representantes do pensamento econômico desenvolvimentista encabeçaram e assinaram o manifesto "Taxa de Juros para a Estabilidade Duradoura: manifesto de economistas em favor do desenvolvimento do Brasil". Puxado por economistas como Luiz Carlos Bresser-Pereira, Monica de Bolle, Luciano Coutinho, Luiz Gonzaga Belluzzo e Antonio Corrêa de Lacerda, o manifesto contava, até esta segunda-feira, 13, com mais de 2.400 assinaturas.

As críticas do presidente Lula à política monetária do BC ganharam força na segunda-feira da semana passada, durante a cerimônia de posse do petista Aloizio Mercadante como presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), um dia antes de o BC divulgar a ata do Copom.

Com base apenas no conteúdo do comunicado que se seguiu ao término do Copom na quarta-feira, 2, o presidente da República vociferou que a explicação para justificar a manutenção da Selic em 13,75% ao ano "é uma vergonha". Desde então se instalou no mercado financeiro um acalorado debate entre defensores do discurso de Lula e os apoiadores da política monetária.

O debate tomou várias direções na imprensa. Alguns especialistas entenderam que o debate iniciado por Lula é legítimo, mas que o timing da discussão não seria o mais correto e que antes seria preciso estabelecer um conjunto de regras fiscais, como vem prometendo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Outros disseram que Lula está correto, que a taxa nominal de juros está fora do lugar, e uma outra linha demonstrou contrariedade diante das palavras do mandatário, alegando que o embate é contraproducente e que, no fim, seria ruim para o próprio governo.

Na esteira deste debate é que economistas da linha de pensamento econômica desenvolvimentista acharam por bem elaborar o manifesto cuja íntegra segue abaixo.

"TAXA DE JUROS PARA A ESTABILIDADE DURADOURA: MANIFESTO DE ECONOMISTAS EM FAVOR DO DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

A eleição de outubro renovou as esperanças de que o Brasil possa reencontrar os caminhos para a estabilidade política e um lugar respeitável no mundo. O Brasil precisa de paz e de perspectivas. O mundo precisa da estabilidade do Brasil. O presidente Lula tem sabido enfrentar, desde 30 de outubro, alguns dos desafios mais sérios, a começar pela trama da contestação dos resultados das urnas e as arruaças promovidas pelos maus perdedores, bem como soube construir um orçamento viável para as emergências amplamente reconhecidas.

O governo de amplo espectro mostra o compromisso com a inclusão e a governabilidade. Mas é preciso mais. A superação dos desafios brasileiros só pode ser alcançada com uma nova política econômica, promotora de crescimento e prosperidade compartilhada. A razoabilidade da taxa de juros é uma condição indispensável para a normalidade econômica. Sem isso, os investimentos perderão para as aplicações financeiras e as remunerações do trabalho e da produção vão perder para a especulação. A taxa de juros no Brasil tem sido mantida exageradamente elevada pelo Banco Central e está hoje em níveis inaceitáveis.

O discurso oficial em sua defesa não encontra nenhuma justificativa, seja no cenário internacional ou na teoria econômica e o debate precisa ser arejado pela experiência internacional. Nenhum dos países dotados de recursos e economias estruturadas possui uma taxa de juros sequer próxima da que prevalece no Brasil e que o Banco Central pretende manter por longo período. E todos esses países reconheceram o caráter excepcionalíssimo do surto inflacionário recente, explicado pela pandemia e pelo conflito bélico, não por excesso de demanda.

O Brasil só poderá alcançar os objetivos da estabilidade econômica, política e institucional se juntos formos capazes de aumentar a produção e a produtividade, os empregos e os bons empregos, além dos serviços que são prestados à população e aos mais carentes. O estrangulamento das atividades produtivas e criadoras não é uma solução. As empresas precisam investir para aumentarem a produção e a qualidade e sustentabilidade dos seus produtos e o uso econômico da biodiversidade. As obras de infraestrutura precisam ser retomadas para proverem serviços com custos mais reduzidos para as empresas e as famílias. É no crescimento e no desenvolvimento que o Brasil pode superar as turbulências que nos afligiram.

A excepcionalidade do momento exige serenidade, mas isso não significa se conformar com caminhos estéreis. Precisamos recolher da experiência internacional os melhores ensinamentos e aplicá-los à nossa realidade. E na nossa realidade há hoje muito mais oportunidades de investimento e criação de novas riquezas do que na maior parte dos países. O Brasil, sem as amarras de uma política monetária inadequada, poderá finalmente buscar os verdadeiros equilíbrios, aqueles que são a razão da política econômica: eliminação da pobreza, redução das desigualdades, preservação da natureza e sustentabilidade.

O momento é excepcional também pelo contexto político. A história mostra que o desemprego e a depressão econômica são substrato para a emergência do fascismo, do militarismo, da xenofobia e do ataque a minorias, avançando sobre as instituições democráticas. Uma governança econômica que seja capaz de debelar o atual estado de estagnação e crise não é somente importante para a melhora das condições de vida da população, mas é também essencial para que retomemos uma trajetória de construção democrática.

Os economistas signatários deste manifesto declaram publicamente o apoio a uma política que seja capaz de reduzir substancialmente a taxa de juros, propiciando as condições para a retomada do desenvolvimento com estabilidade sustentável."

Acompanhe tudo sobre:JurosLuiz Inácio Lula da SilvaTaxas

Mais de Economia

ONS recomenda adoção do horário de verão para 'desestressar' sistema

Yellen considera decisão do Fed de reduzir juros 'sinal muito positivo'

Arrecadação de agosto é recorde para o mês, tem crescimento real de 11,95% e chega a R$ 201,6 bi

Senado aprova 'Acredita', com crédito para CadÚnico e Desenrola para MEIs