Economia

Economia vê pressão por mais gastos com agravamento da pandemia

Caos em Manaus e guerra da vacina minam o horizonte de recuperação econômica aventado por Guedes, cujo desafio é achar solução dentro do teto de gastos

 (Ueslei Marcelino/Reuters)

(Ueslei Marcelino/Reuters)

FS

Fabiane Stefano

Publicado em 20 de janeiro de 2021 às 08h24.

Última atualização em 20 de janeiro de 2021 às 10h09.

Integrantes da equipe econômica já começam a admitir a possibilidade de que o governo terá que dar algum tipo de ajuda financeira a trabalhadores informais em meio ao crescimento do número de casos de coronavírus no país, disseram 3 pessoas com conhecimento do assunto. Candidatos à presidência da Câmara dos Deputados, tanto Baleia Rossi (MDB) quanto Arthur Lira (PL) sinalizaram na mesma direção.

Um aumento dos gastos públicos para combater os impactos do vírus é considerado quase inevitável em 2021, pois já está ficando claro que há uma segunda onda da pandemia, de acordo com as três pessoas, que pediram anonimato porque as discussões são privadas. O presidente Jair Bolsonaro, que viu sua popularidade cair depois do fim do auxílio emergencial em dezembro, também poderia reforçar pressões sobre o Ministério da Economia, disseram. Procurado, o Ministério da Economia não comentou o assunto.

O forte estímulo para enfrentar a Covid-19 em 2020 baqueou as contas públicas brasileiras. A dívida do país atingiu mais de 90% do PIB e o déficit fiscal bateu a marca recorde de R$ 832 bilhões, de acordo com estimativas do Ministério da Economia. Preocupados com a sustentabilidade fiscal, investidores também dificultaram a rolagem da dívida do Tesouro ao optar pela compra de títulos de curto prazo.

Voto de confiança

Pedindo um voto de confiança aos mercados, o ministro da Economia, Paulo Guedes, prometeu retomar a agenda estrutural do país, com avanços nas reformas tributária e fiscal, mantendo em vigor a regra do teto de gastos e limitando todas as despesas extraordinárias relacionadas à pandemia ao orçamento do ano passado. Ele, no entanto, deixou claro que uma segunda onda do vírus poderia forçar uma mudança de planos.

O Ministério resiste a mais gastos, alegando que a economia está se recuperando da pandemia em forma de V e que medidas como estender o auxílio emergencial em 2021 não seriam necessárias, porque os estados não estão mais sob restrições que impediam os trabalhadores informais de obter renda no ano passado. A percepção, no entanto, está lentamente começando a mudar depois que Manaus teve um surto de casos que deixaram hospitais sem leitos e oxigênio disponíveis, disseram as pessoas.

Além disso, a forte recuperação econômica observada no quarto trimestre parece prestes a perder força no início de 2021, de acordo com Adriana Dupita, economista para a América Latina da Bloomberg Economics.

Uma cláusula de calamidade como a usada em 2020 para permitir que o governo abrisse mão de sua meta fiscal ainda não está em discussão, disseram as fontes. Primeiro, o governo buscará medidas sem impacto primário, como adiar o pagamento de impostos e antecipar o pagamento de benefícios sociais. Porém, algo a mais terá de ser feito se a crise de saúde continuar crescendo.

Pesando sobre as perspectivas da equipe econômica está um programa de vacinação lento que deixou o Brasil atrás dos principais pares latino-americanos na corrida para inocular a população. O coronavírus já matou mais de 210.000 brasileiros até agora e a média móvel de sete dias voltou a rondar a casa dos 1.000 óbitos por dia, segundo dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).

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