Economia

Dinheiro emprestado para a Argentina está vindo para o Brasil, diz Haddad

Ministro disse ainda que governo terá de fazer nova rodada de debates com o Congresso sobre cortes de gastos

Fernando Haddad, ministro da Fazenda, durante o evento Macro Day 2025, do BTG Pactual (Divulgação)

Fernando Haddad, ministro da Fazenda, durante o evento Macro Day 2025, do BTG Pactual (Divulgação)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 22 de setembro de 2025 às 11h11.

Última atualização em 22 de setembro de 2025 às 11h19.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), fez uma defesa dos resultados de seu trabalho e comparou a situação atual do Brasil com a da Argentina, durante a abertura do evento Macro Day.

"A Argentina, até outro dia, era vista como o exemplo que o Brasil deveria seguir. Eu não consigo compreender um negócio desse. Para nós, é ótimo que estão emprestando dinheiro para a Argentina, porque o dinheiro está vindo para cá. No turismo e na compra de mercadorias brasileiras", disse Haddad, nesta segunda-feira, 21.

A Argentina vive uma grave crise nas últimas semanas, com disparada do dólar e do risco-país. O governo argentino gastou mais de US$ 1 bilhão na semana passada para tentar segurar o câmbio, e negocia um novo empréstimo com os Estados Unidos nesta semana. Em abril, o país fechou um empréstimo de US$ 20 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que é liberado em parcelas.

O ministro participou do evento Macro Day, organizado pelo banco BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME). No começo de sua fala, Haddad mostrou uma apresentação de slides, na qual apontou que os governos dos presidentes Michel Temer e Jair Bolsonaro não solucionaram o déficit fiscal do Brasil e que o governo Lula herdou muitas despesas contratadas pela gestão anterior.

Como exemplos, Haddad destacou ampliação da elegibilidade do Benefício de Prestação Continuada (BPC), que teria acrescentado em despesas de R$ 126,5 bilhões de 2022 a 2026, e o aumento do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), que teria ampliado as despesas em R$ 122,5 bilhões de 2021 a 2026.

Haddad ressaltou que, apesar deste cenário, o governo Lula manteve as despesas do governo central ligeiramente abaixo de 19% do PIB, valor próximo ao dos governos anteriores.

O ministro elogiou ainda a "arquitetura" do arcabouço fiscal, mecanismo que reduz os gastos públicos, mas disse que o Congresso precisa ajudar o país a cortar mais gastos obrigatórios.

"Nós vamos ter que ter uma nova rodada de negociação com o Congresso", afirmou Haddad.

Como exemplo de temas a debater, citou os repasses ao governo do Distrito Federal, o GDF. O governo queria que o aumento dessa verba fosse regulado pelas regras do arcabouço, mas o Congresso optou por manter a regra anterior, de crescimento que acompanha a alta da arrecadação.

Estado forte

Perguntado se políticos de esquerda tendem a ser menos comprometidos com o controle de gastos, Haddad disse que discordâncias sobre gastar menos ou mais são comuns dentro de governos, e que ele, pessoalmente, defende um Estado atuante, mas com as contas em dia.

"Um Estado forte é um Estado menos endividado. Um Estado com mais capacidade de, diante de uma emergência, ter condição de agir. Um Estado que está endividado, que não tem credibilidade e prestígio, é um Estado forte? Não faz o menor sentido", afirmou.

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