FMI: O documento é divulgado por ocasião da reunião de ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais do G20, nesta semana em São Paulo (OLIVIER DOULIERY/AFP/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 26 de fevereiro de 2024 às 12h05.
Última atualização em 26 de fevereiro de 2024 às 12h15.
A inflação retorna à meta mais rápido que o esperado pelo mundo, com notícias positivas do lado da oferta e uma política monetária apertada, avalia o staff do Fundo Monetário Internacional (FMI), em relatório de monitoramento publicado nesta segunda-feira, 26. O documento é divulgado por ocasião da reunião de ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais do G20, nesta semana em São Paulo.
O staff do FMI diz que, nesse quadro, o índice cheio da inflação desacelerou no segundo semestre de 2023 na maioria dos países do G20.
"Os preços de combustíveis e alimentos também têm abaixado, apesar do conflito em Gaza com Israel e dos ataques no Mar Vermelho - por onde passa mais de 10% do fluxo de comércio global", destaca o relatório.
Em economias avançadas, a desinflação tem sido apoiada pela perda de fôlego nos mercados de trabalho, mesmo que estes sigam mais apertados que antes da pandemia. Efeitos secundários também parecem contidos, diante de crescimento moderado no salário e de expectativas de longo prazo ainda ancoradas, acrescenta.
Segundo o FMI, as pressões de desinflação sobre os preços de bens devem continuar, conforme as pressões sobre as cadeias de produção diminuem mais. No caso da inflação de serviços, que tem se mostrado mais arraigada, há a expectativa de que o quadro nos mercados de trabalho contribua para a desinflação, acrescenta.
O documento lembra que, em janeiro, o FMI estimou que a inflação no G20 fique em 6,5% em 2024. Mesmo com a desaceleração em muitas economias do grupo, o núcleo da inflação ainda deve seguir acima da meta em boa parte de 2024, acrescenta.
O FMI aponta que as expectativas para as taxas de juros em geral se moveram para baixo, conforme o processo de desinflação prossegue. As menores pressões inflacionárias reforçaram expectativas de cortes nos juros nas maiores economias neste ano e no próximo, acrescenta.
O relatório avalia ainda que a demanda por ativos de mercados emergentes e de economias em desenvolvimento tem crescido, conforme os spreads soberanos se movem mais perto para níveis pré-pandemia e os governos têm retornado aos mercados internacionais de dívida, desde o início deste ano.
O FMI considera, contudo, que pressões fiscais testam as estruturas dos países, em quadro de dívida e custos de financiamento elevados. Houve um relaxamento na política fiscal dos países avançados do G20 em 2023, em resposta a uma crise de custo de vida, afirma.
Entre os emergentes do grupo, o quadro fiscal na média teria seguido neutro em 2023, mesmo com relaxamento em alguns deles, China, Brasil e Rússia. O FMI diz que uma coordenação entre as políticas fiscal e monetária será crucial, mesmo que a inflação perca fôlego.
O documento também alerta que há tendência subjacentes que podem deixar vulnerável a choques "a já contida perspectiva de médio prazo". Outras, porém, poderiam representar oportunidades.
O FMI avalia que o ritmo da globalização desacelerou, ante o crescente protecionismo. A fragmentação geoeconômica fica cada vez mais evidente nos fluxos de comércio e capital globais, menciona.
A fragmentação continuada ameaça exacerbar mais os desafios existentes, entre eles a luta por capital, com implicações para a convergência no crescimento e na renda no médio prazo, afirma o relatório.
A inteligência artificial, por sua vez, tem o potencial de impulsionar o crescimento, mas pode também exacerbar desigualdades de renda e disparidades na riqueza, diz o FMI. Além de mencionar o tema, o Fundo sugere cooperação no G20 para ajudar a mitigar os efeitos das mudanças climáticas e facilitar a transição para a energia verde.
A economia global "parece a caminho de um pouso suave", "mas a atividade e as perspectivas de crescimento permanecem fracas". Na avaliação do staff do FMI, o processo de desinflação no G20 até agora ocorre sem detonar uma recessão, enquanto as economias emergentes têm demonstrado "melhorada resiliência".
Neste ano, a política monetária deve "relaxar um pouco", enquanto as perspectivas de crescimento no médio prazo seguem contidas, o que reflete tendências seculares e desafios, entre eles o crescimento fraco da produtividade, o envelhecimento, fragmentação geoeconômica e vulnerabilidades globais.
O FMI considera que a sustentabilidade fiscal "tem sido testada" com as condições de financiamento dos governos se mantendo em quadro "desafiador" no médio prazo, em meio a "elevados e crescentes" níveis de dívida pública.
Por outro lado, com a recuperação econômica mostrando maior vigor, os riscos à perspectiva "estão mais equilibrados".
Entre os riscos de alta, o crescimento global poderia superar a previsão caso o ritmo da desinflação seja mais rápido que o antecipado, permitindo relaxamento monetário mais rápido, ou se a consolidação fiscal fosse mais gradual que o em princípio apontado.
Como riscos de baixa, o Fundo menciona saltos adicionais nos preços de commodities, a persistência da força do mercado de trabalho e tensões renovadas em cadeias globais, que puxariam para cima pressões inflacionárias.
Caso induzido por estresse na dívida, o aperto fiscal seria mais rápido que o almejado por acontecimentos cíclicos e minaria o crescimento. Já mudanças à perspectivas na China, "positivas ou negativas", seriam uma fonte de risco global, destaca o FMI.
No médio prazo, as perspectivas de crescimento fraco, bem como o risco de maior recorrência de protecionismo, teriam uma ameaça maior representada pela fragmentação geoeconômica, o que já inibe a integração comercial e financeira, diz o staff do Fundo.
O documento também menciona que vulnerabilidades climáticas pesam nas perspectivas de médio prazo do crescimento global, com impacto desproporcional na África. "Mesmo que o ritmo da globalização tenha desacelerado, permanecem as oportunidades de crescimento, entre elas do comércio e dos serviços digitais e da inteligência artificial (IA) - caso aproveitadas de modo adequado", acredita.
Uma combinação apropriada de política fiscal e monetária seria crucial para se chegar a um quadro de estabilidade de dívida, nos preços e financeira, afirma o Fundo. A política monetária precisa garantir a estabilidade de preços e estar pronta a mudar para uma postura mais neutra, onde a inflação retorna à meta e o crescimento possa diminuir. Ao mesmo tempo, os esforços de consolidação fiscal, usando um mix apropriado de medidas de receita e de gasto, não deveriam ser retardados, mas sim mantidos em ritmo que buscasse um equilíbrio correto entre estabilização da dívida e apoio ao crescimento inclusivo.
No médio prazo, reformas orientadas e cuidadosas podem ajudar a impulsionar a produtividade, menciona o staff do Fundo. O documento diz que as autoridades do G20 devem reforçar esforços para mitigar a ameaça da mudança climática e apoiar a transição climática, a fim de ajudar a liberar o crescimento potencial da África.
Também pede cooperação para lidar com a fragmentação, notadamente para evitar políticas comerciais que distorcem o quadro, além de fortalecer o sistema monetário internacional. "O G20 tem um papel central para garantir que os benefícios da IA sejam totalmente explorados, enquanto os riscos são minimizados" acrescenta.