Economia

Economia mais fraca fará Ipea revisar para baixo o PIB de 2018

Instituto destacou que, entre os indicadores, a política monetária tem sido o principal motivo do crescimento econômico nos primeiros meses do ano

Ipea informou nesta terça-feira, 15, que, no final de junho, vai revisar para baixo a previsão que havia feito para o PIB de 2018 (Mario Tama/Getty Images)

Ipea informou nesta terça-feira, 15, que, no final de junho, vai revisar para baixo a previsão que havia feito para o PIB de 2018 (Mario Tama/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 15 de maio de 2018 às 13h24.

Rio - O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) informou nesta terça-feira, 15, que, no final de junho, vai revisar para baixo a previsão que havia feito para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2018 por conta da avaliação de dados econômicos já divulgados, que indicam uma atividade econômica mais fraco do que o esperado.

Em março deste ano, o Ipea estimava que o crescimento do primeiro trimestre seria de 1,9% na comparação com o primeiro trimestre de 2017 e de 1% em relação ao último trimestre de 2017 dessazonalizado. Para o ano, a previsão era de alta de 3%.

"Uns indicadores apontam numa direção e outros na outra. Começamos a investigar uma ampla gama de indicadores, com o intuito de fazer uma análise mais detalhada da conjuntura. Quando se olha apenas para alguns dados, a oscilação no curtíssimo prazo é muito grande, mas isso não deveria gerar mudanças bruscas de expectativas", explica em nota José Ronaldo de Castro Souza Júnior, diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas.

O Ipea destacou que, entre os indicadores, a política monetária tem sido o principal motivo do crescimento econômico nos primeiros meses do ano. A taxa de juros em um patamar historicamente baixo e a maior oferta de crédito foram os motivos de melhora em setores como bens de capital e bens de consumo duráveis, em um cenário caracterizado por níveis ainda elevados de desocupação e por um quadro de incerteza política devido à proximidade das eleições.

"A taxa de juros menor favorece o aumento do consumo de bens duráveis e o crescimento dos investimentos, que estão concentrados em máquinas e equipamentos", ressalta o diretor do Ipea.

Lançado conjuntamente com a Visão Geral, o Indicador Ipea de Consumo Aparente de Bens Industriais registrou queda de 2%, na série com ajuste sazonal, entre fevereiro e março, em que pese, no acumulado de 12 meses, a alta de 3,7% na demanda por bens industriais - ritmo de crescimento mais intenso que o apresentado pela produção doméstica, de 2,9%, mensurada pela Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física (PIM-PF) do IBGE.

"Quando se analisam os indicadores de atividade, esses dois setores produção de bens de capital e de bens de consumo duráveis continuaram crescendo. Entre os bens de consumo duráveis, destaca-se o excelente desempenho da venda de automóveis. É uma atividade com peso importante dentro do setor", resume Leonardo Mello de Carvalho, do Grupo de Conjuntura do Ipea. As vendas de automóveis acumularam 738 mil unidades no primeiro quadrimestre do ano, patamar 20,4% maior que o verificado no mesmo período de 2017.

A utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, um dos indicadores destacados pelo Ipea, ainda registra ociosidade, mas tem mostrado sinais de recuperação. Já a indústria de construção civil continua em queda, como vem sendo demonstrado pelo Indicador Ipea Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF).

Marco Antônio Cavalcanti, diretor-adjunto de Estudos e Políticas Macroeconômicas, ressalta que, de forma geral, as perspectivas da economia brasileira continuam positivas, embora sujeitas a incertezas. "Na ausência de novas fontes significativas de volatilidade ou instabilidade no cenário externo, ou no front político doméstico, a atividade deverá continuar em sua trajetória de recuperação gradual ao longo do ano."

O mercado de trabalho também vem apresentando uma recuperação mais gradual. Em uma análise conjunta dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do IBGE, e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, foi verificado que o crescimento está mais localizado na informalidade, entre trabalhadores sem carteira e por conta própria.

"Num período de retomada, essa melhora do emprego é mais gradual. Nos períodos em que a economia começa a ter queda, o emprego não se altera concomitantemente. Ele demora naturalmente a reagir à conjuntura. Na retomada, ocorre o mesmo. Estão sendo gerados empregos, inclusive formais, mas de forma lenta", explica José Ronaldo, diretor do Ipea. A taxa de desocupação, calculada com dados ajustados, vem mantendo-se praticamente estável nos últimos três trimestres, girando em torno de 12,5% - patamar ainda muito alto, mas 0,6 ponto porcentual inferior ao de um ano antes.

O estudo identifica ainda a piora do risco país. "A taxa dos Credit Default Swaps (CDS) do Brasil - principal medida corrente de risco país - (...) passou de cerca de 145 pontos-base em meados de março para níveis em torno de 185, no início de maio", escrevem os pesquisadores. Essa deterioração teve como influência a dificuldade em se avançar nas reformas que viabilizem o equilíbrio fiscal de longo prazo e, mais recentemente, as incertezas do cenário político dos próximos anos.

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