Economia

Economia brasileira ofusca vizinhos latinos

Crescimento nacional deve ir no caminho oposto ao de México e Argentina, cujas economias devem desacelerar

A economia brasileira ganhará força com a expansão da demanda doméstica, disseram economistas, crescendo 3,3% em 2012 e 4,5% em 2013 (Marcelo Calenda/EXAME.com)

A economia brasileira ganhará força com a expansão da demanda doméstica, disseram economistas, crescendo 3,3% em 2012 e 4,5% em 2013 (Marcelo Calenda/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 19 de janeiro de 2012 às 13h48.

São Paulo - O crescimento do Brasil deve ganhar força neste ano, com os recentes cortes na taxa básica de juros compensando a recessão na zona do euro, mostrou uma pesquisa da Reuters nesta quinta-feira. Com isso, o país deve ir no caminho oposto ao de México e Argentina, cujas economias devem desacelerar.

Grande exportadora de minério de ferro e produtos agrícolas, a economia brasileira ganhará força com a expansão da demanda doméstica, disseram economistas, crescendo 3,3 por cento em 2012 e 4,5 por cento em 2013, de acordo com a mediana das estimativas de 35 analistas.

A expectativa é de que a economia tenha crescido apenas 3 por cento em 2011, sentindo o efeito do aperto fiscal e monetário do primeiro semestre para combater a inflação.

Isso marca uma forte desaceleração na comparação com o crescimento registrado em 2010, de 7,5 por cento, e frustrou as estimativas oficiais de 5 por cento de crescimento nos primeiros meses da administração de Dilma Rousseff.

Outros membros do G20, como México e Argentina, sem o mesmo potencial oferecido pelo mercado doméstico brasileiro de aproximadamente 200 milhões de pessoas, terão mais dificuldades para sustentar suas atuais taxas de crescimento. A Argentina sofrerá um impacto maior, devido às saídas de capital e a uma expansão menor da política fiscal.

"A demanda doméstica deverá, em breve, ter um papel mais proeminente em combater problemas externos", afirmou Mauricio Rosal, economista-chefe na corretora Raymond James em São Paulo.

"Nós vemos isso como crucial, uma vez que acreditamos que poucas economias de proporções parecidas possuem atualmente a mesma quantidade de reservas (como o Brasil) para incorporar tal recuperação, impulsionada por fatores internos." Entre os problemas externos está a crise da Grécia. O país e seus credores estão correndo contra o tempo para evitar um calote desordenado na zona do euro, que poderia desorganizar o sistema financeiro global.

O drama grego tem sido comparado ao default de 100 bilhões de dólares da Argentina em 2002. Desde lá, o país tem se fechado virtualmente ao mercado financeiro global e visto a inflação subir a uma cifra de dois dígitos.


Mantendo o consumo vivo

O Brasil iniciou o corte de sua taxa básica de juros em agosto de 2011, trazendo-a de 12,5 por cento para 10,5 por cento. Analistas esperam que o banco central reduza o que ainda é um dos maiores juros do mundo para 9,5 por cento em abril.

Além da expansão do crédito, que o Banco Central projeta em 15 por cento em 2012, a economia brasileira crescerá impulsionada também pelo aumento legal de 14 por cento no salário mínimo.

Incentivos fiscais, como o corte de impostos em bens duráveis, também dão estímulos, de acordo com uma análise do Itaú Unibanco, o maior banco privado do país.

Analistas não esperam que a inflação saia de controle, inclusive pela possibilidade de cortes de gastos no Orçamento de 2012. Após subir para 6,5 por cento em 2011, o topo da meta oficial, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve cair para 5,5 por cento em 2012, segundo a mediana de 18 projeções coletadas para a pesquisa Reuters - ainda acima do centro da meta do governo, de 4,5 por cento.

Apesar do rápido crescimento, a economia brasileira ficará atrás das maiores economias emergentes do mundo, como China e Índia, mesmo se estas se expandirem no ritmo mais lento desde 2009. O PIB da China deve crescer 8,4 por cento em 2012.

A economia do México, mais dependente das exportações para os Estados Unidos, deve ser provavelmente a mais atingida pela desaceleração mundial. Apesar de a maior economia do mundo ter evitado a recessão, o PIB dos Estados Unidos deve crescer apenas 2,2 por cento em 2012.

O México, a segunda maior economia da América Latina, deve crescer 3,2 por cento em 2012, abaixo da taxa de 4,0 por cento projetada em 2011, segundo a mediana das 24 projeções coletadas para a pesquisa Reuters. Em 2013, a economia mexicana deve se recuperar para um crescimento de 3,5 por cento.

No entanto, os riscos para as estimativas de crescimento do México tendem para o lado positivo, notou o analista da Goldman Sachs Alberto Ramos, com a economia norte-americana demonstrando mais resistência do que o esperado, trazendo recentes surpresas positivas em seus dados de emprego.

Os novos dados da economia norte-americana podem ser um alívio para o banco central do México, que tem visto sua capacidade de cortar a taxa de juros diminuir, após o peso mexicano cair aproximadamente 15 por cento desde julho, com um ambiente global mais arriscado.


"Um peso mais fraco aumenta o risco de repasse aos preços e pode contaminar as expectativas de inflação," escreveu Benito Berber, analista da Nomura Securities, em uma pesquisa.

O governo da Argentina encara um desafio ainda mais difícil, com uma previsão de crescimento de 3,5 por cento em 2012 e em 2013, após uma previsão de crescimento de 8 por cento em 2011 por causa de exportações de grãos, gastos do consumidor e produção industrial, mostrou a pesquisa da Reuters.

Economistas locais acusam o governo de superestimar o crescimento e subestimar a inflação. Muitos deles não têm previsões oficiais para a inflação, fornecendo estimativas privadas para os preços ao consumidor - cuja mediana da pesquisa da Reuters aponta para um aumento de 24,3 por cento em 2012.

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