Série mostra desigualdade em Nairóbi, no Quênia (Johnny Miller/Divulgação)
João Pedro Caleiro
Publicado em 15 de janeiro de 2017 às 08h00.
Última atualização em 15 de janeiro de 2017 às 08h00.
São Paulo - Uma imagem vale mais que mil palavras: é impossível não pensar no clichê diante das fotos de Johnny Miller.
Com a ajuda de drones, este jovem fotógrafo americano vem mostrando o tamanho da desigualdade em países africanos.
Miller começou a morar em 2011 na Cidade do Cabo, na África do Sul, para fazer um mestrado em antropologia e acabou ficando.
O país que sustentou um sistema de apartheid social e urbano por quase meio século foi onde o fotógrafo começou o seu projeto, divulgado em EXAME.com no meio do ano passado.
Agora, ele voltou seus olhos para o Quênia, um país de 45 milhões de pessoas na costa leste do continente africano.
"O Quênia é um lugar muito diferente da África do Sul, que tinha uma sociedade urbana estabelecida por anos enquanto o Quênia parece estar se desenvolvendo mais recentemente - e rapidamente", diz Miller em e-mail para EXAME.com.
O níveis de renda per capita são muito distantes: US$ 2.901 no Quênia contra US$ 12.389 na África do Sul, em paridade de poder de compra.
Mas enquanto a África do Sul cresceu no máximo 0,5% no ano passado, o Quênia ficou mais próximo dos 6% e deve manter o ritmo em 2017.
"Nairóbi é intensa: está rapidamente se tornando uma megacidade (se já não for), o que significa desenvolvimento desigual, tráfego e crime, e uma atmosfera comercial desinibida permeia a cidade", diz Miller.
Outra coisa que as fotos mostram é como o desenvolvimento da infraestrutura pode conectar e trazer progresso ao mesmo tempo em que divide comunidades.
"Mas as diferenças entre riqueza e pobreza extrema são mais difíceis de encontrar do que na África do Sul. Eu acho que o contexto da riqueza aparente é diferente: menos visível em mansões e gramados arrumadinhos e mais nas roupas, vestidos e outros meios", diz Miller.
Para quem vê as fotos, os contrastes parecem impressionantes - casas enormes, campos de golfe e bairros planejados de um lado da cerca com grandes favelas do outro.
"Em Nairóbi parece ser menos uma questão de segregação institucional e mais uma decisão econômica das pessoas pobres de viver perto de onde trabalham como trabalhadores domésticos, etc. Então você vê pequenas comunidades, algumas vezes maiores, que são muito pobres e diretamente ligadas às propriedade mais ricas, como se fosse um tipo de sistema de vassalagem", diz Miller.
O trabalho de Miller no Quênia foi financiado pela Fundação Thomson Reuters para um projeto chamado Slumscapes, que pode ser traduzido como "paisagens das favelas".
O fotógrafo continua com foco internacional e pensa em fotografar cidades americanas e mesmo brasileiras em um futuro próximo.