Economia

Dominância fiscal será risco em ano de eleição, diz Schwartsman

Economista aponta que com Selic podendo voltar ao patamar de 6% e o PIB crescendo mais lento em 2022, situação tende a se agravar

BANCO CENTRAL: há espaço para mais cortes na Selic? (Adriano Machado/Reuters)

BANCO CENTRAL: há espaço para mais cortes na Selic? (Adriano Machado/Reuters)

FS

Fabiane Stefano

Publicado em 6 de janeiro de 2021 às 13h18.

Última atualização em 6 de janeiro de 2021 às 13h19.

O Brasil enfrentará em 2022, pleno ano eleitoral, o período de maior risco de dominância fiscal, na medida em que o governo e o Congresso não dão sinais de compromisso firme com as reformas, diz Alexandre Schwartsman, consultor da Schwartsman & Associados e ex-diretor do Banco Central.

A dominância fiscal ocorre quando o Banco Central perde a capacidade de usar a política monetária para controlar a inflação, pois a alta dos juros eleva a dívida, desvaloriza o câmbio e deteriora as expectativas inflacionárias.

Quando uma elevação de juros é vista como pior para a dívida, agravando ainda mais a situação, a inflação sobe mesmo com o aperto monetário.

Alexandre Schwartsman, consultor da Schwartsman & Associados e ex-diretor do Banco Central.

O BC brasileiro subiu os juros em momentos de turbulência do passado recente, como em 1999 e 2003, sem gerar dominância fiscal porque a situação fiscal indicava melhora, o que não ocorre desta vez, segundo ele. “O problema hoje é que o fiscal é pior e não tem perspectiva de melhorar.”

Para o ex-BC, o problema maior não é a expectativa de que a dívida possa atingir 100% do PIB, e sim a falta de perspectiva de uma solução. “O nível atual é o que preocupa menos. O que preocupa mais é a trajetória.”

Um crescimento em torno de 3% do PIB este ano, combinado à manutenção da taxa de juros real perto de zero, pode evitar deterioração adicional da dívida no curto prazo. Mas, a situação tende a se agravar a partir de 2022, quando a Selic poderá voltar ao patamar de 6% e o PIB deve mostrar crescimento mais lento, diz Schwartsman.

Ele espera que o BC retire a sinalização de juros estáveis nos próximos meses e inicie um movimento de alta da Selic no meio do ano. O Banco Central não comentou.

Reformas

O mercado é cético quanto às chances de aprovação de reformas como a tributária e administrativa em 2021 diante da falta de apoio à agenda liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes, e dos riscos trazidos pela pandemia de coronavírus.

Caso a situação da doença se agrave, Schwartsman acredita que o governo deve promover uma extensão do auxílio emergencial, mas com escopo mais limitado do que no ano passado.

Ele diz que o país teria de terminar este ano com as reformas aprovadas para se antecipar às eleições de 2022, um fator imponderável que tende a dificultar a aprovação de medidas impopulares no Congresso. “Um ano como 2021, sem eleição, seria o momento para colocar a casa em ordem.”

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralDívida públicaPIB do BrasilPolítica fiscal

Mais de Economia

CNI pede ao governo para negociar com os Estados Unidos adiamento da tarifa por 90 dias

Rui Costa diz que governo não tem 'proposta alternativa' sobre IOF

Inflação na Argentina surpreende e tem alta menor do que o esperado em junho

Decreto que regulamenta Lei da Reciprocidade será assinado hoje por Lula, diz Rui Costa