Economia

Economia do Brasil é dependente de construtoras investigadas

Escândalo da Petrobras está ameaçando tirar dos trilhos os esforços de Dilma para reanimar a maior economia da América Latina


	Agentes da Polícia Federal durante a sétima fase da Operação Lava Jato, em São Paulo
 (Nacho Doce/Reuters)

Agentes da Polícia Federal durante a sétima fase da Operação Lava Jato, em São Paulo (Nacho Doce/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 25 de novembro de 2014 às 16h34.

Rio de Janeiro/Brasília - O escândalo de corrupção na Petrobras que se espalhou para as maiores construtoras do Brasil está ameaçando tirar dos trilhos os esforços da presidente Dilma Rousseff para reanimar a maior economia da América Latina.

O Tribunal de Contas da União, TCU, disse que está preocupado de que a investigação a respeito de um suposto esquema de lavagem de dinheiro e subornos chamado “Lava Jato” possa atrasar projetos de infraestrutura no Brasil.

A Odebrecht, a Queiroz Galvão, a OAS e outras seis construtoras cujas sedes vêm sendo alvo de buscas ou que tiveram executivos presos detêm pelo menos R$ 70 bilhões (US$ 27 bilhões) em contratos da Petrobras e do governo, inclusive para os Jogos Olímpicos de 2016 e para usinas hidrelétricas na Amazônia.

Com a infraestrutura do Brasil já consistentemente classificada entre as piores do mundo, qualquer atraso na construção de novas estradas ou outros projetos prejudicará setores como manufatura e agricultura.

Isso tornará mais difícil para o país ampliar o crescimento após cair em recessão no primeiro semestre do ano.

“O Brasil tem a probabilidade de crescimento baixo em 2015 e obviamente isso não ajuda”, disse Carlos Kawall, economista-chefe do Banco J. Safra em São Paulo.

“Você tem esta questão da propria capacidade das empresas, se ela for afeitada financieramente, em conseguir executar os seus compromissos”.

Os projetos da Odebrecht estão dentro do cronograma e a empresa ganhou trabalho com a Petrobras legalmente por meio de licitações públicas, disse a construtora, em um e-mail.

A Queiroz Galvão, a OAS e a Petrobras não responderam a pedidos enviados por e-mail de comentários a respeito do impacto econômico das investigações de corrupção.

Investimentos da Petrobras

Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do conselho de administração da Gerdau SA, maior fabricante do Brasil de aços longos para pontes e edifícios, alertou em 18 de novembro que qualquer desaceleração nos projetos “com certeza” afetará o crescimento econômico.

Marcelo Carvalho, economista-chefe do BNP Paribas SA para a América Latina, disse ontem que o escândalo pode ter um “impacto significativo” sobre o produto interno bruto se a Petrobras reduzir seu plano de investimento de US$ 220,6 bilhões.

“Haveria um efeito cascata que forçaria as empreiteiras da Petrobras também a reduzirem os investimentos”, disse ele em uma teleconferência.

Uma redução de 10 por cento nas despesas de capital da Petrobras reduziria o crescimento do PIB em 0,5 ponto porcentual, disse a LCA, firma de consultoria com sede em São Paulo, em uma nota técnica, no dia 18 de novembro.

A expectativa é que o Brasil divulgue nesta semana que a economia cresceu 0,2 por cento no terceiro trimestre, segundo a estimativa média de 34 economistas participantes de uma pesquisa da Bloomberg.

O resultado surge após duas contrações trimestrais seguidas durante o primeiro semestre do ano.

A assessoria a Presidência não respondeu a um e-mail com um pedido de comentário a respeito de como a crise impactará a economia.

Congelamento de ativos

Sérgio Moro, o juiz que preside o caso em Curitiba, Brasil, decidiu contra o congelamento das contas das empresas sob investigação, citando a preocupação de que esse movimento seria um grande golpe para a economia do Brasil.

O Ministério Público Federal havia pedido o bloqueio de fundos equivalentes a 10 por cento dos contratos sob investigação. Um promotor federal também pediu que o TCU proibisse as empreiteiras citadas na investigação de realizarem ofertas para obtenção de novos contratos com a Petrobras.

“Considerando a magnitude dos crimes e o extenso período de tempo, não existe possibilidade de bloquear imediatamente 5 ou 10 por cento dos contratos com a Petrobras”, escreveu Moro na decisão de 13 de novembro. “Essas são as maiores empreiteiras do país”.

Perspectiva negativa

Mesmo sem ter seus ativos congelados, a Petrobras e as construtoras enfrentarão um aumento nos custos para financiar projetos que já estão em andamento.

A Petrobras, que atrasou a divulgação dos lucros do terceiro trimestre por causa da investigação, disse no dia 13 de novembro que planeja publicar divulgações não auditadas dentro de um mês.

O Bank of America disse que a Petrobras poderá ter dificuldades para tomar empréstimos nos mercados internacionais de dívidas antes de fornecer uma divulgação de resultados que tenha sido auditada.

Em um comunicado, no dia 19 de novembro, a Fitch Ratings colocou todas as empresas brasileiras de construção sob perspectiva negativa enquanto não houver mais clareza em relação aos resultados da investigação.

A disputa legal poderá permitir que construtoras estrangeiras como a Technip, com sede em Paris, e a Skanska AB, com sede em Estocolmo, ganhem participação de mercado, segundo o escritório de advocacia Mattos Filho.

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