Ruas de Detroit, em Michigan: a cidade, que chegou a ter uma população de mais de 1,8 milhão de habitantes, tem hoje cerca de 700 mil, e uma taxa de desemprego de 16%. (GettyImages)
Da Redação
Publicado em 19 de julho de 2013 às 17h30.
Washington - As autoridades de Detroit disseram nesta sexta-feira acreditar que a declaração de falência da cidade, que tem dívidas de US$ 15 bilhões, abrirá caminho para a recuperação da histórica capital do setor automobilístico americano.
A falência pode ser o momento para "encerrar uma era de sessenta anos de decadência", declarou nesta sexta-feira o governador do estado de Michigan, Rick Snyder, advertindo, no entanto, que os credores podem nunca receber seus pagamentos.
"Desde 2000 a cidade perdeu 28% de sua população, mas 38% de seu orçamento é gasto com obrigações do passado, como o pagamento de pensões", disse o administrador de emergência da cidade americana, Kevyn Orr.
Ambos deram uma coletiva de imprensa para explicar a declaração de falência de Detroit, que foi recomendada por Orr e autorizada na quinta-feira por Snyder.
Snyder declarou em março a emergência financeira de Detroit, que já foi uma das mais ricas e bem sucedidas cidades americanas, e designou Orr como administrador.
A cidade, que chegou a ter uma população de mais de 1,8 milhão de habitantes, tem hoje cerca de 700 mil, e uma taxa de desemprego de 16%, índice 8,4 pontos maior que o nacional, de 7,6%.
Hoje em Detroit 40% da iluminação pública não funciona, só um terço das ambulâncias municipais está em serviço e mais de 70 mil casas estão abandonadas.
Bairros inteiros estão desertos e em outros os moradores vivem inseguros, já que a polícia não tem condição de atender adequadamente os chamados de ajuda ou proteção. "Tentamos superar esta situação durante os últimos quatro anos", ressaltou o prefeito Dave Bing. "Mas foi muito, muito difícil", admitiu.
Após a declaração de falência se abre um período de 30 a 90 dias durante o qual um juiz federal determinará se a cidade pode amparar-se na disposição legal da Constituição americana que busca permitir que os municípios se reestruturem, ou seja, organizar a prioridade de pagamento a seus credores, sendo que alguns podem não recuperar nada.
Os mais preocupados são os sindicatos que representam os funcionários municipais cujos fundos de pensão têm prioridade duvidosa entre os credores e cujos filiados encaram cortes de salários e benefícios.
Até agora a maior falência municipal nos EUA era a do Condado Jefferson, no Alabama, que em 2011 pediu a proteção de seus credores por dívidas de US$ 4,2 bilhões, em que 70% corresponde a obras sanitárias.
Fundada em 1701 pelo explorador e comerciante de peles francês Antoine de Lamothe-Cadillac, Detroit Se tornou no século XX o maior centro mundial da indústria automobilística. Na década de 50 a cidade já tinha mais de 1,8 milhão de habitantes. A região era sede das três grandes empresas do setor, General Motors, Ford e Chrysler, e ganhou o apelido de Motor City.
Culturalmente, Detroit viu surgir na década de 60 a Motown, gravadora que ficou famosa pelos grandes artistas e tendências da música negra que divulgou.
A sorte de Detroit começou a mudar nos anos 60 quando os fabricantes de veículos começaram a abrir unidades em outros estados onde não havia sindicatos, convênios coletivos ou planos de previdência.
A isto uniu-se a invasão de automóveis japoneses no mercado dos EUA, que culminou na crise de todo o setor automobilístico americano em 2009, das quais em Detroit só se salvaram poucas fábricas da GM e da Chrysler.
No entanto, há algumas luzes no panorama sombrio da cidade: a emigração deixou no centro da área metropolitana residências e prédios de escritório abandonados em que começam a se instalar empresas de alta tecnologia, pequenos negócios e artistas.
Em Downtown Detroit foram abertos três cassinos, novos ginásios e um projeto de revitalização das margens do Rio Detroit,o que pode indicar um verdadeiro renascimento.