Economia

Desemprego sobe mais e renda cai menos do que em outras crises

Levantamento de economistas da FGV mostra que mais gente foi desempregada do que no passado por causa da crise, mas quem ficou no emprego sofreu menos

Homem sentado em fila para emprego no Rio de Janeiro em março de 2017 (Dado Galdieri/Divulgação)

Homem sentado em fila para emprego no Rio de Janeiro em março de 2017 (Dado Galdieri/Divulgação)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 5 de junho de 2017 às 16h01.

Última atualização em 5 de junho de 2017 às 16h26.

São Paulo - O atual ciclo recessivo foi marcado por uma alta do desemprego relativamente acentuada e uma queda da renda relativamente suave na comparação com outras crises recentes no país.

A conclusão vem de uma análise histórica feita pelos economistas Bruno Ottoni e Tiago Barreira, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Eles reconstruíram as séries do mercado de trabalho até 1992 com foco em recessões breves (como em 1995 e 2003) e longas (entre 1998 e 1999).

A última recessão teve 11 trimestres e foi do 2º trimestre de 2014 ao 4º trimestre de 2016, de acordo com critérios do Codade (Comitê de Datação de Ciclos Econômicos)

O PIB voltou a ficar positivo no 1º trimestre, de acordo com números divulgados na última quinta-feira (01).

No entanto, economistas alertam que os próximos resultados podem voltar ao vermelho diante de fatores de instabilidade como a crise política.

Resultados

O cálculo dos pesquisadores mostra que a recessão 2014-2016 fez o desemprego subir 5,95 pontos percentuais no total, uma média de 0,54 ponto a mais a cada trimestre de crise.

Nas crises antigas, o desemprego subiu 0,56 ponto percentual no total do ciclo, em média, ou o equivalente a 0,21 ponto percentual por trimestre de crise.

No caso da renda, aconteceu o contrário: na crise atual, a queda foi de 0,11% por trimestre e -1,22% no acumulado, contra -0,47% por trimestre e -1,55% no total em crises anteriores (tudo em média).

De acordo com Bruno Ottoni, isso acontece porque o contrato de trabalho brasileiro é relativamente flexível no processo de entrada e saída do emprego, mas muito rígido na vigência.

Em um momento de crise, a empresa acaba preferindo demitir porque não tem muitas alternativas para mexer no salário ou no número de horas trabalhadas.

As regras levam a empresa a "ajustar mais na quantidade do que no preço do trabalho", resume ele. Mas se a CLT sempre foi rígida, o que está diferente nessa crise?

A resposta é um mercado de trabalho marcado por um período longo de aumento do salário mínimo (o piso do preço do trabalho) e formalização (aumentando o alcance do contrato sobre o resultado).

O resultado disso é uma crise em que mais gente foi desempregada, mas quem ficou no emprego sofreu menos.

O impacto foi grande no número total de população ocupada, que caiu 2,3 milhões desde que o país entrou na recessão e caiu para abaixo dos 90 milhões de pessoas ocupadas.

Segundo Ottoni, isso é fruto direto do desemprego e não significa que as pessoas estão fora da força de trabalho por opções mais benignas, como estudar por mais tempo ou se aposentar.

"Ainda estamos no bônus demográfico, então ainda tem mais gente entrando do que saindo no mercado", diz Ottoni.

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