Economia

Economia não reage como o esperado

Agronegócio supera expectativas, mas o desempenho dos setores de serviços, varejo e indústria continua caindo

Agronegócio: Setor é o único que aponta para sinais de recuperação (Arquivo/Agência Brasil/Agência Brasil)

Agronegócio: Setor é o único que aponta para sinais de recuperação (Arquivo/Agência Brasil/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 9 de abril de 2017 às 10h23.

São Paulo - Não fosse o agronegócio, que supera as melhores expectativas, não haveria muito o que comemorar na economia neste início de ano, segundo os economistas. O setor de serviços segue caindo, o varejo não reage e a indústria esboça recuperação abaixo do esperado.

As últimas semanas ainda foram marcadas pelo governo revisando, para pior, as contas públicas. Anunciou um contingenciamento de R$ 42 bilhões para manter o rombo de R$ 139 bilhões neste ano. Também elevou a previsão de déficit em 2018, de R$ 79 bilhões para R$ 129 bilhões.

O economista Nelson Marconi reuniu dados de indústria, varejo e serviços, retirou as oscilações ao longo do tempo (os chamados efeitos sazonais) e concluiu: "Não dá nem para dizer que há recuperação, mas uma estabilização num patamar baixo: estamos andando de lado no fundo do poço e, olhando para a frente, não há nada no cenário que mude isso", diz ele.

Na verdade, na semana passada, o cenário mudou um pouco, mas para pior. O Placar da Previdência do jornal O Estado de S. Paulo mostrou que a reforma previdenciária, carro-chefe do ajuste fiscal, hoje não seria aprovada no Congresso. "O mercado viu que há um gap entre a expectativa e a realidade política: o humor piorou e a vamos ter de ir corrigindo as projeções", diz Evandro Buccini, economista-chefe da gestora de recursos Rio Bravo.

Para Mônica de Bolle, economista e pesquisadora do Instituto Peterson de Economia Internacional e colunista do jornal, o Brasil vai crescer zero em 2017, sinal claro de que o País carece de ajustes de curto prazo. "O governo nunca fez ajuste de curto prazo, pelo contrário, até gastou mais e cobriu com o dinheiro da repatriação: o problema fiscal continua ali", diz.

Para Mônica, o governo não poderia ter dado reajustes salariais aos servidores e já deveria ter cortado todas as desonerações. "Houve erro de cálculo e Fernando Henrique Cardoso tem uma frase para definir isso: todo mundo entra no governo achando que é dono do seu destino, mas não é assim na prática", diz ela.

Agronegócio

No espectro de projeções, na ponta otimista está a MB Associados, empresa de análise econômica, que projeta 1% de crescimento em 2017, com altas em todos os trimestres. "Estamos, sim, no topo das projeções, no lado mais otimista", diz José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e sócio da MB.

A MB leva em consideração um setor estratégico que chama a atenção de todos os analistas neste início de ano: o agronegócio. "Os sinais da recuperação, claramente, não estão nos números que já saíram dos centros urbanos, mas na safra agrícola e em suas consequências", diz Mendonça de Barros.

Segundo o economista, os dados já disponíveis mostram que a safra será muito maior do que se previu e ainda terá uma produtividade excepcional. "Seus efeitos positivos estão acontecendo no interior e se misturam a bons resultados já divulgados de alguns setores, como o químico e o de máquinas e equipamentos, e vai aparecer na balança comercial de março, pois as exportação agrícolas podem crescer até 20%, mesmo com o problema da carne", diz ele.

Mendonça de Barros tem também uma lista de evidências de melhoras que já teriam ocorrido em março, mas que ainda não foram oficialmente retratadas nos dados: recuperação na venda de carros, redução no estoque de imóveis, recuperação no setor de supermercados e indicações claras de descompressão de crédito, com a redução do endividamento das famílias e das empresas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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