Economia

Desconectado do que o Brasil precisa, Orçamento é reflexo de má gestão

Ao apostar em um cenário de otimismo irreal, equipe econômica deixou de se preparar para as dificuldades de 2021; ouça a discussão no novo episódio do podcast EXAME Política

Brasileiros aguardam em fila para receber segunda parcela do auxilio emergencial do governo durante a pandemia do novo coronavírus. (Bruna Prado/Getty Images)

Brasileiros aguardam em fila para receber segunda parcela do auxilio emergencial do governo durante a pandemia do novo coronavírus. (Bruna Prado/Getty Images)

FS

Fabiane Stefano

Publicado em 10 de abril de 2021 às 14h18.

Última atualização em 13 de abril de 2021 às 14h32.

Apesar de já estarmos no quarto mês de 2021, o Orçamento federal para este ano ainda é tema de discussão no país. Para acomodar um aumento de R$ 26,2 bilhões em emendas parlamentares, o governo federal cortou nessa proporção a estimativa de gastos como a Previdência, abono salarial e seguro-desemprego, que são obrigatórios - sem nenhuma garantia de que essa projeção se confirme. O malabarismo fiscal acabou por tornar o Orçamento aprovado no final de março inexequível, criando um impasse entre os Poderes..

Para a consultora econômica Zeina Latif, houve um erro crasso do governo ao ignorar os alertas de especialistas em relação à duração da pandemia - que, ao contrário do que previa a PEC emergencial aprovada no ano passado, claramente não se encerraria em dezembro de 2020. Ao apostar em um cenário de otimismo irreal, a equipe econômica deixou de se preparar para as dificuldades de 2021.

"Com uma crise dessa natureza, como não nos preparamos para 2021?", indagou a economista no último episódio do podcast EXAME Política, destacando que o Orçamento aprovado ignora as necessidades da população neste momento. "É um Orçamento desconectado das necessidades do país. Neste momento, as pessoas precisam ter o mínimo de socorro, assim como as empresas. No fundo, ele é um reflexo triste da má gestão da politica econômica e da má gestão da articulação politica."

Latif pontua ainda que a gestão fiscal temerária do governo já gera impactos macroeconômicos, como as altas da inflação, dos juros e do câmbio, e que a confusão do orçamento, somada à má avaliação do presidente na gestão da pandemia, mostram um lado positivo: que a sociedade está antenada no que acontece, e tem uma visão crítica.

A última pesquisa EXAME/IDEIA mostrou que, após um ano de pandemia, os brasileiros passaram a confiar mais no SUS e nos governos locais, ao mesmo tempo em que perderam confiança no governo federal - e reprovam sua atuação como nunca antes.

"Pela primeira vez, o Bolsonaro ultrapassou os 50% de avaliações ruim/péssimo, o que é muito difícil de ser revertido. E na avaliação da gestão da pandemia, ele tem 21% de ótimo/bom, o que eu estimo ser o piso da sua boa avaliação", explicou o pesquisador Maurício Moura, fundador do IDEIA.

Também no último episódio do EXAME Política, Moura discute os resultados da última pesquisa EXAME/IDEIA, que mostrou governadores e prefeitos melhor avaliados na gestão da pandemia do que o governo federal.

Para o parlamentar, é infinitamente melhor ter dinheiro no bolso para fazer as suas obras do que fazer parte do governo cuja aprovação está em queda, com a imagem muito abalada. Isso aumenta o desejo por emendas. A impressão que eu tenho é que, já que se está violando regras básicas das finanças públicas, o certo seria enviar outro Orçamento e começar tudo de novo.

Zeina Latif, consultora econômica

O podcast EXAME Política vai ao ar todas as sextas-feiras. Clique aqui para ver o canal no Spotify, ou siga em sua plataforma de áudio preferida, e não deixe de acompanhar os próximos programas.

 

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