Economia

Desaceleração do PIB e China tendem a escorar balança

São Paulo - O salto das importações restringiu o superávit comercial do Brasil, mas não ameaça colocar a balança no vermelho, principalmente após a decisão da China de permitir uma valorização gradual do iuan. Assim, com as vendas externas mantendo-se como fonte de dólares para o país nos próximos anos, a expectativa de que o […]

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.

São Paulo - O salto das importações restringiu o superávit comercial do Brasil, mas não ameaça colocar a balança no vermelho, principalmente após a decisão da China de permitir uma valorização gradual do iuan.

Assim, com as vendas externas mantendo-se como fonte de dólares para o país nos próximos anos, a expectativa de que o ingresso de capitais pressione a taxa de câmbio continua, segundo analistas.

No ano, até a terceira semana de junho, o superávit comercial está 40,3 por cento abaixo do registrado em igual período de 2009, em 7,394 bilhões de dólares. O número se deve ao crescimento de 44,1 por cento das importações no período, que ofusca a expansão de 28 por cento das exportações.

O fraco desempenho da balança comercial vem afetando as transações correntes do país --que, somente em maio, tiveram o maior déficit para o mês desde 2001.

O resultado tem relação direta com o robusto crescimento do país, já que a demanda doméstica por produtos externos está muito mais aquecida que a internacional por bens brasileiros.

Os analistas ponderam, no entanto, que a balança comercial não vai desandar justamente porque há perspectiva de desaceleração da atividade no Brasil e de alguma recuperação no cenário externo com o alívio da crise europeia.

"As commodities em geral vão continuar subindo num ritmo acima da média de todos os produtos que o Brasil compra", avaliou Bráulio Borges, economista da consultoria LCA.

A promessa da China de permitir uma flexibilização maior do iuan, anunciada no fim de semana, coincide nesse ponto. "Um iuan mais caro significa ao longo do tempo mais importações pela China", comentou Tony Volpon, estrategista do Nomura Securities, em relatório.   
 


Para o governo, no entanto, não seria um efeito muito rápido.

"Nós não estamos trabalhando com a perspectiva de uma valorização muito grande nem muito rápida do iuan", disse à Reuters o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Welber Barral.

"Não antevemos percentual grande (de aumento de consumo de commodities pela China) nos próximos meses".

A perspectiva de saldo comercial positivo, ainda que menor, é compartilhada pela maioria no mercado. O superávit em 2011 deve ser de 6 bilhões de dólares, segundo as estimativas compiladas pelo BC no relatório Focus.

Para 2010, o mercado espera superávit de 15,10 bilhões de dólares. O Banco Central informou nesta terça-feira que elevou sua previsão para 13 bilhões de dólares, acima da estimativa anterior de 10 bilhões de dólares.

Escudo contra a crise

O Brasil tem registrado superávits comerciais desde 2001, com um pico de 46,5 bilhões de dólares em 2006, segundo o ministério. Por vários anos, o superávit serviu como uma espécie de escudo contra turbulências externas. 


Mas essa função já não é tão essencial atualmente. "O Brasil hoje tem um volume de reservas bastante considerável", lembrou Marcelo Moura, professor de economia do Insper, em referência aos mais de 250 bilhões de dólares em reservas, ante 38 bilhões de dólares do início de 2003.

E, com a visão de que o país tem fundamentos mais sólidos, a chegada contínua de dólares se tornou um fator de valorização do real --outro incentivo às importações e alvo frequente de queixas do setor industrial, que perde competitividade em relação à concorrência global. 

Há alguns meses, operadores citaram a entrada de recursos como um dos fatores que impediu que o dólar superasse 1,90 real no momento de deterioração da crise na Europa. A moeda norte-americana era cotada perto de 1,77 real nesta terça-feira.

Quanto a isso, há pouco que o governo possa fazer, segundo Moura, do Insper. "Para mexer no câmbio, tem que mexer no seu sistema de metas de inflação... Mas o problema da inflação é mais importante que o problema dos exportadores", avaliou.

Investimentos

Também para José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), "a margem de manobra do governo hoje é praticamente nula".

"O que nós precisamos é fazer reformas de base. Precisamos de reforma tributária, custo financeiro menor, infra-estrutura", listou, logo após a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, há 10 dias.

Pode ser o caso então de ver o crescimento vertiginoso das importações, com destaque para bens de capital e intermediários, como uma oportunidade, e não como uma ameaça à indústria do país.

"Você está criando capacidade produtiva aqui dentro. Isso aumenta a competitividade no longo prazo e deve gerar até um incentivo às exportações no futuro", disse André Sacconato, economista da consultoria Tendências. 

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaChinaComércioComércio exteriorCrises em empresasIndicadores econômicosPIB

Mais de Economia

Estamos performando melhor, diz Haddad sobre descongelamento de R$ 1,7 bi do Orçamento

Free Flow: a revolução do transporte rodoviário no Brasil

Governo reduz contenção de despesas públicas de R$ 15 bi para R$ 13 bi e surpreende mercado

Benefícios tributários farão governo abrir mão de R$ 543 bi em receitas em 2025