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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h03.
O dólar abaixo de 2,50 reais provocou um efeito dominó. Exportadores que, até então, não reclamavam da valorização crescente do real, se uniram à indústria manufatureira especialmente as empresas calçadistas e têxteis, que há meses gritam por socorro. "Agora, sim, a situação começou a preocupar", diz Roberto Segatto, presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior.
O dólar vem se desvalorizando paulatinamente desde maio do ano passado, mas ao ficar abaixo da barreira dos 2,50 reais, como aconteceu na semana passada, setores até então considerados imunes a mudanças no câmbio também acenderam o sinal amarelo. É o caso dos produtores de soja que, apesar de serem os principais responsáveis pelo recorde das exportações brasileiras, temem que um real muito valorizado acabe atrapalhando os bons resultados.
O fato de o agronegócio, campeão absoluto das exportações brasileiras, ter passado para o lado dos descontentes é mais do que simbólico: mostra que a política cambial do governo Lula está incomodando até mesmo segmentos com boa saúde financeira. Apesar da reclamação generalizada, a equipe econômica mantém-se firme em sua decisão de não mexer no câmbio. A seu favor, o governo tem um forte argumento: o superávit da balança comercial. Mesmo com o dólar em queda, o país vem conseguindo bater sucessivos recordes nas vendas para o exterior. No primeiro quadrimestre deste ano, o superávit chegou a 12,2 bilhões de dólares. Mas o que a indústria vem tentando mostrar ao governo é que, com o câmbio atual, esse nível de exportação dificilmente será mantido nos próximos meses.
O que pode ser feito para evitar tal ameaça? Algumas opções vem sendo exaustivamente discutidas, como o corte na tarifa de importações (o que não ajudaria setores mais prejudicados, como calçadista e têxtil) e incentivos fiscais às empresas exportadoras. "Nesse caso, o efeito colateral pode ser grave, já que a OMC proíbe esse tipo de subsídio", lembra Manuel Enriquez Garcia, professor de Finanças Internacionais da USP.
A saída mais sensata, segundo Garcia, é o governo ajudar a melhorar o nível de competitividade da indústria brasileira, contribuindo para a redução de custos logísticos. "Uma forma é acabar com os tradicionais gargalos na infra-estrutura", diz o professor da USP. Os grandes exportadores chegam a fazer filas de até 30 dias nos portos. Além disso, cerca de 20 mil quilômetros das estradas do país são consideradas em péssimo estado. No Brasil, as ferrovias representam apenas 24% do total dos transportes pesados na Rússia, esse número é 81%. "Se nada for feito, só vejo uma saída: parar de exportar", diz Elcio Jacometti, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados.