Economia

Discurso não surpreende, mas traz inconsistências

Para professor do Insper, países não têm muitas alternativas se não injeções na economia; controle do ‘tsunami monetário’ deve ser feito via juros no Brasil


	Presidente Dilma Rousseff discursa na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas
 (Mike Segar/Reuters)

Presidente Dilma Rousseff discursa na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (Mike Segar/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 25 de setembro de 2012 às 12h27.

São Paulo - A presidente Dilma Rousseff discursou hoje na 67ª Assembleia-Geral da ONU. A questão econômica dominou boa parte do texto, que tratou de protecionismo e das medidas de combate à crise feita nos Estados Unidos e Europa, que causa o que o governo costuma chamar de “tsunami monetário”.

O discurso não surpreendeu, mas trouxe inconsistências, na opinião de Roberto Dumas, professor do Insper.

Confira os principais pontos do discurso:

Protecionismo

"Não podemos aceitar que iniciativas de defesa comercial de países emergentes sejam classificadas como protecionismo", disse a presidente em seu discurso. Recentemente, o Brasil aumentou a tarifa de produtos importados e novos setores devem entrar nessa lista em outubro. “Se esse tipo de medida não é protecionismo, não sei o que é”, afirma o professor do Insper.

Dilma criticou medidas protecionistas e essa é, na opinião do professor, uma das inconsistências presentes no discurso.

“Numa situação econômica como a que existe, os países querem ‘exportar sua recessão’ é normal que medidas protecionistas aconteçam”, avalia o professor Roberto Dumas. Essa é uma tendência que, na visão do professor, tende a aumentar.

“Tsunami monetário”

Dilma criticou as medidas de estímulos à economia implantadas por grandes Bancos Centrais, dizendo que esse tipo de política prejudica economias emergentes. 


Para o professor Roberto Dumas, do Insper, essa é outra inconsistência importante a ser apontada no discurso. “O dinheiro vai para um país porque os juros são altos”, afirma. Os juros altos do Brasil são atraentes para investidores internacionais e por isso o dinheiro vem.

Apesar da crítica, grandes BCs já utilizaram uma série de armas para combater a crise e não há muito o que fazer se não injetar dinheiro na economia. Nos Estados Unidos, por exemplo, não há como baixar ainda mais os juros, já negativos, uma medida que seria natural nesse cenário. 

Inflação

Dilma falou em seu discurso que o país tem “feito a lição” e controlado bem a inflação. Não é a mesma opinião do mercado. “Está claro que no ano que vem a inflação ou ficará no teto da meta ou passará disso”, afirmou o professor.

Recentemente, o BNP Paribas fez uma projeção nada animadora sobre o assunto. “No horóscopo chinês, 2012 é o ano do dragão. Mas, no Brasil o dragão chegará um ano depois, já que 2013 será o ano do dragão da inflação”, afirmou o economista Marcelo Carvalho, em relatório.

Para controlar essa inflação, uma das principais armas seria aumento de juros e, novamente, aparece o risco de “tsunami monetário”, como lembrar o professor Roberto Dumas.

Consumo

Outra questão que tem forte impacto na inflação é o incentivo ao consumo que o Brasil vem fazendo. Dilma reforçou que também estão sendo feitos investimentos em infraestrutura e que o importante é dosar essas medidas, e não escolher entre uma e outra.

Para o professor do Insper, a medida é acertada. “O problema é o timing dessas medidas”, diz. Ele explica que um investimento em infraestrutura demora anos para surtir efeito, enquanto o estímulo ao consumo é imediato.

O ideal seria que os investimentos pela competitividade do país tivessem sido feitos antes do incentivo ao consumo, afirma. 

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