Cemig e Eletrobras: as duas anunciaram planos de desinvestimentos que podem envolver mais de R$ 10 bi (Cemig/Divulgação)
Reuters
Publicado em 6 de junho de 2017 às 18h04.
São Paulo - Uma série de ativos em geração e transmissão de eletricidade no Brasil que serão colocados à venda pelas estatais Eletrobras e Cemig deve atrair interesse principalmente de investidores financeiros estrangeiros, como fundos de investimento e de pensão.
Por outro lado, as estatais podem ver dificuldades para negociar os maiores empreendimentos incluídos na lista de desinvestimentos, as hidrelétricas de Santo Antônio e Belo Monte, no Norte do país, usinas bilionárias que dificilmente atrairão interessados que não gigantes elétricas chinesas, segundo especialistas.
As duas estatais brasileiras anunciaram planos de desinvestimentos que podem envolver mais de 10 bilhões de reais. Contudo, os valores poderiam até ultrapassar esse montante, caso essa estimativa contemplasse uma venda total das grandes usinas --apenas Belo Monte, na qual a Eletrobras tem quase 50 por cento, está orçada em mais de 30 bilhões de reais.
Os programas de desinvestimentos marcam uma enorme virada estratégica das companhias frente aos últimos anos, quando ambas companhias tinham ambiciosos planos de expansão que incluíam até negócios no exterior.
A nova estratégia das empresas, como foco em reduzir dívidas e se desfazer de alguns empreendimentos da época de bonança, contrasta com a agressividade vista anos atrás, no final de 2011, quando Eletrobras e Cemig chegaram a disputar com grandes elétricas globais o leilão de uma fatia na portuguesa EDP Energias de Portugal, ao final adquirida pela China Three Gorges.
"Parece ser um momento de reorganização da atuação dessas empresas, que tiveram uma expansão muito grande nos últimos 10 anos... os investidores, em especial os estrangeiros, têm visto isso como uma oportunidade de efetivamente ampliar sua participação no setor", disse à Reuters especialista em energia do escritório de advocacia Mattos Filho, Fabiano de Brito.
Grande parte dos empreendimentos que serão colocados no mercado pelas estatais deverá atrair interessados mesmo em meio a um agravamento da crise política no Brasil, dado o caráter de longo prazo dos investimentos em energia, disse o especialista em negócios no setor do Pinheiro Neto Advogados, José Oliva.
"Essa incerteza política queira ou não queira vai ser passageira. A gente que trabalha bastante com essas transações sempre vê que uma crise é onde saem mais negócios", afirmou.
Os principais interessados, no entanto, devem ser fundos, uma vez que boa parte dos negócios listados para venda são fatias minoritárias, sem poder de gestão nos empreendimentos.
"O interesse existe, e acho que vão conseguir (compradores), mas talvez em alguns ativos o preço não seja o que estavam imaginando", disse à Reuters o sócio da gestora de recursos FIR Capital, Paulo Dalla Nora.
A Eletrobras pretende levantar cerca de 5 bilhões de reais com a venda de fatias minoritárias em projetos de geração e transmissão de eletricidade, principalmente.
Já a Cemig vai buscar negociar participações em subsidiárias e controladas de transmissão e de geração, com ativos eólicos e pequenas hidrelétricas, além de empresas de gás e telecomunicações.
As duas estatais também poderão vender suas fatias nas mega hidrelétricas de Belo Monte e Santo Antônio, que estão entre as maiores usinas do mundo.
Segundo Dalla Nora, da FIR Capital, as participações minoritárias em geração, principalmente em fontes renováveis, já estão no radar de diversos investidores, principalmente fundos de investimento e de pensão do exterior.
A gestora FIR Capital tem conversado com interessados em alguns ativos da Eletrobras e poderia inclusive entrar como sócia minoritária de parceiros, com 10 por cento dos negócios.
No setor de transmissão, que está aquecido no Brasil, também pode não ser difícil para as estatais encontrar compradores, disse o especialista do Veirano Advogados, Tiago Figueiró.
Ele destacou que, entre os ativos da Eletrobras, fatias minoritárias podem atrair fundos ou transmissoras, enquanto a Cemig, que tentará vender uma fatia na transmissora Taesa, possivelmente encontrará interesse nos colombianos da ISA, que já são sócios da companhia, na qual compraram uma fatia no final de 2016.
Por outro lado, a venda das fatias nas hidrelétricas de Santo Antônio e Belo Monte deverá representar enorme desafio para Eletrobras e Cemig, uma vez que os demais sócios das usinas também buscam se desfazer de suas parcelas nos negócios, o que levaria eventuais transações pelas usinas a envolver somas bilionárias.
Como essas usinas ainda têm outros problemas --ambas são alvo de acusações de corrupção e brigas entre os sócios que terminaram em arbitragem-- possivelmente só atrairiam compradores do outro lado do mundo.
"Não são ativos simples... é muito risco e pouco retorno, é muito difícil atrair um americano ou europeu para um negócio desses. Aí realmente pode entrar um chinês, porque é do tamanho que eles gostam e entra em uma análise estratégica deles", explicou Figueiró, do Veirano Advogados.
Para Oliva, do Pinheiro Neto, essas questões não afastam compradores, mas tornam uma eventual negociação mais complicada.
"São projetos grandes e que ainda têm algumas disputas regulatórias e judiciais a serem solucionadas, o que pode impactar a precificação... acaba dificultando um pouco a venda", disse.