Economia

Disparada do dólar afeta IPCA de 2016

Neste ano, o impacto do dólar já começa a aparecer nos preços do atacado


	Dólares: na ultima semana, moeda ultrapassou a casa dos 4 reais
 (Andrew Harrer/Bloomberg)

Dólares: na ultima semana, moeda ultrapassou a casa dos 4 reais (Andrew Harrer/Bloomberg)

DR

Da Redação

Publicado em 27 de setembro de 2015 às 11h42.

São Paulo - A disparada do dólar, que superou na semana passada a marca de R$ 4, adia a volta da inflação para o centro da meta de 4,5% para depois de 2017. Além disso, aumenta a pressão sobre o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2016, que corre o risco de superar o teto da meta de 6,5%, segundo economistas ouvidos pelo ‘Estado’.

Para este ano, o impacto do dólar já começa a aparecer nos preços do atacado, sobretudo nas matérias-primas. Mas o repasse ao consumidor deve ser gradual e atenuado pela recessão.

"Se o câmbio continuar no patamar de R$ 4, a perspectiva de inflação para o ano que vem estará mais comprometida", afirma Heron do Carmo, professor da Faculdade de Economia da USP. Como a economia real trabalha com uma certa defasagem, o efeito da alta do câmbio nos custos deve aparecer mais para frente.

Além disso, se o câmbio continuar pressionado, será necessário reajustar a gasolina, seguindo a nova política da Petrobras. Esses fatores explicam, segundo Heron, porque o efeito do dólar sobre os preços no varejo será mais intenso em 2016, apesar de ser esperada a desaceleração do IPCA por causa da perda de fôlego dos preços dos serviços e das tarifas.

Para este ano, ele acredita que o resultado da inflação, da ordem de 9,5%, vai depender muito mais do comportamento dos alimentos. Quanto aos outros itens, Heron acredita que a recessão vai segurar o repasse.

Essa também é a avaliação do economista da LCA Consultores, Fábio Romão. Até agora, ele vê reflexos do repique do dólar nas commodities agrícolas. O índice de preços CBR para alimentos disparou em reais a partir de julho, tendo reflexos sobre as cotações agropecuárias no atacado em meados de agosto e no início deste mês.

O índice de preços agropecuários do atacado da FGV encerrou agosto com alta de 0,58%, mas subiu 1,35% em 30 dias até 10 setembro. A projeção de Romão é que o IPA agropecuário encerre este mês com alta de 3%.

"Os desdobramentos desse movimento do atacado desembocarão, de maneira defasada e irregular, no varejo em setembro." Ele espera alta de 0,43% para o grupo alimentos e bebidas no IPCA-15 este mês, após deflação de agosto (-0,01%).

Salomão Quadros, superintendente adjunto de Inflação do Ibre/FGV, observa que o impacto do câmbio já pode ser notado na variação nos preços de materiais para manufatura no atacado. Neste mês, até o dia 10, os preços desse grupo subiu 1,37%, após avançar 0,93% em agosto. "O repasse vem ocorrendo gradualmente", diz Quadros.

No varejo, ele ressalta que os primeiros efeitos do câmbio aparecem nos alimentos, como o pão francês, cujo preço subiu 0,66% no IPCA-15 deste mês, puxado pelo trigo importado. A carne, outro produto com preço balizado pelo mercado internacional, está 0,58% mais cara.

Meta

Apesar de o Banco Central reafirmar que pretende trazer a inflação para o centro da meta de 4,5% no fim de 2016, levando em conta que a recessão será forte para brecar os repasses, é consenso entre os economistas que esse resultado será muito difícil de ser atingido nesse espaço de tempo.

A consultoria Tendências projeta inflação de 4,5% para 2018 e a LCA acredita que a inflação volte para essa marca a partir de 2019. Já Heron acha possível trazer o IPCA para 4,5% em 2017, desde que seja feito o ajuste fiscal. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:CâmbioDólarEstatísticasIndicadores econômicosInflaçãoIPCAMoedas

Mais de Economia

Benefícios tributários farão governo abrir mão de R$ 543 bi em receitas em 2025

“Existe um problema social gerado pela atividade de apostas no Brasil”, diz secretário da Fazenda

Corte de juros pode aumentar otimismo dos consumidores nos EUA antes das eleições

Ministros apresentam a Lula relação de projetos para receber investimentos da China