Carteira de trabalho: desemprego só não avançou ainda mais porque as pessoas estão aceitando formas precárias de ocupação para garantir a renda (Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas)
Da Redação
Publicado em 30 de agosto de 2015 às 17h46.
São Paulo - Existem claras diferenças na dinâmica da deterioração do mercado de trabalho no país, na avaliação do economista da GO Associados, Alexandre Andrade.
A comparação entre os resultados da Pesquisa Mensal de Amostras por Domicílio (PNAD) Contínua, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e da Pesquisa Mensal do Emprego (PME), revela que a taxa de desocupação está avançando mais rápido nas principais capitais brasileiros que em outras regiões. "Aparentemente, o desemprego nas regiões metropolitanas se deteriora de forma mais rápida que na média do país", comentou Andrade.
De acordo com a PNAD Contínua, a taxa de desocupação no Brasil aumentou 0,4 ponto porcentual entre o primeiro e o segundo trimestres de 2015, de 7,9% para 8,3%. Já o desemprego medido pela PME cresceu 0,6 ponto porcentual em apenas um mês, passando de 6,9% para 7,5% entre junho e julho.
O economista da GO Associados observa, porém, a necessidade de se considerar diferenças metodológicas entre as duas pesquisas, já que na Pnad Contínua o resultado é reflexo de uma média móvel, o que tende a suavizar distorções pontuais.
Andrade pontua que em São Paulo, onde a indústria e a construção civil são setores mais importantes, a taxa de desemprego está em 9,0%, acima da média captada pela Pnad, de 8,3%.
Por outro lado, em regiões onde o agronegócio é mais forte, a desocupação está mais baixa, em 5,5% na região Sul e em 7,4% na região Centro Oeste. Segundo ele, a tendência é que esta diferença continue devido à natureza econômica de cada região e ao diferente momento dos setores da atividade, com construção e indústria em queda e o agronegócio registrando ganhos.
O desemprego só não avançou ainda mais porque as pessoas estão aceitando formas precárias de ocupação para garantir a renda. "Chama a atenção o aumento da ocupação de quem se declara 'conta própria'. São pessoas que não conseguem encontrar emprego formal e partem para negócios próprios" explicou Andrade. Segundo ele, este processo revela a precarização da relação de trabalho.
Ao avaliar o avanço de 1,4% no rendimento real habitual no segundo trimestre de 2015 ante igual período de 2014, o economista da GO Associados disse que uma possível interpretação é que os reajustes salariais negociados no período ainda foram capazes de repor parte da inflação acumulada. "É um fenômeno atípico, que não deve ser observado nos próximos trimestres", projetou.