Economia

Desaceleração da China deve limitar inflação no atacado

Esfriamento da economia chinesa abranda os preços das commodities, o pode ajudar a equilibrar os efeitos da alta do dólar sobre a inflação no atacado


	Atacado: esfriamento da economia chinesa abranda os preços das commodities
 (Germano Lüders/EXAME)

Atacado: esfriamento da economia chinesa abranda os preços das commodities (Germano Lüders/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 17 de janeiro de 2016 às 08h24.

São Paulo - A desaceleração econômica na China, que abranda os preços das commodities, pode ajudar a equilibrar os efeitos da nova rodada de alta do dólar sobre a inflação no atacado, que capta com mais rapidez e de forma mais intensa os impactos cambiais. De acordo com analistas ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, o movimento surge como uma fonte para atenuar a já pressionada inflação de início de ano.

No entanto, os economistas ponderam que os reflexos nos Índices Gerais de Preços (IGPs) só devem aparecer com mais intensidade caso o comportamento mais suave nas matérias primas não seja transitório.

A expectativa é que tanto os preços de matérias-primas agrícolas como as industriais possam se beneficiar dos reflexos de arrefecimento na economia chinesa. Dentre os produtos agropecuários, os mais citados pelos analistas são grãos, como milho e soja, já que acabam por captar com maior velocidade os impactos do câmbio. Já entre os itens que integram a classe de industrializados, os economistas mencionam especialmente minério de ferro e artigos da cadeia química. Vale ainda lembrar dos efeitos indiretos que afetam, por exemplo, os in natura, especialmente a categoria de carnes, por meio da oscilação de preços de insumo, além de reflexos da oscilação nos preços de defensivos agrícolas.

Dentro dos IGPs, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) Industrial é o que deve refletir de maneira mais intensa o alívio das commodities, já que tem o maior peso, de cerca de 70% no IPA cheio. Já os preços agropecuários têm influência em torno de 30% no IPA. No total, o IPA - que mede a inflação no atacado - tem participação de 60% nos IGPs, enquanto o varejo pesa 30% e o INCC, que apura os preços na construção, contribui com 10%.

"Se este processo se consolidar, com as commodities em um patamar mais tranquilo, podemos observar os efeitos na cadeia petroquímica limitando os impactos da alta do dólar. Também pode ter impacto mais favorável na parte agrícola, que nesta época tendem a contar com um período mais favorável. É mais uma força a ajudar a contrabalançar a pressão do câmbio", avalia a economista Basiliki Litvac, da MCM Consultores.

No entanto, a especialista em inflação da MCM observa que os alimentos agrícolas voltaram a ficar em evidência na primeira leitura do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) de janeiro, que atingiu 0,41%, ante 0,44% em igual período de dezembro. O IPA Agropecuário, por sua vez, avançou para 1,08%, após 0,66%. "Deram uma puxada nesta prévia. Pode ser um movimento ligado ao câmbio, que se apreciou mais recentemente. Mas ainda é cedo tirar conclusões, é preciso esperar para ver como a cotação irá ficar", observa.

O analista econômico Márcio Milan, da Tendências Consultoria Integrada, considera bastante provável um abrandamento nos preços das commodities por causa da desaceleração na China e, consequentemente, um alívio nos IGS. "Mas só se isso se configurar uma tendência, e não uma volatilidade de curtíssimo prazo", pondera.

Na visão de Milan, minério de ferro e a parte de grãos são os produtos que mais devem se beneficiar com um prolongamento da perda de vigor do país asiático. "A China é muito importante para as exportações de grãos. Também tem uma demanda grande de minério. E esse movimento acaba por impactar toda a cadeia de aço, de metais e a demanda da indústria", avalia.

Por enquanto, Lucas Zaniboni, analista econômico da Garde Asset Management, é cauteloso em precisar os eventuais efeitos da situação chinesa sobre as matérias-primas e, na sequência, sobre os IGPs. Para ele, o câmbio ainda é um fator de risco para a inflação, mas acredita que a desvalorização expressiva de quase 50% de 2015 não se repetirá em 2016. "Em dezembro, o IPA Industrial teve deflação de 0,04%, uma queda mais rápida que a esperada. Segue em trajetória de baixa, ajudando a desinflar a inflação. Já tivemos uma nova rodada de alta do dólar, mas não deve ser tão elevada como no ano passado", estima.

A desvalorização cambial recente já deve estar refletindo sobre os preços agropecuários, diz Zaniboni. "Voltaram a acelerar. Tivemos problemas de safra que também afetaram o IPCA (dezembro), e a parte de alimentos voltou a subir em janeiro", afirma.

2016

Mesmo que o efeito China não ajude a mitigar a pressão sobre a inflação no atacado ao longo deste ano, os analistas não têm dúvida que os IGPs terminarão 2016 com uma taxa aquém da vista em 2015, que ficou perto de 11%. A economista Basiliki, da MCM, calcula, para o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), por exemplo, uma desaceleração para algo entre 7,00% e 7,50% este ano, após 10,54% em 2015. "Estimamos R$ 4,45 para o câmbio do fim do ano. Na ponta, significa uma alta de quase 15%. O IPC (Índice de Preços ao Consumidor) também deve desacelerar, mas ficará na faixa de 7%. Há vários fatores que indicam um ano um pouco mais tranquilo, mas ainda há incertezas", diz Basiliki.

Já a Tendências Consultoria ainda estima 6,30% para o IGP-M de 2016, mas deve alterar a projeção. "Pelos mesmos motivos pelos quais revisei o IPCA: inflação no varejo veio mais pressionada e o atacado também (2015). Ou seja, tem uma inércia pior, e temos também as expectativas de inflação que estão piorando", justifica.

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