Economia

"Dívida verde" começa a atrair países emergentes, entre eles o Chile

Criados há cerca de 10 anos, os títulos verdes se destinam a financiar investimentos em favor da transição energética e são cada vez mais populares

Manifestantes pelo clima: Fundos verdes começam a atrair interesse entre países emergentes, entre eles o Chile, que em breve irá sediar a a COP25 (Leonhard Foeger/Reuters)

Manifestantes pelo clima: Fundos verdes começam a atrair interesse entre países emergentes, entre eles o Chile, que em breve irá sediar a a COP25 (Leonhard Foeger/Reuters)

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AFP

Publicado em 10 de julho de 2019 às 15h51.

A dívida verde atrai cada vez mais países emergentes, como o Chile, o primeiro país do continente a dar este passo.

O Chile manifestou, recentemente, sua convicção "verde": seis meses antes de sediar a próxima Conferência anual da ONU sobre o Clima, em dezembro, o país captou US$ 850 milhões e, depois, € 861 milhões, para financiar infraestruturas de transporte coletivo ecológico, assim como projetos de energias renováveis e de gestão da água.

"O Chile não é apenas um dos primeiros países do continente a se lançar" neste tipo de mercado, "também é um dos mais avançados na luta contra a mudança climática", disse à AFP Tanguy Claquin, responsável mundial de finança social e ambiental do Crédit Agricole CIB, que fará parte dos bancos que vão dirigir a emissão em euros.

Criados há cerca de dez anos, os títulos verdes se destinam a financiar investimentos em favor da transição energética e ecológica e são cada vez mais populares. Este ano, teve a adesão da Indonésia, em fevereiro; da Coreia do Sul, em junho; e de Hong Kong, em maio. Em 2018, esta "onda verde" já havia seduzido países como a Nigéria e as ilhas Fiji.

Mundo emergente e verde

"O mundo emergente, assim como as economias desenvolvidas, está envolvido nestes desafios ambientais e sociais. Fazer uma emissão verde é um vetor excepcional para se afirmar nisso", disse à AFP Frédéric Gabizon, responsável pelo mercado de títulos no HSBC, que faz parte dos bancos que dirigem a grande maioria das chamadas "operações verdes".

Algumas nações emergentes "atravessaram, porém, crises que afastaram a dívida verde de suas maiores prioridades", explicou Claquin.

Na América Latina, o Brasil abriu mão de sediar a COP25 um mês depois da eleição do presidente de extrema direita Jair Bolsonaro, um cético sobre a mudança climática.

Brasil, Turquia e Arábia Saudita estão entre os países que quase levaram ao fracasso o consenso sobre clima obtido durante a cúpula do G20 no final de junho passado, embora tenham, enfim, firmado um termo de compromisso.

Para Gabizon, contudo, "a tendência ao desenvolvimento econômico sustentável e duradouro é cada vez maior e, deste ponto de vista, os países emergentes também participam desse movimento planetário".

Desde 1º de janeiro, o valor total dessas emissões mundiais de títulos verdes alcançou US$ 147 bilhões no final de junho, segundo dados do HSBC.

O exemplo do Chile

O ano foi marcado, sobretudo, pela chegada triunfal da Holanda, que captou cerca de 6 bilhões de euros, seguindo os passos da França. Paris é uma referência neste âmbito, com uma primeira emissão de 7 bilhões de euros em janeiro de 2017. Agora, acumula cerca de 19 bilhões de euros. "Esta operação do Chile vai servir de exemplo e gerar outras. A tendência já está aí", acredita Claquin.

E, em cada operação, o interesse dos investidores é claro, já que são oferecidas condições tão atrativas quanto em um empréstimo convencional.

Segundo a Climate Bonds Initiative (CBI), organismo de referência em matéria de dívida responsável, a Nigéria "se prepara para uma segunda emissão". Egito e Peru devem aderir em 2020.

Depois de elogiar a vontade do Chile de satisfazer as exigências do Acordo de Paris de 2015, o CBI avaliou que o país-sede da COP25 "elevou bastante o 'padrão verde' em todo continente" americano.

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