Economia

Desemprego e dívidas devem impedir aceleração da inflação

Indústria sofre com custos de produção desde que o dólar se valorizou e a tarifa de energia aumento


	Desemprego: situação de parte dos brasileiros deve impedir que aumento de preços continue
 (Marcello Casal Jr/ABr)

Desemprego: situação de parte dos brasileiros deve impedir que aumento de preços continue (Marcello Casal Jr/ABr)

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Da Redação

Publicado em 24 de julho de 2016 às 09h22.

São Paulo -- O aumento do consumo no Brasil, que deverá vir quando a economia apresentar seus primeiros sinais de melhora, será insuficiente para interromper a trajetória de desaceleração da inflação. Segundo especialistas ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado, fatores que ainda comprometem a renda do brasileiro, como o desemprego e o endividamento devem retardar o avanço da demanda, impedindo os empresários de elevar os preços para recuperar prejuízos registrados durante a crise.

Desde que o dólar começou a se valorizar e a tarifa de energia elétrica ficou mais cara, em 2015, a indústria tem sofrido com o aumento dos custos de produção. O repasse ao preço, no entanto, esbarrou na queda da demanda dos consumidores. As empresas, como resultado, tiveram de reduzir seus lucros. Outras, em situação mais delicada, fecharam as portas ou fizeram pedidos de recuperação judicial. As que sobreviveram, agora, estão na expectativa de que a economia se recupere, para que possam correr atrás do tempo perdido e voltar a ter lucros mais confortáveis.

Se a recuperação se confirmar, as empresas poderão ficar tentadas a subir o preço ao primeiro sinal de melhora da demanda, mas, segundo economistas, enquanto a taxa de desemprego estiver alta, a demanda seguirá baixa. "Embora haja sinais de início de recuperação da economia, ela será muito tímida e não conseguirá reduzir o desemprego no curto prazo", afirma Thiago Curado, da 4E Consultoria. Na sua avaliação, a taxa de desocupação deve terminar 2016 com uma média de 12,1%, subindo para 13,6% no ano que vem. "Então, até 2018, será limitada a capacidade das empresas de repassarem maiores aumentos de preços", disse.

O economista André Braz, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), chama a atenção também para o baixo nível de poupança dos brasileiros, que ficou ainda menor após a crise econômica. "Estamos vivendo um período de 'despoupança' enorme", observou Braz. "As reservas que foram construídas estão sendo retiradas pelas pessoas que estão passando por esse período de turbulência, principalmente aqueles que perderam o emprego", afirmou o pesquisador do Ibre. Com a poupança comprometida, os brasileiros não teriam folga para voltar a consumir como antes.

Para ele, quando o mercado de trabalho melhorar, o primeiro passo do consumidor será pagar as dívidas em atraso, para só então recompor as reservas. "Não vai haver espaço para aquecimento abrupto da demanda, ela vai se aquecendo lentamente", prevê o economista. No primeiro semestre de 2016, a retirada líquida da poupança alcançou R$ 42,606 bilhões, o maior volume da série histórica do Banco Central (BC) iniciada em janeiro de 1995 (21 anos). Até então, a primeira metade de 2015 era a responsável pelo pior resultado, com um volume de saques R$ 38,542 bilhões superior ao de depósitos.

Embora não ofereça riscos para a inflação no curto prazo, a tentação das empresas em subir os preços deverá dificultar a tarefa do BC em levar a inflação para o centro da meta em 2017, de 4,5%, alerta o economista Marcel Caparoz, da RC Consultores. Para ele, já há uma dificuldade de alcançar o centro da meta em razão da inércia inflacionária que refletirá os reajustes aplicados este ano. A tentativa das empresas de recuperar margens de lucro, portanto, será um fator a mais. A expectativa da RC é de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fique em 6% no ano que vem, depois de atingir 7,4% em 2016.

Na avaliação de Caparoz, os preços devem ser elevados principalmente pelos setores de serviços e comércio, que são compostos, em sua maior parte, por empresas pequenas e médias. Por serem de menor porte, diz o economista, sofrem mais com a crise e são mais sensíveis às relações de demanda e oferta. "Elas têm uma capacidade menor de diferenciar seus produtos pela qualidade, então, subir o preço torna-se a única saída para recuperar suas margens", afirmou. Empresas de maior porte, ele compara, podem apostar mais em aumento da qualidade e elevar suas vendas com base nisso.

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