Brasília - Ainda é cedo para redução da taxa básica de juro Selic no Brasil, disse à Reuters uma fonte da equipe econômica que não tem poder de decisão sobre política monetária, acrescentando que o governo federal já avalia a possibilidade de buscar fontes alternativas de receitas para garantir o cumprimento da meta de superávit primário deste ano.
"É muito cedo para se falar em corte de juros", disse. "O Banco Central acabou de encerrar um ciclo de aperto monetário", lembrou a fonte, que falou sob condição de anonimato.
Na quarta-feira, o BC manteve a Selic em 11 por cento ao ano, como era esperado, mas repetiu no comunicado que isso ocorria "neste momento", deixando em aberto todas as possibilidades para o futuro da política monetária num cenário de atividade fraca e inflação elevada.
O BC tirou a Selic da mínima histórica de 7,25 por cento em abril do ano passado, num ciclo de aperto que durou um ano e levou a taxa ao atual patamar. O objetivo era domar a inflação, mas ela ainda continua elevada, apesar de a economia estar perdendo fôlego.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) tem rondado há tempos o teto da meta do governo --de 4,5 por cento, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos-- e, na avaliação de especialistas, uma das causas é a atual política fiscal considerada mais expansionista, que tem poder de pressionar os preços.
Em 12 meses até maio, a economia feita pelo governo para o pagamento dos juros estava em 1,52 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), aquém do objetivo estipulado para este ano, de 99 bilhões de reais, ou 1,9 por cento do PIB.
Nesse cenário, o governo já fala em buscar mais receitas extraordinárias.
"Ou as receitas se recuperam ou as despesas terão que ser ajustadas", comentou a fonte ouvida pela Reuters, destacando que a economia fria afetou o recolhimento de tributos.
"Mas sempre há receitas que podem ser buscadas", acrescentou, sem revelar quais alternativas poderiam ser usadas para melhorar a receita e defendendo que o governo está empenhado em cumprir primário deste ano.
"Cumprir a meta de superávit é uma necessidade. Isso está relacionado à credibilidade, à estabilização da dívida e ajuda na inflação", disse.
Entre maio e dezembro deste ano, o governo projeta que as receitas extraordinárias somarão 24,338 bilhões de reais. Entre as medidas já adotadas para elevar a arrecadação está o Refis da Crise.
Com a política restritiva em ação, crédito escasso, indústria debilitada e menor oferta de emprego no país, a fonte salientou que o desempenho do PIB do segundo trimestre dependerá do setor serviços, mas descartou a possibilidade de recessão técnica.
"É precipitado falar em recessão técnica, o segundo semestre é historicamente melhor que o primeiro, haverá menos feriados e teremos um terceiro e quatro trimestres no campo positivo", previu a fonte.
Pesquisa Focus do BC com economistas de instituições financeiras mostra que a mediana das projeções é de que o PIB brasileiro crescerá 1,05 por cento neste ano, bem abaixo dos 2,5 por cento no ano passado.
Inflação
Nos 12 meses encerrados em junho, o IPCA ficou em 6,52 por cento, acima do teto da meta.
A fonte projeta que a inflação de julho ficará próxima de zero, ou até mesmo que possa ficar negativa, argumentando que houve redução nos preços das passagens aéreas e de outros serviços, como hotéis e alimentação.
Para o integrante da equipe econômica, a inflação mensal deve ceder também em agosto. Em 12 meses, no entanto, continuará elevada, recuando apenas mais no fim do ano para terminar 2014 abaixo do teto da meta.
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1. Preços nas alturas
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1/16 (Diego Giudice/Bloomberg)
São Paulo - A
inflação voltou a ser motivo de preocupação para o brasileiro. Apesar do crescimento baixo da economia e das tarifas controladas, ela continua perigosamente
perto do teto da meta (6,5%). É um número alto comparado ao dos países desenvolvidos (e da maior parte dos emergentes), mas não suficiente para colocar o país entre as maiores taxas do mundo. No top 15, há países em crescimento e em recessão, estáveis e em ebulição, da América Latina aos confins da Ásia. Os dados são do CIA World Factbook para o ano de 2013 com base em índices de preços ao consumidor - nem sempre oficiais. Veja a seguir:
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2. 1. Síria: 59,1%
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2/16 (Thaer Al Khalidiya/Reuters)
Por que a inflação é tão alta: a guerra civil que devasta o país desde 2011 já causou mais de 100 mil mortes, além de caos generalizado na economia. Moeda: libra síria Crescimento em 2013: não disponível
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3. 2. Venezuela: 56,2%
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3/16 (Meridith Kohut/Bloomberg)
Por que a inflação é tão alta: o governo tenta controlar preços, estoques e a troca por dólares ao mesmo tempo que continua injetando dinheiro na economia. O resultado: escassez de produtos básicos e uma inflação galopante - que pode ser
ainda maior que a divulgada.
