Bandeira da China (Thomas Peter/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 24 de janeiro de 2022 às 15h17.
A economia chinesa cresceu 8,1% no ano passado, no que foi a maior alta desde 2011, quando avançou 9,6%. O desempenho, no entanto, pode não ser tão positivo quanto o número sugere e coloca o mercado em dúvida em relação ao futuro da segunda maior potência global.
O resultado tem relação com a base de comparação. Em 2020, quando adotou uma quarentena rígida para conter a covid-19, a China avançou apenas 2,2%, número mais baixo para o país desde 1977, e o Produto Interno Bruto (PIB) também perdeu vigor durante o ano. No último trimestre, a alta foi de 4% na comparação com o mesmo período de 2020. No primeiro, no segundo e no terceiro trimestres, o incremento havia sido de 18,3%, 7,9% e 4,9%, respectivamente.
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O freio era esperado e reflete as medidas que o governo de Xi Jinping adota para substituir o modelo de crescimento acelerado por outro mais sustentável. O objetivo é trocar, por exemplo, o foco do mercado externo pelo interno, implementar políticas para reduzir a emissão de gás carbônico e limitar a especulação imobiliária. O resultado no curto prazo dessa mudança de modelo econômico e o avanço da covid-19, no entanto, parecem ter preocupado Xi Jinping.
"O governo chinês estava preparado para a desaceleração e reconhece os riscos da disseminação da Ômicron, mas também está se preparando para que as reuniões de março (dois dos mais importantes congressos anuais do Partido Comunista) ocorram de forma tranquila", diz Larissa Wachholz, sócia da Vallya Participações, assessoria financeira com atuação no mercado chinês.
Entre as políticas adotadas até agora para estimular a economia estão a redução do compulsório bancário e da taxa básica de juros. Corte em taxas de empréstimo também têm sido anunciadas e em dezembro, o governo definiu de forma antecipada - e pouco usual - as cotas para emissão de títulos pelas municipalidades. "É um sinal de que o governo quer que (as cidades) gastem", diz o economista especializado em China Livio Ribeiro, do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre).
Ribeiro está entre os economistas que apostam que as novas medidas serão suficientes para segurar a desaceleração chinesa. Ele inclusive elevou sua previsão para 2022 de 4,8% para 5%. "O governo está deixando claro que vai ajudar o crescimento. A palavra da moda é 'estabilização do crescimento'. Será um ataque cirúrgico. Nada semelhante aos estímulos de 2009 e 2010, mas um ajuste fino", diz.
O economista destaca que, apesar da perda de ritmo no fim do ano passado, o PIB da China chegou a surpreender positivamente no último trimestre, ficando além das expectativas do mercado. O próprio Ibre projetava uma alta de 3,3% para o período.
Para 2022, Ribeiro espera que janeiro e fevereiro sejam mais fracos devido aos lockdowns que têm sido imposto para conter a covid. A economia, porém, deve ganhar um pouco de tração a partir de março, quando o resultado das medidas que vêm sendo anunciadas começará a ser percebido.
Diferentemente do Ibre, o Itaú Unibanco revisou suas projeções para a China para baixo: de 5,1% para 4,7%. O número é inferior ao que o governo de Xi Jinping deve anunciar, em março, como meta para 2022: algo entre 5% e 5,5%, segundo especialistas.
Economista do Itaú especializada em China, Laura Pitta afirma que as medidas econômicas de Xi Jinping são para "equilibrar pratinhos" e classifica o risco da Ômicron como grande. Laura destaca que ainda são necessárias medidas mais claras para a construção civil, um dos pilares da economia local. "O setor é crucial para a economia chinesa e nossa principal preocupação hoje é com ele", afirma Laura.