Economia

Economia global sentirá impacto da guerra comercial em 2019

O mundo verá uma desaceleração econômica nos próximos anos; e a culpa, dizem os economistas, é da guerra comercial entre Estados Unidos e China

Porto de Santos: a ameaça de guerra comercial se dissipou, mas não sumiu (Germano Lüders/Exame)

Porto de Santos: a ameaça de guerra comercial se dissipou, mas não sumiu (Germano Lüders/Exame)

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Da Redação

Publicado em 27 de dezembro de 2018 às 07h13.

Última atualização em 27 de dezembro de 2018 às 07h34.

A guerra comercial eclodiu em 2018, mas é em 2019 que a economia global vai sofrer o estrago.

O índice Global Trade Tracker da Bloomberg está recuando, refletindo a diminuição do movimento de adiantar encomendas antes que tarifas entrem em vigor. O volume tende a se desacelerar mesmo com EUA e China tentando resolver suas diferenças.

Já há vítimas. A GoPro decidiu retirar da China a maior parte da produção de câmeras destinadas ao mercado americano. A FedEx reduziu a projeção de lucro e a capacidade disponível para frete aéreo internacional.

“Qualquer tipo de interferência no comércio funcionará como um imposto na economia”, alertou Hamid Moghadam, presidente da Prologis, empresa da Califórnia que é dona de quase 4.000 instalações de logística. “A economia mundial provavelmente vai perder velocidade por causa disso.”

Os mercados financeiros se abalaram. O Bank of America Merrill Lynch estima que notícias sobre a guerra comercial foram responsáveis por uma queda líquida de 6 por cento no S&P 500 neste ano. O mercado acionário chinês perdeu US$ 2 trilhões em valor em 2018.

Dados recentes reforçam preocupações com o impacto do comércio internacional sobre o crescimento da economia dos EUA no ano que vem. A confiança dos consumidores na economia é a menor em um ano, a confiança dos pequenos empresários na melhora da economia caiu para o menor patamar em dois anos e a expectativa é que o aumento dos lucros seja menor em 2019.

O Fundo Monetário Internacional prevê diminuição do crescimento do volume de comércio exterior para 4 por cento em 2019 (vindo de 4,2 por cento neste ano e 5,2 por cento em 2017) e entende que as barreiras comerciais ficaram maiores.

A Europa não está isolada e o comércio é um dos motivos para a expectativa de desaceleração do crescimento no ano que vem. Há risco de os EUA adotarem tarifas sobre a importação de veículos do Japão e Europa, o que também prejudicaria o relacionamento entre as maiores economias do planeta. A prisão da diretora financeira da Huawei Technologies, Meng Wanzhou, mostrou como eventos inesperados podem agravar a tensão.

A pergunta mais crítica é se Washington e Pequim chegarão a um acordo até o fim do prazo, em 1º de março. Se isso acontecer, a apreensão na economia mundial diminui. Mas por ora, a ameaça de continuidade da tensão comercial é um freio nos planos de expansão das empresas e, consequentemente, da economia global.

Por exemplo, a fabricante americana de sorvetes Dippin’ Dots passou três anos se preparando para entrar no mercado chinês e abriu as primeiras lojas por lá neste ano. A empresa mal chegou e começou a pagar tarifas de dois dígitos para importar derivados de leite. O presidente Scott Fischer admitiu que, se as negociações entre EUA e China fracassarem e novas tarifas forem aplicadas, ele será forçado a repensar a estratégia, a cadeia de suprimentos e o plano de expansão geográfica.

“Do ponto de vista do empreendedor, nossa pergunta é quanto tempo isso vai durar", disse Fischer. “É difícil planejar neste ambiente."

A visão do economista

A ameaça que a guerra comercial representa para a economia mundial se dissipou, mas não desapareceu. Três riscos se sobressaem. Primeiramente, 90 dias de negociações entre China e EUA podem fracassar, resultando em tarifas maiores. Em segundo lugar, mesmo sem aumento nas tarifas, o fato de as encomendas terem sido adiantadas em 2018 significa redução dos embarques em 2019. E além da guerra comercial, índices que acompanham as compras de insumos pelas indústrias e alertas como o da FedEx sobre os lucros sugerem enfraquecimento da demanda.

Tom Orlik, da Bloomberg Economics

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