Indústria (Getty Images/Getty Images)
Ligia Tuon
Publicado em 5 de março de 2020 às 12h07.
Última atualização em 5 de março de 2020 às 14h08.
São Paulo - Os preços dos produtos industriais na porta de fábrica, ou seja, sem o custo de frete ou impostos, medidos pel Índice de Preços ao Produtor (IPP), desacelerou de 0,65% em dezembro para elevação de 0,32% em janeiro, no sexto mês seguido de taxas positivas, revelou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta quinta-feira (05).
O índice poderia ter subido mais não fosse pela queda de 2,01% nos preços dos alimentos, que impediu uma alta mais elevada, ajudando a conter o IPP em -0,47 ponto porcentual.
As maiores elevações foram registradas pelas indústrias extrativas (5,52%), metalurgia (3,11%) e borracha e plástico (2 01%).
Em termos de influência, os principais impactos positivos sobre o IPP foram dos aumentos nos preços das extrativas (0,25 ponto porcentual), metalurgia (0,18 ponto porcentual) e veículos automotores (alta de 1,23% e impacto de 0,10 ponto porcentual).
As elevações disseminadas foram puxadas por diversos fatores, como a valorização do dólar e a alta em preços de commodities, explicou Manuel Campos, gerente do IPP no IBGE.
"Tem alguma influência do dólar. O setor metalúrgico, com peso do dólar mais alto, ganhou competitividade e agora está conseguindo repassar preços. Outros veículos de transportes são influenciados pelo dólar, com avião, navio. O fumo também tem impacto do dólar", lembrou Campos, que contabiliza uma alta de 0 97% da moeda americana ante o real em janeiro.
Já o aumento na cotação do minério de ferro impulsionou os preços das indústrias extrativas, principal pressão sobre o IPP de janeiro, com avanço de 5,52%.
A inflação da indústria só ficou mais comportada no primeiro mês de 2020 por conta de uma redução de preços de 7,09% no grupo abate e fabricação de produtos de carne, que inclui bovinos, aves e suínos.
Apesar da queda, o grupo ainda não devolveu todo o aumento acumulado no segundo semestre de 2019, quando houve pressão da demanda chinesa por esses produtos.
A evolução do IPP pode ganhar uma atenção extra no começo deste ano em função do enfraquecimento da atividade no país e do avanço do surto de coronavírus pelo mundo.
Pelo fato de monitorar o preço tanto de produtos recebidos por produtores nacionais que estão na base da cadeia produtiva quanto dos que estão no topo, como produtores de bens de consumo, o IPP permite que os analistas identifiquem movimentos de transmissão de aumento de preços em cadeia.
Com a paralisação parcial de parte importante da indústria chinesa, da qual o Brasil importa componentes usados pela indústria — como partes e peças para veículos, máquinas e equipamentos –, o setor produtivo nacional sofre com o risco de escassez.
O país asiático, maior comprador de matérias-primas brasileiras, de minério de ferro a soja, informou no último fim de semana que o índice de atividade industrial Purchasing Managers’ Index (PMI) despencou de 50 em janeiro para 35,7 em fevereiro – índice mais baixo da história. Leituras abaixo de 50 indicam contração do setor.
No caso de haver um choque negativo de oferta relevante no curto prazo, esse movimento tende a elevar o IPP e os preços da economia em geral. Tal cenário, segundo a Guide Investimentos, pode colocar em xeque metas de produção e projetos de investimento de importantes empresas brasileiras. Setores atrelados ao câmbio também costumam impulsionar a alta no IPP quando há variações relevantes no real em relação do dólar.
Ainda é cedo, no entanto, para que o efeito do coronavírus comece a aparecer no IPP, segundo André Furtado Braz, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas. “Esse índice é divulgado com defasagem de 2 meses. Não creio que esse resultado venha influenciado pelo câmbio e pelos efeitos do coronavírus”, diz.
O indicador acumulou alta de 5,19% no ano passado, bem abaixo dos 9,64% registrados em 2018, por conta principalmente do câmbio e do preço das proteínas.
(Com Estadão Conteúdo)