Universitários: estudantes endividados perdem acesso ao crédito, não podendo alugar casas nem comprar automóveis (Brian Snyder/Reuters)
AFP
Publicado em 23 de novembro de 2018 às 15h28.
A doação recorde de US$ 1,8 bilhão de Michael Bloomberg para auxílio financeiro à Universidade Johns Hopkins reflete o problema da dívida estudantil nos Estados Unidos, o que pode ser um fardo mesmo anos depois da formatura dos estudantes.
Segundo o Departamento de Educação, 42,2 milhões de americanos estavam pagando empréstimos estudantis federais no fim de junho de 2018 e a soma devida chegava a US$ 1,5 trilhão - o maior volume de dívida depois dos empréstimos imobiliários.
Bloomberg, ex-prefeito de Nova York, disse que estava fazendo a doação a sua alma mater para ajudar estudantes qualificados, mas de renda baixa e média a ter acesso à educação superior, em um país onde os custos normalmente superam os US$ 50 mil ao ano nas universidade de elite - um montante proibitivo para a maioria das famílias.
"Eu tive muita sorte: meu pai foi um contador que nunca ganhou mais de US$ 6 mil ao ano. Mas eu pude me financiar na Universidade Johns Hopkins através de um empréstimo estudantil de Defesa Nacional e de manter um trabalho no campus", escreveu em coluna no The New York Times o fundador do serviço de notícias financeiras de mesmo nome.
A doação - que estima-se ser a maior já feita a uma universidade - é para "garantir que possamos recrutar mais estudantes de primeira geração (a cursar a universidade) e baixa renda e prover acesso completo a cada dimensão da experiência John Hopkins", afirmou o diretor Ronald Daniels.
Atualmente, 44% dos estudantes na instituição de Baltimore, Maryland, terminam seus estudos endividados, em média devendo mais de US$ 24 mil, segundo dados da universidade.
Para Sandy Baum, professor universitário no Instituto Urban, a doação de Bloomberg é "genial", mas "é só uma gota no oceano".
Seu gesto teria maior impacto se o dinheiro tivesse sido destinado a melhorar a qualidade da educação para mais estudantes em instituições privadas ou públicas menos elitistas, disse à AFP, acrescentando que elas carecem de fundos.
Baum não se opõe aos empréstimos estudantis porque para a maioria dos estudantes a opção vira ir ou não ir à universidade.
A maioria das dívidas estudantis, explica, estão entre US$ 15 mil e US$ 20 mil, mas não é raro chegar a US$ 40 mil para se formar na graduação, em quatro anos.
O College Board estima que o custo médio de um curso de quatro anos em uma universidade privada é de US$ 34.740, sem contar alojamento e gastos diários.
Muitos estudantes pegam empréstimos com o governo federal ou instituições privadas.
Alguns, especialmente os menos ricos, caem na espiral do superendividamento quando não conseguem pagar seus empréstimos. Assim, perdem acesso ao crédito, não podem alugar casas nem comprar automóveis.
Este problema preocupa a todos, inclusive o banco central americano. "À medida que as dívidas estudantis continuam crescendo e se tornam cada vez maiores, poderiam frear o crescimento", alertou o presidente do Fed, Jerome Powell, em março.
Joanna Darcus, advogada de proteção ao consumidor pela NCLC, indicou que a doação de Bloomberg é necessária em um "sistema completamente quebrado".
Para os estudantes de baixa renda "é muito importante reduzir o custa da educação", já que a dívida estudantil aumenta a distância entre ricos e pobres, disse à AFP.
A NCLC defende um aumento das bolsas universitárias, já que dessa forma "a dívida do estudante não prejudica suas decisões a nível pessoal, profissional ou financeiro", acrescentou.