Moeda: bolívar venezuelano
Crescimento em 2013: 1,6% (estimativa oficial)
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4. 4. Malawi: 26,9%
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4/16 (Wikimedia Commons)
Por que a inflação é tão alta: com baixo nível de reservas internacionais, o país tem batalhado para manter a taxa de câmbio estável e os preços controlados desde que a moeda perdeu metade do seu valor em meados de 2012 Moeda: kwacha do Malawi Crescimento em 2013: 6,1% (estimativa oficial)
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5. 5. Sudão: 25%
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5/16 (Getty Images)
Por que a inflação é tão alta: há cerca de uma década, o país sofre com conflitos armados entre a população árabe e não-árabe, o que levou à caos econômico e o desmembramento do país em 2011, com a criação do Sudão do Sul Moeda: dinar sudanês Crescimento em 2013: 3,9% (est.)
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6. 6. Argentina: 20,8%
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6/16 (Julian Finney/Getty Images)
Por que a inflação é tão alta: política fiscal generosa, desvalorização do peso e o intervencionismo de Cristina Kirchner são as causas da inflação argentina. De acordo com o governo, ela foi de 10,9% em 2013, mas consultorias privadas estimam
um número no mínimo duas vezes maior.
Moeda: peso argentino
Crescimento em 2013: 3%
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7. 7. Bielorrússia: 19%
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7/16 (Getty Images)
Por que a inflação é tão alta: a economia crescia muito até a crise de 2008. Com a piora das condições, o governo promoveu uma política monetária e fiscal expansionista - o que ajudou a desvalorizar a moeda e pressionar a inflação Moeda: rublo bielorusso Crescimento em 2013: 0,9%
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8. 8. Eritreia: 13%
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8/16 (Wikimedia Commons)
Por que a inflação é tão alta: o país se separou da Etiópia em 1993 e sua economia é basicamente de agricultura de subsistência. As poucas empresas privadas tem ligação forte com o governo, que gera déficits constantes por causa do alto gasto militar. Moeda: nafka Crescimento em 2013: 7% (est.)
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9. 9. Guiné: 11,9%
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9/16 (Seyllou/AFP Photo)
Por que a inflação é tão alta: o país é rico em recursos naturais mas tem baixo nível de desenvolvimento. Em 2013, a Guiné sofreu com episódios de violência política na expectativa da primeira eleição parlamentar em 5 anos, realizada em setembro. Moeda: franco da guiné Crescimento em 2013: 2,6% (est. oficial)
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10. 10. Iêmem: 11,8%
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10/16 (Getty Images)
Por que a inflação é tão alta: a inflação no Iêmem foi de 25% em outubro de 2011 para 5,5% em novembro de 2012, mas voltou a crescer impulsionada pelo aumento do preço de tabaco e do khat, uma planta estimulante consumida por grande parte da população Moeda: rial iemenita Crescimento em 2013: 5,4% (est. oficial)
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11. 11. Serra Leoa: 11,1%
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11/16 (Getty Images)
Por que a inflação é tão alta: o país está reconstruindo sua economia depois de mais de uma década de guerra civil. O crescimento é alto, mas os desequilíbrios também. A boa notícia é que a inflação já está em trajetória de queda. Moeda: leone Crescimento em 2013: 13,3% (est.)
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12. 12. Gana: 11%
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12/16 (SXC.Hu)
Por que a inflação é tão alta: o cedi foi uma das moedas que mais desvalorizaram no ano passado. Além disso, o governo passou a remover subsídios ao petróleo, que é basicamente importado, o que ajudou a aumentar os preços da gasolina e dos transportes. Moeda: cedi do gana Crescimento em 2013: 7,1%
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13. 13. Butão: 11%
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13/16 (Tgyeltshen/ WikimediaCommons)
Por que a inflação é tão alta: o Butão é um pequeno país asiático de apenas 700 mil habitantes, altamente dependente da Índia e com a economia baseada principalmente na agricultura e recursos florestais. Moeda: ngultrum e rupia indiana Crescimento em 2013: 6,5%
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14. 14. Uzbequistão: 10,1%
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14/16 (Getty Images)
Por que a inflação é tão alta: o país herdou vários tipos de controle econômico do seu passado soviético. A inflação tem sido pressionada por gastos do governo, depreciação da moeda e aumentos controlados de tarifas que estavam represadas havia muito tempo. Moeda: som uzbeque Crescimento em 2013: 8%
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15. 15. Índia: 9,6%
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15/16 (Wikimedia Commons / Kolkatan)
Por que a inflação é tão alta: o centro do problema são alimentos, que aumentam de preço tanto do lado da demanda - por causa do crescimento da renda rural - quanto pelo lado da oferta - por causa de problemas de estoque, clima e políticas do governo. Moeda: rupia indiana Crescimento em 2013: 4,5%
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16/16 (Bloomberg)