Economia

Economistas criticam política expansionista do governo

Juan Jensen, economista e sócio da Tendências Consultoria Integrada, disse que uma das maiores dificuldades da economia do Brasil é a gestão da política fiscal


	Jensen lembrou que, dias após o BC ter elevado em 0,5 ponto porcentual a taxa de juros, a presidente Dilma Rousseff anuncia mais uma linha de crédito para estimular o consumo
 (Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)

Jensen lembrou que, dias após o BC ter elevado em 0,5 ponto porcentual a taxa de juros, a presidente Dilma Rousseff anuncia mais uma linha de crédito para estimular o consumo (Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)

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Da Redação

Publicado em 14 de junho de 2013 às 17h04.

São Paulo - A condução expansionista da política fiscal pelo governo tira parte significativa do esforço que o Banco Central (BC) tem feito para reduzir o ímpeto da demanda agregada via elevação da taxa básica de juro, concordaram na tarde desta sexta-feira economistas que protagonizaram um debate sobre a economia do país no encerramento do evento Brasil Hospitality Investment Conference, organizado em São Paulo pela Questex Hospitality Group, empresa dos Estados Unidos que atua no setor de investimentos em hotelaria e comunicação.

Após elogiar a combinação da elevação da magnitude da taxa básica de juros com a desvalorização do real, nos últimos dias, o economista e sócio da Tendências Consultoria Integrada, Juan Jensen, disse que uma das maiores dificuldades da economia do Brasil é a gestão da política fiscal.

Jensen lembrou que, dias após o BC ter elevado em 0,5 ponto porcentual a taxa de juros, a presidente Dilma Rousseff anuncia mais uma linha de crédito para estimular o consumo. Ele referiu-se à abertura de uma linha de financiamento para que proprietários de imóveis dentro do Programa Minha Casa, Minha Vida possam comprar móveis e eletroeletrônicos.

"Agora, o BC está combatendo a inflação com aumento de juros. Ou seja, está promovendo uma correção de rumos tanto via política monetária como cambial. O problema é a condução da política fiscal. Basta ver o modelo adotado pela presidente Dilma para móveis da Minha Casa, Minha Vida", criticou, acrescentando que medidas desta natureza é que introduzem volatilidade no Produto Interno Bruto (PIB).


"De maneira geral, a gente concorda em vários pontos. Havia um grau de preocupação com a condução da política monetária nos últimos anos e isso parece ter acabado há duas semanas com o BC elevando a magnitude de alta da taxa de juros. Mas temos uma posição mais cética quanto à convicção deste governo em por que na mesma semana que o presidente do BC (Alexandre Tombini) reforça a intenção de combater a inflação a presidente Dilma anuncia mais uma linha de financiamento do consumo", disse o economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank (Besi Brasil), Jankel Santos.

Ele reforçou que economista não é contra pobres e nem contra crescimento. "Mas queremos ver nossa economia crescer dentro da nossa capacidade de crescer. Falta-me fé na convicção desta gestão em cortar gastos para economizar para momentos mais difíceis", disse.

Se falta convicção a Santos, o economista-chefe do Votorantim Wealth Management Services (WM&S), Fernando Fix, disse que a visão da instituição não é tão pessimista porque, além da mudança nas políticas monetária e cambial, que apontam para um rumo um rumo um pouco melhor, na política fiscal é possível que o governo comece a criar um ambiente um pouco melhor para a próxima gestão, seja ele eleita ou reeleita. "O próximo presidente, eleito ou reeleito, deverá encontrar um ambiente fiscal um pouco melhor que o atual", disse.

De acordo com o economista-chefe do Besi Brasil, na área fiscal, o governo brasileiro parece "aquele gordinho que se compromete em cortar consumo de açúcar comendo menos doce, mas que ao final do dia come uma caixa de mangas". "Ou seja, continua ingerindo uma grande quantidade de açúcar, mas argumenta que só está comendo frutas." Neste caso, segundo Santos, quem está mesmo disposto a cortar açúcar é o BC.

Sobre o comportamento do câmbio, Fix, da WM&S, lembrou que o real começou a se desvalorizar depois que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou o fraco crescimento, de 0,6%, do PIB no primeiro trimestre. Ele concorda que parte da valorização cambial possa estar atrelada às sinalizações de retomada da economia dos EUA, que poderá levar o país cortar estímulos à economia, mas avalia também que uma atividade que não cresce reduz a capacidade de atração de investimentos estrangeiros.


"O país que cresce pouco é um país com dificuldade de atrair investimento estrangeiro direto. Isso justifica a passagem do déficit em conta corrente de 2% para 3% do PIB neste ano. Não vai chegar a 4%, mas está na hora de começarmos a atacar as razões que deterioram a atratividade de investimentos", afirmou.

Conforme Santos, do Besi Brasil, a sinalização de que a taxa de juros norte-americana poderá começar a subir foi uma bênção para o Brasil. "A questão da taxa de juros acabou sendo uma bênção para nós. É como se dissesse que a linha que estamos segurando não é a melhor", afirmou. "Está na hora de corrigirmos o monte de besteiras que fizemos", declarou.

"Preocupa-me a insistência numa política inconsistente com vistas a ganhar a eleição no próximo ano. Não dá para acreditar que o governo vai soltar as contas agora para tomar medidas mais austeras depois das eleições. Pelas pessoas que estamos vendo como conselheiros da presidente Dilma, duvido que virão a público depois das eleições para dizer que vão cortar gastos e reduzir o consumo", desafiou.

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