Economia

Economistas criticam pacote do governo para conter crise

"Pior solução possível", diz ex-secretário de Dilma. "Uma reprise do Brasil", diz ex-diretor do Banco Central

 (Ueslei Marcelino/Reuters)

(Ueslei Marcelino/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 28 de maio de 2018 às 18h35.

Última atualização em 29 de maio de 2018 às 14h35.

São Paulo - Economistas ouvidos por EXAME criticaram as soluções apresentadas pelo governo para conter a greve dos caminhoneiros, que já dura uma semana e ainda não está equacionada.

O preço do diesel será reduzido em 46 centavos de reais por litro por 60 dias. Metade disso, ou 30 centavos, será bancada até o final do ano pela União.

Isso custará 9,5 bilhões de reais, cobertos por uma sobra de 5,7 bilhões de reais em relação à meta de déficit primário e 3,8 bilhões de reais via corte de despesas.

Os 16 centavos adicionais serão garantidos via redução de impostos dos combustíveis. O custo total é de 4 bilhões de reais, cobertos em parte pela reoneração da folha de pagamento e em parte pela alta de outros impostos ainda não especificados.

As informações dadas hoje pelo ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, confirmam: em plena crise fiscal, a margem de manobra do governo é mínima e a conta vai para o contribuinte.

"É uma reprise acelerada do Brasil: alguns grupos conseguem privilégios junto ao setor público e prejudicam um pouquinho um monte de consumidores. Setores pouco numerosos e muito articulados ganham dos muito numerosos e pouco articulados", resume Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC).

A Bolsa afundou 4,5%, com o menor patamar de fechamento desde 22 de dezembro de 2017, e o dólar foi para R$ 3,72.

Está embutido neste preço o temor de que outros grupos também tentem (e consigam) arrancar vantagens tributárias ou de outra natureza.

"O governo, mais fraco e sob pressão, demorou muito a agir e daí tomou decisões que foram flexibilizadas rapidamente", diz o economista Eduardo Velho.

Sobrou também para a Petrobras. Apesar de ter sido, em teoria, preservada financeiramente no novo modelo, ela está no foco e a própria permanência do presidente Pedro Parante é incerta.

Os petroleiros anunciaram greve a partir de quarta-feira e o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco (MDB-RJ), fala em uma nova política permanente de compensação à empresa.

Márcio Holland, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda no governo Dilma Rousseff, diz que isso é consequência do país ter radicalizado na precificação de combustíveis:

"A politica da Petrobras estava errada no governo anterior, porque tinha um abuso do poder controlador para segurar preços. Daí veio uma nova política em outro extremo insustentável: uma fonte importante de energia oscilando diariamente com o câmbio. Setor nenhum remarca preço diariamente", diz ele.

Teria sido melhor "aceitar um caminho transitório", com alguma média móvel, por exemplo. O acordo atual seria "a pior solução possível" pois "sobrou para o contribuinte a subvenção aos acionistas da empresa".

Para Schwartsman, a reclamação da volatilidade é uma desculpa para disfarçar a irritação com as altas. Lins concorda: "Quando a volatilidade é para baixo, ninguém reclama".

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