Economia

Economias mais ricas têm maior aumento salarial em uma década

A queda do desemprego nos EUA, no Japão e na zona do euro finalmente obriga as empresas a subirem os salários para reter e atrair mão de obra

Construção em Houston, no Texas: desemprego nos EUA está em baixa histórica (Spencer Platt/Getty Images)

Construção em Houston, no Texas: desemprego nos EUA está em baixa histórica (Spencer Platt/Getty Images)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 17 de setembro de 2018 às 13h47.

Última atualização em 17 de setembro de 2018 às 13h49.

Os trabalhadores dos países mais ricos do mundo estão conseguindo os maiores aumentos salariais em uma década, um passo rumo à solução de um quebra-cabeça do mercado de trabalho que desalenta os bancos centrais.

A queda do desemprego nos EUA, no Japão e na zona do euro finalmente obriga as empresas a subirem os salários para reter e atrair mão de obra, e o JPMorgan Chase calcula que os aumentos salariais nas economias avançadas tenham atingido 2,5 por cento no segundo trimestre, maior avanço desde antes da recessão global de 2009. O banco prevê que os salários acelerarão para quase 3 por cento no ano que vem.

Os bolsos mais cheios deverão respaldar o crescimento econômico global, que já desfruta de sua melhor escalada desde 2011, e estimular bancos centrais como o Federal Reserve a continuar restringindo a política monetária antes que a inflação se consolide. A notícia pode não ser tão boa para os preços das ações e dos títulos.

“É positivo: há mais confiança na sustentabilidade da expansão, mais confiança de que a inflação subirá”, disse Bruce Kasman, economista-chefe do JPMorgan em Nova York. “É um sinal de que estamos normalizando os ciclos econômicos.”

Caso se sustente, a aceleração dos salários encerrará o debate sobre o rompimento da relação histórica entre o aperto dos mercados de trabalho e o aumento dos salários em um momento em que o desemprego atingiu o menor nível desde 1980 nas economias desenvolvidas, segundo estimativa do JPMorgan.

Entre os motivos para duvidar da confiabilidade da Curva de Phillips, um modelo econômico criado na década de 1960, estão a assimilação da China e da Índia à força de trabalho global, a automação maior, a substituição dos baby boomers, que vão se aposentando, por trabalhadores com salários mais baixos, a baixa produtividade, cada vez mais setores dominados pelas empresas e o declínio da filiação sindical.

Identificou-se que essas forças, ao esmagar os salários, impulsionam a ascensão do populismo nas urnas de votação, considerando que os eleitores abraçaram o presidente dos EUA, Donald Trump, e o Brexit na esperança de que aumentassem a prosperidade.

“Em algum momento a Curva de Phillips deverá se reafirmar e o mercado de trabalho continuará se restringindo em boa parte do mundo desenvolvido”, disse Megan Greene, economista-chefe da Manulife Asset Management.

Há novos sinais de que os empregados já estão se saindo melhor. As remunerações médias por hora dos trabalhadores privados americanos subiram 2,9 por cento no ano até agosto, maior avanço desde a recessão que terminou em meados de 2009.

A Flowers Foods, fabricante de produtos de panificação embalados com sede em Thomasville, na Geórgia, está entre as empresas que divulgaram custos mais elevados com funcionários em meio ao menor índice de desemprego nos EUA desde a década de 1960.

“Estamos observando ao mesmo tempo salários mais altos e uma rotatividade maior, o que tem contribuído para o aumento do custo relacionado à mão de obra manufatureira”, disse Steve Kinsey, diretor financeiro da Flowers Foods, a investidores, em 9 de agosto.

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