Rapaz com bandeira americana: o país sofreu muito com a crise - mas ela poderia ter sido pior (Daniel Acker/Bloomberg)
João Pedro Caleiro
Publicado em 25 de outubro de 2015 às 06h00.
São Paulo - A crise financeira de 2008 foi a pior desde 1929 e apesar do epicentro nos Estados Unidos, seus efeitos são sentidos até hoje no mundo inteiro.
Hoje, a esmagadora maioria dos economistas concorda que ela teria sido muito pior sem a reação do governo americano, que resgatou bancos, salvou montadoras da falência e lançou programas de compra de ativos e de estímulo fiscal.
Mas o que exatamente teria acontecido se eles tivessem simplesmente deixado a crise degringolar?
É o que pergunta um novo estudo publicado no Center on Budget and Policy Priorities por Alan S. Blinder, professor da Universidade de Princeton, e Mark Zandi, da Moody's Analytics.
Eles usaram um modelo econômico da Moody's que simula o efeito de políticas públicas e o multiplicador de cada dólar quando aplicados sobre a economia geral.
O cenário-base utilizado foi o de corte de juros com vigência dos chamados estabilizadores automáticos, como seguro-desemprego, e nada além disso.
Consequências
"Nem todas as políticas fiscais, monetárias e financeiras após o dia da quebra do Lehman Brothers foram efetivas, e o processo foi às vezes bagunçado. Mas no conjunto, a resposta foi um grande sucesso. Sem ela, poderíamos ter experimentado algo próximo de uma Grande Depressão 2.0", diz o estudo.
Eis algumas das consequências calculadas na hipótese de um governo inerte: a economia teria caído 14% em relação ao seu pico (ao invés de 4%), a recessão teria durado três anos (o dobro do que durou) e mais de 17 milhões de empregos teriam sido perdidos (duas vezes mais do que o registrado), o que faria o desemprego atingir 16% (e não 10%).
Eles também calcularam o impacto isolado das principais políticas. O pacote de estímulos, por exemplo, cortou o desemprego em 1,4 ponto percentual e aumentou o PIB em 3,3 pontos percentuais em 2010, enquanto o resgate dos bancos cortou o desemprego em 2,2 pontos percentuais e aumentou o PIB em 4,2 pontos percentuais até 2011.
Apesar de talvez ser o mais completo, este não é o primeiro estudo que estima esses efeitos, e todos chegaram a conclusões parecidas.
Mais difícil é estimar o que teria acontecido caso outras políticas tivessem sido aplicadas - como um estímulo ainda maior, nacionalização dos bancos, juros negativos, ajuda direta a donos de hipotecas ou outras ideias aventadas durante e depois da crise.