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Diretrizes da política econômica ficam, diz Mantega

O ministro da Economia fala sobre a política econômica após a presidente Dilma confirmar sua saída do governo


	Mantega: "as diretrizes serão mantidas em 2015"
 (José Cruz/Agência Brasil)

Mantega: "as diretrizes serão mantidas em 2015" (José Cruz/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 19 de setembro de 2014 às 09h00.

Brasília - A mudança na cúpula do Ministério da Fazenda não significará alterações na política econômica em caso de reeleição da presidente Dilma Rousseff. A afirmação é do ministro Guido Mantega, no comando da pasta há oito anos e meio.

Em entrevista ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, a primeira desde que a presidente Dilma confirmou sua saída do governo, Mantega defendeu a atual política econômica: "As diretrizes serão mantidas em 2015".

Pela primeira vez, o ministro disse que as medidas anticíclicas, iniciadas em 2008 como resposta à crise financeira internacional, "estão terminando".

Principal marca de sua gestão, o fim do conjunto de medidas fiscais, monetárias e de crédito deve, segundo ele, pavimentar o caminho para a redução da taxa de juros.

"É claro que temos de fazer ajustes, porque a política anticíclica está terminando. Então, é preciso recuperar a arrecadação para aumentar o esforço fiscal e, assim, abrir espaço para a flexibilização da política monetária, que está muito, muito apertada", disse. A seguir, trechos da entrevista:

Depois de oito anos, o sr. acredita que um novo ministro da Fazenda, em caso de vitória de Dilma Rousseff, mudará a política econômica?

A mudança de ministro não significa mudança de política econômica. As diretrizes serão mantidas em 2015. Mas não devemos colocar a carroça na frente dos bois. Ninguém está pensando em transição ainda. Primeiro tem de ganhar a eleição e depois fazer a equipe.

Até o final do ano estou aqui exercendo meu cargo plenamente. Mudança de ministro não quer dizer mudança de política porque é uma política de governo.

A meta fiscal dificilmente será cumprida em 2014. O sr. ainda avalia que o superávit primário será atingido neste ano?

Nós estamos em um ano mais difícil do ponto de vista fiscal, com um crescimento econômico menor do que em 2013, e isso se reflete na arrecadação. No segundo semestre, o quadro já está melhorando, porque a economia está indo melhor.

De fato, a arrecadação até agora está menor do que foi projetado, mas estamos fazendo todo o esforço para fazer o melhor primário possível.

Temos ainda uma série de receitas que estão por vir. São dois Refis (programas de renegociação tributária) neste ano, e temos também a parte da Petrobrás pelos campos cedidos e o leilão do 4G, que vai acontecer. Somente em novembro saberemos com segurança.

O governo interveio muito no mercado de câmbio. Desde o fim do ano passado, o Banco Central conduz o programa de swaps, para estabilizar a cotação do dólar. Até onde isso vai?

Nossa opção sempre foi a de deixar o câmbio flutuante, mas em alguns momentos somos obrigados a moderar o apetite do mercado. O câmbio mais desvalorizado é bom para a indústria e para os exportadores, mas uma taxa muito volátil é ruim para todo mundo.

O BC agiu corretamente em meio à maior volatilidade mundial criada pelo Fed no ano passado. O dólar chegou a R$ 2,45 em janeiro.

O BC fez intervenção moderada, porque se não controlar, isso ganha impulso. O programa de swaps vale até o fim do ano e não está previsto renovar. A decisão é do BC, afinal ele tem autonomia, mas a previsão é que não se renove.

O sr. falou nesta semana em ajustes necessários para 2015. Que ajustes são esses?

Os ciclos na economia mundial exigem ajustes no câmbio, no fluxo de capitais etc. Como estamos nos aproximando do fim deste ciclo de crise mundial, iniciado em 2008 e agravado no fim de 2011, claro que temos de fazer ajustes. A política anticíclica está terminando.

Então, é preciso recuperar a arrecadação para aumentar o esforço fiscal e assim abrir espaço para a flexibilização da política monetária, que está muito, muito apertada.

Os juros no Brasil vão cair no ano que vem?

Ao fazermos um ajuste fiscal mais forte, como prevemos fazer em 2015, abrimos a possibilidade de o Banco Central flexibilizar a política monetária. A política monetária está muito dura, mas assim foi para que pudéssemos debelar a pressão inflacionária.

Agora que a inflação caiu, achamos que não haverá pressão no início do ano que vem, porque a seca que vem assolando o País há três anos deve, enfim, ser mais branda.

A flexibilização dos juros é importante para regular o nível de demanda que se retraiu muito. A reversão da atual política vai reativar o crédito e, consequentemente, o comércio e a indústria.

O sr. se reuniu com a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante hoje (ontem). Novas medidas estão a caminho? Enfim, a simplificação do PIS/Cofins sairá do papel?

São reuniões de rotina, não costumo revelar minhas conversas com a presidente. A proposta de reforma do PIS/Cofins, de fato, está sendo amadurecida aqui no ministério há algum tempo. Esses tributos têm mil dispositivos e a ideia, como há muito tempo, é permitir que as empresas possam usar os créditos tributários. Mas isso não foi discutido com Dilma.

A política econômica tem sido um dos principais focos das críticas de Aécio Neves e Marina Silva. Como o sr. vê isso?

A Marina, primeiro, tem de ganhar a eleição para depois fazer alguma cobrança de política econômica. Os economistas dela falam em tarifaço e em ‘desmame’ da indústria no BNDES. Se fizer tarifaço, algo que não faz sentido para 2015, a população pagará mais no combustível, no remédio e na energia.

Também fico muito preocupado quando Armínio Fraga fala em aumentar o superávit primário. Na época dele, o primário era alto porque tinha de pagar os juros levados à estratosfera por ele.

Ele pegou a inflação em 9% e entregou em 12,5%. Precisamos ter cuidado com essa estratégia econômica que está sendo professada. Quando falam em reajuste de tarifas, como podem compatibilizar isso com o controle e queda da inflação? Imagina a taxa de juros que vão praticar para amarrar tudo isso.

Os analistas apontam uma melhora do mercado acionário brasileiro, e das ações da Petrobrás em especial, sempre que há uma queda da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas. Como o sr. vê isso?

Se eu fosse um analista, não estaria olhando para especulação eleitoral, mas para os fundamentos da empresa. Significa que a produção está aumentando, o lucro vai aumentar e terá bons resultados.

Eu não me admiraria se tem alguém que lança uma expectativa para simplesmente poder se aproveitar da movimentação da bolsa. 

(Colaboraram Renata Veríssimo e Bianca Ribeiro). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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